Crítica a uma certa crítica literária
O assunto deste post não tem que ver directamente com o recente fogo cruzado que envolveu poetas e críticos sobre a questão das coutadas literárias. O problema é outro e não o vi denunciado.
Tenho encontrado em alguns periódicos (que consideraríamos “não especializados”) um tipo de crítica literária que muito pouco tem de crítica (a menos que nos refiramos ao seu estado clínico). São recensões de obras literárias e de traduções que, com o pretexto de se dirigirem a um público “generalista” (o que é isso de “público generalista”?), se dedicam a resumir a biografia do autor, a dar umas pinceladas sobre o conjunto da sua obra e a recordar aspectos contextuais avulsos. Depois, para o fim, lá aparecem umas banalidades rápidas sobre o livro em questão.
Tais textos pouco têm de crítica literária. Furtam-se a recensear, de facto, a obra em causa (a qual se suspeita que o recenseador não terá lido até ao fim) e não cumprem a sua função de dar conta das questões centrais do livro e do modo como são tratadas. Como não chamam a atenção para a forma como o texto se estrutura nem discutem as suas qualidades e o que ele traz de novo, não ajudam o leitor “não especializado” nem satisfazem o leitor que tem conhecimentos de literatura. O recenseador também não arrisca porque não arrelia ninguém – lá voltamos às amizades e às inimizades na comunidade literária.
O problema é se este tipo de crítica faz e escola.
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