quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sexo & comportamentalismo


Dois comportamentalistas acabam de fazer amor. O homem vira-se para a sua parceira e diz:
- Para ti foi excelente! E para mim?

(Informe-se sobre comportamentalismo, ou behaviorismo, aqui.)

Balanço muito imperfeito da actuação de Kofi Annan à frente da ONU


Kofi Annan termina hoje o seu mandato como Secretário Geral da ONU. Como não tenho um conhecimento completo e sistemático sobre tudo o que o diplomata ganês fez no seu cargo (sou daqueles que acha que devemos informar-nos exaustivamente sobre um assunto quando o temos de avaliar seriamente), apenas opinarei sobre aspectos concretos da sua actuação.
Das (várias) intervenções de Annan de que me recordo (por actos e por palavras), retive a imagem de um homem bem intencionado e comprometido com as causas humanas e humanitárias. Lutou pela paz no mundo e procurou, dentro das possibilidades do seu lugar, esbater as desigualdades entre os povos. Gostei de ver que não se revelou um homem de compromissos frouxos e que soube bater o pé ao Golias americano. Espero sinceramente que o petróleo (que naquele caso não foi para comprar alimentos) não manche a página que vai ocupar no grande livro da História.

terça-feira, dezembro 26, 2006

Salvem os gordos (II)


Como continuação do post anterior, que se centrava no plano de negar aos obesos a prioridade na assistência médica do Serviço Nacional de Saúde por, segundo o governo Blair, se tratar de "doentes com doenças 'auto-infligidas'", propomos um pacote de medidas governamentais que assumam que há responsabilidades de outros tipos de indivíduos nas doenças que se "auto-infligiram":
.Será negada aos políticos a prioridade no acesso aos psicólogos e psiquiatras.
.Será negada aos fumadores a prioridade no acesso aos pulmonologistas.
.Será negada aos tele-espectadores a prioridade no acesso aos oftalmologistas.
.O mesmo se aplica aos profissionais que trabalhem diante de um computador.
.Será negada aos contorcionistas a prioridade no acesso aos fisioterapeutas.
.Será negada aos escanções a prioridade no acesso aos estomatologistas.

Salvem os gordos! (ou a discriminação como mensagem natalícia)


Os portugueses ainda não se aperceberam bem do que é capaz esta terceira via socialista que tem influenciado políticos de centro-"esquerda" por todo o mundo. Dia após dia, os ingleses não param de se surpreender (negativamente) com as medidas anti-sociais (e pró-economicistas) do seu governo de esquerda fingida (lá dizem os ingleses: "beware of the wolf wearing sheep's clothing"). Nesta primeira página do Independent assistimos ao anúncio do plano do governo inglês de discriminar os obesos no acesso ao Serviço Nacional de Saúde. (O título e o subtítulos rezam assim: "Os obesos poderão ver negada a prioridade na assistência médica do Serviço Nacional de Saúde: Os doentes com doenças 'auto-infligidas' enfrentam discriminação"). Delicioso! Ou seja, o regime Blair quer com isto inculcar nos ingleses a ideia de que os obesos nos prejudicam economicamente a todos e que merecem ser discriminados. (Curiosamente, a regra não se aplica aos fumadores!) Para além da discriminação social, os gordos terão de enfrentar a discriminação institucional. Que bela mensagem natalícia de humanidade e tolerância.
Blair é irmão gémeo ideológico de Sócrates: ambos são filhos desta pseudo-esquerda realpolitik, agrilhoada à ditadura da Economia. Quando achamos que já assistimos ao mais feroz dos ataques ao Estado, aos deficientes (memento IRS), à educação, aos desprotegidos, estamos a iludir-nos. Temo, muito sinceramente, que nem conseguimos hoje imaginar as medidas que este PS tem ainda para nos oferecer. O que se passa em Inglaterra tem-me servido de farol ominoso para descortinar aquilo que pode vir a passar-se em Portugal.

segunda-feira, dezembro 25, 2006

Votos de um bom natal

Apesar de ser ateu-graças-a-deus, anti-consumista por falta de dinheiro e anti-parolada-burguesa e anti-fogo-de-artifício por mau feito, espero que tenham todos um natal à medida do que desejam: sereno, animado, santo, prendado, guloso... lo que sea! No fundo, que seja um natal à la carte.
Por mim, pelo menos vai dar para tirar a barriga de miséria.

domingo, dezembro 24, 2006

Contradições das subculturas (III): We don't play polo

Os meus dois posts anteriores sobre subculturas suscitaram comentários interessantes de Woman once a Bird, Flor dos Alpes, Ramon Llull e do nosso Xor Z. Como aqui no Tonel apreciamos a polémica e o debate, opto por responder em forma de post (i.e., com destaque) aos referidos comentários (centro-me nas objecções de fundo), que não me acompanhavam na contradição que apontei a ALGUMAS manifestação da cultura negra norte-americana. A questão partia de um vídeo de Sean ‘Diddy’ Combs, em que, defendia eu, o rapper se associava ao modo de vida e aos símbolos da classe média-alta branca, dominante e maioritariamente racista.
Volto aos fundamentos da contradição. A nossa identidade pessoal e social constrói-se em torno das nossas crenças, dos nossos valores, “da nossa relação imaginária com o mundo”. O nosso modo de vida, a forma como agimos, os símbolos que adoptamos e o que vestimos são expressões da nossa identidade. Logo, a subcultura afro-americana e, dentro desta, a contracultura rap dos jovens afro-americanos adoptaram comportamentos, atitudes, símbolos, numa palavra, um modo de vida que contesta a dominação da cultura branca hegemónica. No caso das contraculturas afro-americanas jovens (rap, hip hop, etc.), a recusa e a afronta aos modelos dominantes passa pela forma como se vestem, como se comportam, etc. Na maioria dos vídeos de música rap, encontramos marcas desta cultura alternativa, por exemplo, os músicos vestem-se de forma alternativa (roupa desportiva, camisolas com capuzes, vistosos colares dourados, etc.), usam penteados ousados e recorrem facilmente ao palavrão. Os referidos vídeos de Sean Diddy Combs navegam, pois, a contracorrente da "mundividência rap" dominante.
A opção, Xor Z, não era os negros vestirem tanga e viverem em cubatas. Mas veja nos meus exemplos como eles encontraram formas de se distinguir da cultura dominante. Recordo-me ainda de uma marca de roupa produzida por jovens afro-americanos que se intitulava “We don’t play polo”: o logotipo desconstruía o símbolo da Ralph Lauren, colocando-lhe um sinal de interdição por cima (reconstruí toscamente esse logotipo na imagem em epígrafe). Não podemos negar que há uma luta simbólica (Bourdieu) entre grupos sociais e que é pela rejeição dos símbolos dos outros que nos demarcamos do seu modo de vida: o Z e eu não nos vestimos como executivos porque desdenhamos essa corja; não usamos ao peito fios a simular as placas do exército americano; evitamos ir ao McDonald também por questões ideológicas, etc. etc. Sei que, no essencial, concorda com isto.
Para responder à Frau Edelweiss, uso o mesmo argumento mas com outros exemplos. Diz-me de forma trocista que, pela minha ordem de ideias, uma pessoa de direita não compraria cravos. Pois o seu exemplo cai em saco roto se tivermos em conta que, no 25 de Abril, os deputados da direita não envergam cravos na lapela. Está a ver? Isso é simbólico. Por razões análogas, um ex-aluno meu, que nascera a um de Maio, apenas foi registado no dia dois porque o pai não queria que o aniversário do rapaz caísse num “dia de comunistas”. Muitos, muitos outros exemplos podia dar.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

The Dresden Dolls - Girl Anachronism


Do caos nasce a harmonia; da dissintonia se faz melodia. Muito interessante este vídeo da banda americana, The Dresden Dolls, que mostra que no resistir é que está o ganho. (Nada "American way of life", garanto-vos.)
"Don't call the doctors..."

domingo, dezembro 17, 2006

Contradições das subculturas (I)

Estava eu no outro dia no ginásio - não frequento ginásios por burguesismo mas por questões de saúde - e, enquanto as minhas pernas e os meus braços descreviam enfadonhos movimentos elípticos, pus-me a olhar para a televisão, que estava sintonizada na MTV. Entre vídeos de mulheres louras com pouca roupa e africanos com capuzes enfiado na cabeça em dia de sol, demorei-me a interpretar os vídeo-clips de música rap e de hip hop. Vi com mais atenção os do rapper Sean John 'Diddy' Combs (na foto). E pus-me a pensar...
A música rap e o hip hop são ritmos produzidos pela subcultura dos jovens afro-americanos. Esta subcultura negra surge como contestação aos valores e ao domínio da hegemonia branca e como afirmação de uma identidade afro-americana alternativa. Pelo menos, assim foi pensada e as letras das músicas apontam nesse sentido.
No entanto, contestei com tristeza que alguns vídeos de rap e de hip hop (vários!) fazem a apologia do estilo de vida branco. Nos vídeos de Diddy, por exemplo, o rapper aparece em cena conduzindo carros desportivos italianos (Ferrari ou Lamborghini), usando fatos de fino corte (caros, certamente!) e gravatas a condizer. No pulso não traz as "correntes da segregação" de que falava Luther King mas a corrente de um Rolex. Conhece em discotecas chiques africanas que usam vestidos de noite chiques (Versace? Armani?) e leva-as para a sua casa sofiticada e chique. Aí bebem champanhe e ouvem a música emitida pelas colunas de uma aparelhagem do último modelo. Resumindo: temos condensados em quatro minutos os símbolos e valores da hegemonia branca well-off, endinheirada, de classe média-alta. Ora, estes deviam ser precisamente o modo de vida e os valores que a música rap e hip hop pretendiam combater. Mas, desta forma, não é isso o que acontece.
Lembro-me que os saudosos Sex Pistols também misturavam dois símbolos antagónicos nas capas dos seus álbuns: a "A" dos anarquistas e a suástica. Ligava-os um elemento comum: ambos eram símbolos de recusa, de contestação, de nihilismo cultural e político; ambos eram símbolos de revolta contra o sistema. Diddy e alguns rappers recorrem a símbolos do poder branco que oprime a sua raça: o champanhe, o Rolex, o Ferrari, o fato italiano. Talvez o façam porque achem que a ideia de estilo se constrói com artefactos da classe média-alta branca. Que engano! Que confusão ideológica!

Contradições das subculturas (II)


Nos balneários do ginásio estava um africano em tronco nu. Reparei que tinha tatuada no braço uma palavra escrita em letra gótica. O ginasta deve ter optado por este tipo de letra pela beleza do grafismo. Ignora certamente que as letras góticas eram a "letra oficial" do regime nazi e foram recuperadas pelos grupos neonazis, que combatem a presença de outras raças no espaço europeu. Como acontecia no post anterior, as suculturas caem nestas contradições inadvertidas. Neste caso, por pura falta de informação, creio.

sábado, dezembro 16, 2006

Hostilização, agressão, discriminação


Este cartaz diz tudo! A Ministra assume nestes termos a sua hostilidade aos professores. Tal revela, desde logo, a incompetência da governante. Um ministro não pode abrir guerra àqueles que tutela. Fazê-lo é incorrer num gravíssimo erro político, é assumir que se é incapaz de gerir (e de se relacionar com) aqueles que se tem a seu cargo.
O mais irónico e incongruente da situação reside, no entanto, no facto de a Ministra ser uma socióloga (socióloga doutorada!). Ora, um sociólogo é aquele que sabe que os vários sectores de uma sociedade têm de co-existir e relacionar-se em harmonia a fim de que a sociedade funcione, para que se atenuem e resolvam os conflitos e as tensões sociais. Um sociólogo trabalha para criar as boas condições para que os diferentes grupos sociais e sócio-profissionais desempenhem eficazmente o seu papel na comunidade; ele é um agente de resolução de conflitos que compreende e procura ter em conta e atender aos interesses e à satisfação das várias partes. Um sociólogo sabe que a crispação social, a hostilização entre grupos sociais (aqui, entre professores e a pais, entre a "população" e os docentes) é o cenário mais indesejável e aquele que conduz à tensão social e à descredibilização e à falência das instituições (aqui, da escola e do ensino). Pois é precisamente isto que a Ministra está a fazer! E, como socióloga, sabe que o está a fazer e tem de ter consciência das consequências que daqui advirão.
Quando ela largar a pasta, o ensino português e a Escola estarão mais descredibilizados que nunca. E quando a formação dos jovens está descredibilizada, o futuro de um país está comprometido. A Ministra fez dos professores os judeus do Portugal democrático.
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(As duas primeiras frases do poster são dos Ministérios da Educação Francês e Espanhol.)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

A publicidade ontem e hoje


A publicidade anda mesmo pelas ruas da amargura. A mediocridade e o humor imbecil tomaram conta desta área que move tantos milhões de euros. E quem faz os anúncios revela a sua impotência criativa e a sua ineficácia comunicativa. A publicidade é má e os criativos justificam-se dizendo que "é isto que o povo gosta" ou que o público-alvo do anúncio não alcançaria subtilezas mais elevadas. Que disparate! Que desculpa de mau pagador! Um exemplo: o imbecil anúncio da BMW com o Cocas destina-se a uma classe média-alta medianamente instruída. E o que lhe dão os criativos? Um anúncio com um trocadilho lorpa e sem piada alguma.
Deixo o lindíssimo cartaz que Alfons Mucha produziu para anunciar a peça de Musset. E digam-me lá o que é boa publicidade.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Pergunta talvez disparatada

Se o Chile fosse um dos principais produtores de petróleo do mundo será que Pinochet teria morrido tranquilamente na cama?

domingo, dezembro 10, 2006

Poesia (muito) concreta

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.....Suicídio, ou Descartes às avessas
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..Cogito
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.....................................................ergo
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...pum
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.........................José Paulo Paes
.........................poeta brasileiro





sábado, dezembro 09, 2006

Os dedos e a TLEBS



O pessoal do Tonel anda a escrever pouco. Creio que seja o trabalho que nos está a roubar o tempo para intervirmos neste fórum cívico. Falo por mim.
Ando a adiar alguns posts que já iniciei mentalmente mas que não passei ao teclado. Não sei se escreverei sobre a TLEBS, talvez sim... mas já me cansei um pouco da conversa. Claro que acho que a nova Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS) é um erro intempestivo, um instrumento mal concebido e inconsequente. Mas não me apetece agora argumentar a minha posição. Fico pelo cartoon dos Dedos. Os dedos são, de facto, um bom pretexto para falar da TLEBS porque esta me parece um exercício masturbatório dos linguistas, que há muito se sentiam arredados do ensino do Português. Foi, por assim dizer, um contra-ataque onânico que não fertilizará a didáctica da língua e da cultura maternas.
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O cartoon foi sacado, claro está, do brilhante blogue Foram-se os anéis.