domingo, abril 29, 2007

Os presuntos de Francisco Lousã


Na sua intervenção, na Assembleia da República, Francisco Lousã, a propósito da nomeação da Pina de Moura para testa-de-ferro da TVI, do grupo espanhol PRISA, ligado ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), divagava metaforicamente sobre os desejos do poder, comparando o poder a um lobo e a comunicação social a um porco. Assim, quando um lobo vê um porco, segundo Lousã, o que ele vê, de uma forma behaviorista, são dois presuntos. Tal é o desejo natural e intrínseco do lobo. Em suma, o poder tem sempre uma atracção irresistível pelo controlo da comunicação social. Curiosamente, a concentração do poder e as tentativas de manipulação e controlo da comunicação por parte deste governo não mereceram para Francisco Lousã o menor reparo, remetendo, assim, o assunto para a problemática da filosofia especulativa. No fundo, Lousã poderia ter simplesmente dito, aliás, o que seria o mesmo, com a vantagem de nos poupar a desagradável retórica: “É a vida …!” Afinal onde está o espírito crítico e combativo de Lousã dos tempos de Santana Lopes? A triste figura de Francisco Lousã na Assembleia da Republica, revelando-se, claramente, refém de Sócrates, recordou-me uma dirigente do BE que acompanhou Soares na sua campanha presidencial. Talvez ainda se lembrem de uma loira com um ar de plástico, nunca abriu a boca e tanto quanto se pôde ver apenas lá estava para enfeitar e dar um ar mais pseudojovem à taciturna e serôdia campanha de Soares. Lousã, no Parlamento revelou-se, de igual forma, uma oposição de plástico, um enfeite da “esquerda moderna”. A metáfora, ao estilo evangélico, do líder do BE mostra o nível de confusão da sua douta cabeça, ou talvez ainda pior, a cumplicidade do BE na política reaccionária, ultraconservadora e neoliberal da “esquerda moderna”. Com efeito, a metáfora de Lousã não teve qualquer efeito, sem o jeito nem a graça de outras épocas. Em vez de se dirigir ao perigoso projecto absolutista de Sócrates, isto é, disparar para o alvo, preferiu, pelo contrário, de forma muito consciente, disparar para o ar. Ao fim e ao cabo, para Lousã o tema era presuntos, sabe-se lá de que presuntos é que Lousã estaria a falar. Enfim, foi uma cena triste para a esquerda e mais triste foi ainda quando vimos um líder da direita, Paulo Portas, enfrentar Sócrates de forma resoluta e frontal.

Celebrações, rituais e incongruências


O mui católico e conservador Prusidente da República veio questionar-se (ou será que se veio questionar?) no dia 25 de Abril sobre a forma como o país anda a celebrar este dia de libertação. Segundo o ínclito magistrado, o primeiro da nação, as celebrações andarão a realizar-se em moldes que ameaçam esvaziar o sentido da evocação que elas pretendem fazer. Como cidadão para quem todos os dias 25 de Abril serão sempre plenos de sentido, questiono as intenções últimas das palavras de Cavaco Silva. Sabemos que o cavalheiro não se entusiasma torrencialmente com este dia... e terá as suas razões. O patético jogo de cintura de não levar um cravo na lapela mas de pôr uma gravata vermelha diz tudo. (Uso aqui o termo patético na sua ambivalência semântica: patético de ridículo mas também de pathos, pois aquilo para ele dever ter sido penosíssimo.) Não preciso de analisar este gesto de um simbolismo lorpa.

O ilusionista Paulo Portas aplaudiu as palavras do PR (ora então!?), acrescentando que as comemorações do Dia da Liberdade (expressão minha, não dele, claro!) estavam a ficar demasiado ritualistas e repetitivas. É curioso que estas duas apreciações venham da boca de dois políticos católicos e conservadores. QUANTA INCONGRUÊNCIA!!!

Cerimónia a esvaziar-se de sentido? Ritual e repetição? Porque não aplicam eles nos mesmos termos a questão relativamente à celebração dominical católica? Haverá comemoração mais ritualista e repetitiva do que uma missa católica? (… Já nem digo esvaziada de sentido para não ser acusado de anticlericalismo…) E TODAS AS CERIMÓNIAS POLÍTICAS O QUE SÃO? (Tomadas de posse, aberturas das legislaturas da AR, recepções, inúmeros tipos de protocolo, discursos da praxe, hastear da bandeira e o diabo a quatro.) Não será toda a vida política pautada pela ideia de ritual e de repetição? Quanta incoerência! Quanta areia lançada aos olhos, já por si míopes, dos portugueses.

Mas não. O Prusidente tinha que vir chuchar com o Dia da Liberdade. E chuchou e foi aplaudido e os comentadores políticos e os conservadores fizeram eco das suas palavras e… e… e… Por estas e por outras é que continuo a acreditar que Cavaco é para quem nele votou o Salazar possível para o regime democrático, que, ironicamente para ele, nasceu em… ABRIL!

sexta-feira, abril 27, 2007

Obviamente, demita-se!

"Carmona Rodrigues vai ao DIAP na próxima semana depor, como arguido, no âmbito das investigações sobre a permuta de terrenos do Parque Mayer, propriedade da Bragaparques, e da Feira Popular de Lisboa, da CML, negócio que se revelou ruinoso para a autarquia lisboeta". (Expresso on line, 27 de Abril).
Depois da atitude tomada face à candidatura de Isaltino de Morais e de ter imposto Carmona Rodrigues como candidato à CML, garantindo que se tratava de um homem em que o partido poderia confiar, só restará ao Presidente do PSD pedir a demissão.

quinta-feira, abril 26, 2007

Movimento, reflexão e caixeiros-viajantes

Eu sei que não vou dizer nada de novo! Tenho consciência que já Aristóteles leccionava peripatando (gostei deste patando) no seu Liceo. Mas, de qualquer forma, não posso deixar de atestar que o movimento impulsiona a reflexão. Pelo menos, é o que vou constatando pessoalmente, ao longo destes últimos meses, em que calcorreio os meus 600 Km semanais.
É verdade que é tudo em autoestrada, cuja monotonia não exige um elevado grau de concentração, porque já me soa nas campainhas auditivas um brado: mas como se pode pensar ou reflectir numa estrada montanheira plena de sinuosidades? É um facto, é um facto que nessas condições dificilmente se rumina adequadamente sem o risco de se ir parar ao cangalheiro. No entanto, a concentração não impede em absoluto a agilidade do pensamento e, por outro lado, a condição mais etérea da montanha pode funcionar como tónico.
A despeito de tudo isso, é no decorrer dessa cavalgada que deito contas à vida (não posso deixar de reparar no facto de se “deitar contas à vida”, o que parece reflectir o lado excessivamente materializante da nossa idiossincrasia, pois dá a ideia que a existência nos fica a dever dinheiro) e, por esse motivo, não posso deixar de dizer com frontalidade (onde é que você estava no 25 de Abril?), a viagem parece vir a calhar para a reflexão.
Uma última pergunta fica no ar: porque razão não existe nenhum grande pensador que tenha sido caixeiro-viajante? Será porque toda a actividade monocórdica nos cerceia a faculdade meditativa ou por outra qualquer razão que, neste momento, me escapa.

quarta-feira, abril 25, 2007

Saudações de Abril em tempo de democracia



Na nesga de tempo que me permite um trabalho que tenho entre mãos, venho aqui deixar as minhas entusiásticas e convictas...


Saudações de Abril!


E, no entanto...

Ouvi um resumo do discurso que o Presidente da República proferiu esta manhã na Assembleia da República. Veio-nos o primeiro magistrado da nação dizer que devíamos continuar a acreditar na democracia, que a democracia pode tornar-se uma palavra vazia e que os jovens têm de saber lutar por ela. Que engraçado! Fala-nos a peseta de democracia dois dias depois de defender que a Constutição Europeia (que tanto condicionará as nossas vidas a médio e longo prazo) não deve ser referendada. Por outras palavras, o PR crê que o povo português não deve ser chamado a dizer, democraticamente, o que pensa sobre tão séria questão, ou porque os portugueses nada sabem sobre o assunto ou porque se teme a resposta negativa. No segundo caso, a opinião do povo é indesejada. Por isso, é melhor não o sondar. QED.

Como dizia o outro: é preciso topete.

sexta-feira, abril 13, 2007

Projecto Tróia Resort por um canudo?

Ainda há pouco tempo, mais precisamente, em Setembro de 2005, o Senhor Primeiro-Ministro festejava, com pompa e circunstância, música e fogo-de-artifício, a implosão dos edifícios da Torralta, acompanhado pelo representante do capitalismo nacional, o engenheiro Belmiro de Azevedo. O mediatismo da cerimónia salientava a importância do significado do acontecimento e assegurava a construção do projecto Tróia Resort, um gigantesco investimento turístico - no valor de 320 milhões de euros - que estaria pronto em 2011. Porque se dava tanta relevância ao acontecimento como se fosse a coroação do rei da Inglaterra? Porque o acontecimento selava um pacto entre o poder político e o poder económico nacional.
A partir desse dia, o engenheiro Belmiro de Azevedo declarou-se explicitamente o maior apoiante de José Sócrates, líder incontestado da “esquerda moderna” e foi, ao mesmo tempo, catapultado para a estratosfera da política e da comunicação social.
Porém, no seu estatuto estratosférico, o Eng. Belmiro passou, mais tarde, a criticar a construção do aeroporto da OTA e o TGV, afirmando que os gastos sumptuosos do estado deveriam estar ao serviço de quem produz riqueza e, ainda, que lhe interessavam mais as boas linhas férreas, nomeadamente, de transporte de mercadorias para o escoamento dos seus produtos (Programa Prós e Contras – Canal 1). Ufano pelo pacto com o poder político, o Engenheiro Belmiro lançou uma Oferta Pública de Aquisição da PT Telecom. No fundo, tratava-se, então, de consubstanciar a convenção de Torralta. No entanto, a OPA teve o desfecho que todos nós sabemos porque:
em primeiro lugar, as contradições do capitalismo nacional são mais profundas do que se esperava, devido à dependência internacional desse mesmo capitalismo;
em segundo lugar, a classe política, sobretudo a governativa, oriunda da classe média baixa, não tem na sua génese nem na sua tradição qualquer identificação com os interesses do capitalismo nacional.
Entre o apoio ao capitalismo nacional e o apoio ao capitalismo do centro da União Europeia, o governo parece apostar no apoio a este último, enquanto que Marques Mendes parece colocar-se ao lado do primeiro. A proposta da descida do IVA e do IRC é claramente uma posição reveladora disso mesmo.
Não é por acaso que a credibilidade interna do governo, em geral, e do Primeiro-Ministro, em especial, diminui, dia após dia. O caso da Universidade Independente é um bom exemplo disso. Não me admirava que, um destes dias, uma qualquer Universidade alemã ou francesa, pouco prestigiada, lhe conferisse o grau de Doutor Honoris Causa.
Perante esta bipolarização, o PC e o BE preferiram hibernar. Curiosamente, Jerónimo de Sousa, que, até há pouco tempo, atacava explicitamente a construção da OTA e do TGV, optou recentemente, num comício do PC, por pedir ao governo que parasse para reflectir sobre a construção do aeroporto da OTA.
O caso da OTA obrigou também Paulo Portas a entrar na cena política mais cedo do que desejava, colocando em risco essa mesma rentrée.
Tudo indica que se avizinham tempos políticos muito interessantes!!!...

domingo, abril 01, 2007

O Papão Lusitano

O branqueamento da imagem de Salazar, a omissão das atrocidades do ditador, durante toda a campanha eleitoral, promovida pela televisão do estado, sob a égide da "esquerda moderna", merece uma profunda reflexão.
Pacheco Pereira tem razão quando diz que há um "salazarismo difuso" em quase todos os partidos, CDS, PS, PSD, PC. Este "salazarismo difuso" não é novo, existe, desde sempre, nas entranhas do regime democrático. Porém, entre esse "salazarismo difuso" e um "salazarismo assumido" vai uma grande distância. O que ganhará a TV do estado, de um estado socialista e centralizador, em promover a imagem do ditador? Claro que, nenhum partido, sobretudo, os partidos do "arco de poder", com responsabilidades internacionais, será tão estúpido que deseje colar-se ao cadáver do famigerado ditador e da sua defunta ideologia.
Curiosamente, na mesma semana em que Salazar "ganha as eleições" por uma esmagadora maioria de 200 mil votos (ou seja, de chamadas telefónicas que até podem ser feitas por meia dúzia de indivíduos) é publicitado na Rotunda do Marquês um gigantesco outdoor neofascista. Coincidências? Não, em política não há coincidências. Quem ganhará com a promoção do "Papão lusitano" (termo utilizado pelo dramaturgo marxista Peter Weiss, para designar o ditador Salazar)?
Em França a Senhora Royal tem descido nas sondagens a favor de Sarkosy. Contudo,desde que o fascista Le Pen vomita ódio, a subida nas sondagens da Senhora Royal é proporpocional à brutalidade revelada pelo fascista Le Pen. Não foi, assim, que a esquerda em França ofereceu o seu voto ao antifascista e grande democrata Chirac? Não foi assim que, em 84, o PC e a extrema esquerda ofereceram os seus votos a Mário Soares, impedindo o terrível fascista e ditador Freias do Amaral de chegar ao topo do estado?
Diz-se que o governo está reflectir sobre a legalidade ou a ilegalidade do cartaz da Rotunda do Marquês. Curiosamente, esse mesmo governo não teve, há pouco tempo, qualquer dúvida sobre a ilegalidade do passeio dos militares, esses cidadãos pacatos, ordeiros, ou sobre a ilegalidade da manifestação pacífica dos professores, na região autónoma da Madeira. Ao que parece, as eleições de 2009 já começaram e, pelo andar da carruagem, já poderemos adivinhar quem as vai ganhar.