Contradições das subculturas (II)
Nos balneários do ginásio estava um africano em tronco nu. Reparei que tinha tatuada no braço uma palavra escrita em letra gótica. O ginasta deve ter optado por este tipo de letra pela beleza do grafismo. Ignora certamente que as letras góticas eram a "letra oficial" do regime nazi e foram recuperadas pelos grupos neonazis, que combatem a presença de outras raças no espaço europeu. Como acontecia no post anterior, as suculturas caem nestas contradições inadvertidas. Neste caso, por pura falta de informação, creio.
10 Comments:
Ou então por um interessante mecanismo de provocação... Um abraço.
Caro Alexandre
Por muito que me custe tenho que alertá-lo para este seu "americanismo", porque é a essa cultura que devemos a identificação supracitada. A letra gótica, como sabe, tem uma história muito mais longa que o nº de assassinatos do regime nazi. Por tudo isto não posso concordar com o que aqui diz e não vejo mal nenhum de hebreu, negro, cigano ou comunista usar tatuagens em letra gótica. Não sei se viste o interessante programa sobre o Nostrodamus, por causa da letra gótica lembrei-me dele.
Caro Z:
Não vi o programa sobre Nostradamus, mas falaram-me nele. Parece que foi bastante interessante.
Quando ao seu comentário do meu "americanismo", tenho a dizer-lhe o seguinte. Claro que sei que a letra gótica é milenar. Embora não tenha estudado gótico, sei da história da sua criação pelo monge Ulfila, etc., etc. No entanto, a questão aqui é a questão da recepção e a da apropriação. (Lembra-se da conversa que tivemos com a Margarida na BN?) Pois bem, a letra gótica na cultura popular e nas subculturas pós 2ª Guerra Mundial entra pela mão do regime Nazi. Ela deixa praticamente de ser usada na Alemanha e é recuperada pelos movimentos Neo-Nazis. (Do mesmo modo, a cruz celta tem também uma conotação subcultural hoje bem diferente da original.) É assim que chega às subculturas e à cultura popular. Estou certo de que está de acordo. Daí que eu tenha dito que o regime Nazi, os Neo-nazis e os nacionalistas sirvam de mediadores culturais. As subculturas do final do séc. XX nada sabem sobre a origem nem sobre o percurso histórico deste alfabeto. Abastardam a intenção com que foi criado e apropriam-se ideologicamente dele. É isso.
Daí que, do mesmo modo que eu não usava uma t-shirt com a cara do Bush (ou com a bandeira americana, o M da MacDonald, ou o IHS dos jesuítas) estranho o facto de um africano usar uma tatuagem em letra gótica que, certamente, terá visto num contexto nacionalista. É que os símbolos culturais têm a sua história.
Um Abraço.
Também tenho alguma dificuldade em atribuir-lhe unica e exclusivamente essa conotação.
Um outro exemplo, a música de Wagner. Largamente usada e abusada pelo regime e, ainda assim, não consigo atribuir-lhe uma conotação pejorativa. Para mim, a sua beleza permanece incólume. Apesar do uso que lhe foi dado...
Caro Alexandre
Tal como lhe disse e a wob concorda comigo não temos que lhe atribuir esse significado. Ao aceitarmos tal facto estamos a ser coniventes com ele. Por essa razão um dia destes escrevo um post em letra gótica cujo título será: eu não sou nazi. Começa com ave (heil) e termina com a suástica, a cruz céltica, a música de Wagner (se eu soubesse pôr música) e uma citação de Nietzsche. Se me esqueci de alguma coisa diga.
Por outro lado, não entendo muito bem essa sua noção de subcultura que utiliza nos seus posts e no comentário infra.
Um abraço
PS Esqueci-me de lhe fazer uma pergunta. Se o negro usasse a letra gótica por ter tido conhecimento dela em textos antigos, a sua opinião manter-se-ia?
Então uma pessoa de direita nunca pode comprar cravos vermelhos para enfeitar a sua casa, é assim?
Caros amigos WoaB, Flor dos Alpes e Z:
Como estou cheio de trabalho (reuniões, relatórios, actas, revisão de provas de um livro, reuniões, preparação de um projecto, reuniões), apenas posso responder às vossas provocações na quinta-feira. Mas fico contente por os meus textinhos terem tido resposta. Nós aqui no Tonel gostamos da polémica e do abanão.
Abraço.
Os alemães, tal como os portugueses de hoje, estavam mal informados quando votaram no partido nacional-socialista alemão. Este governo socialista e esta comunicação social privada e estatizada de pretenso "serviço público" contribui para que o vazio político e ideológico se instale. Basta ver os congressos dos dois maiores partidos. Veja-se, por exemplo, o congresso último do PS, a apatia, a indiferença. Este terreno, em geral, é propício para a emergência de ditadorezinhos. Agora, que comemoramos os cem anos do nascimento de Hannah Arendt, convém recordar que nas "Origens do totalitarismo" é essa estupidificação, é esse vazio e essa imbicilidade política, uma das maiores causas da emergência do nazismo.
b
Os alemães, tal como os portugueses de hoje, estavam mal informados quando votaram no partido nacional-socialista alemão. Este governo socialista e esta comunicação social privada e estatizada de pretenso "serviço público" contribui para que o vazio político e ideológico se instale. Basta ver os congressos dos dois maiores partidos. Veja-se, por exemplo, o congresso último do PS, a apatia, a indiferença. Este terreno, em geral, é propício para a emergência de ditadorezinhos. Agora, que comemoramos os cem anos do nascimento de Hannah Arendt, convém recordar que nas "Origens do totalitarismo" é essa estupidificação, é esse vazio e essa imbicilidade política, uma das maiores causas da emergência do nazismo.
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