A Biblioteca Nacional
O segundo parágrafo do romance Possession, de A.S. Byatt, inicia-se com a seguinte frase: “The London Library was Roland’s favourite place”. Não sei bem o que é isso de “lugar preferido”, mas direi que a Biblioteca Nacional é um dos lugares onde mais gosto de estar e um dos que mais me deslumbra. Não pelo edifício em si, mas pela sensação de calma daquele espaço e pelas iguarias intelectuais que me servem à mesa. É formidável sentarmo-nos nas poltronas da sala de leitura, que, estando no centro da cidade, parece encontrar-se “fora do espaço e do tempo”. Foi aí que, na quarta-feira passada, me deslumbrei na leitura da edição de 1618 da Coronica de los Reis de España, de Jaime Bleda, experiência inolvidável.
Outra coisa me fascina também na BN. É que lá encontro amigos, colegas e conhecidos com quem é excelente conversar e com quem aprendo muito. Isso acontece com o Carlos “antropólogo”, a Margarida, o Paulo, o Agostinho e o Luís Augusto Costa Dias, entre outros. Às vezes encontro lá o Gianlucca, outras o Mário, outras ainda a Carina, quando vem do Algarve, ou a Helena, quando está em Portugal.
Há um último aspecto que me faz amar a Biblioteca Nacional. Cerca de um quarto dos funcionários (estimativa minha) são pessoas que têm algum tipo de deficiência (visual, motora, mental, ou outra) e que aí encontraram um espaço onde podem trabalhar e sentir integrados. Sem piedadezinha nem favor nenhum. Uns são jardineiros, outros trabalham na reprografia, outros ainda directamente com os livros. Aquece-me por dentro esta mobilização de indivíduos a quem são confiadas as tarefas que sabem e podem desempenhar. (Não creio que o sector privado empregaria tantos numa mesma instituição.) Esta vocação humanitária e cívica da BN é uma espécie de cereja no topo do bolo.
4 Comments:
Obrigado pela parte que me toca. É verdade que partilho grande parte dos teus sentimentos em relação a essa casa.
Paulo
Obrigada também pela minha parte. Só para acrescentar que esses empregados, bem como os outros, são na sua grande maioria de uma simpatia incontrolável, o que é raro encontrar no funcionalismo público.
Ah, e claro, há outra mais-valia democrática na BN, que é o facto de as ditas poltronas, situadas na varanda com vista para árvores, serem o espaço ideal e acessível para os fumadores, mesmo ao lado dos livros, e sem terem de agredir a saúde de outrem. Por outro lado, e enquanto fumadora mas respeitadora, julgo que o espaço do bar devia ser repensado, visto na prática os fumadores estarem pêle-mêle com outros investigadores de hábitos mais saudáveis. De resto, viva a BN.
Belo post, que subscrevo integralmente. Infelizmente, tenho andado afastado dela; espero, em breve, aí fazer umas incursões.
Apoiado! (aqui pelos vistos pensaste antes de escrever)
Enviar um comentário
<< Home