O Erro de Antero
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Nas suas “Causas da decadência dos povos peninsulares…”, Antero aponta três explicações para a crise estrutural de que Portugal não consegue recuperar no século XIX. Segundo o pensador, a nossa decadência devia-se, então, ao Absolutismo do Antigo Regime, à influência asfixiante da Catolicismo da Contra-Reforma e, economicamente, ao facto de a nossa economia se basear na exploração das colónias. Três propostas apresentava Antero para ultrapassarmos esta situação: o pensamento livre e a tolerância religiosa, a ascensão política e económica da classe média e o desenvolvimento da indústria nacional. No século XIX, eram estas, de facto, as três medidas mais avisadas mas as que se implementaram tenuemente no século XX.
Antero não conseguiu prever – e daí o erro que deslealmente lhe apontei – que, no séculos XX e XXI, e apesar da tolerância religiosa, a Igreja Católica continuaria a ter a influência suficiente e o monopólio dos meios estatais que lhe permitiam continuar formatar a mente dos portugueses e, desta forma, a conseguir que o país se mantivesse a sua situação de nação mais atrasada do Ocidente. No Estado Novo, a Igreja foi mesmo o principal Aparelho Ideológico do Estado (cf. Althusser). A ela se deve, em grande parte, o conservadorismo autoritário que ainda hoje domina a sociedade portuguesa. Também não previu Antero que a classe média imporia um sistema capitalista de especulação e de exploração, um sistema individualista que não se revelou caminho para fazer de Portugal um país com mais justiça social, melhor qualidade de vida e uma cidadania mais sã. Não pôde o doutrinador da Geração de 70 antever que a classe média emburguesada e bronca afundaria ainda mais este “reino da estupidez” no lodo da acefalia existencial e cultural e do consumismo vão; nem que esta classe média investisse tanto a tentar recuperar uma hierarquia social, que é cruel para os desfavorecidos e para as minorias e contra a qual ela tinha lutado em 1820.
Antero não conseguiu prever – e daí o erro que deslealmente lhe apontei – que, no séculos XX e XXI, e apesar da tolerância religiosa, a Igreja Católica continuaria a ter a influência suficiente e o monopólio dos meios estatais que lhe permitiam continuar formatar a mente dos portugueses e, desta forma, a conseguir que o país se mantivesse a sua situação de nação mais atrasada do Ocidente. No Estado Novo, a Igreja foi mesmo o principal Aparelho Ideológico do Estado (cf. Althusser). A ela se deve, em grande parte, o conservadorismo autoritário que ainda hoje domina a sociedade portuguesa. Também não previu Antero que a classe média imporia um sistema capitalista de especulação e de exploração, um sistema individualista que não se revelou caminho para fazer de Portugal um país com mais justiça social, melhor qualidade de vida e uma cidadania mais sã. Não pôde o doutrinador da Geração de 70 antever que a classe média emburguesada e bronca afundaria ainda mais este “reino da estupidez” no lodo da acefalia existencial e cultural e do consumismo vão; nem que esta classe média investisse tanto a tentar recuperar uma hierarquia social, que é cruel para os desfavorecidos e para as minorias e contra a qual ela tinha lutado em 1820.
1 Comments:
Quanto à Igreja, não sei, mas em relação à classe média opulentada acho que sim. Olha o soneto depois da Comuna de Paris, "Tese e Antítese": "Já não sei o qu vale a nova ideia, / Quando a vejo nas ruas desgrenhada, / Torva no aspecto, à luz da barricada, / Como bacante após lúbrica ceia!"
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