sexta-feira, abril 07, 2006

Fenomenologia blogueira

Existem certamente várias razões que fazem com que proliferem os blogues neste jardim (ou inferno, como queria Almada) à beira mar plantado. Uma das justificações, talvez a mais corriqueira, prende-se com o narcisismo próprio de cada escriba ou melhor, como vimos no blogcafé, dos “administradores” dos sítios que, autocratas em ponto minúsculo armados de uma prepotência feroz e arrogante, fazem e desfazem o trabalho dos outros. Este sentimento de poder, entre outros, que se enraíza no ego é, certamente, um poderoso catalizador desta profusão de ciber-escritores e ajuda a explicar uma série completa de fenómenos.
Um outro factor a ter em conta é a auto-estima. Escrever a sua laracha, o seu poemazinho (sem desprimor pelos ditos cujos que em alguns casos atingem níveis acima da mediania), a sua estória ou comentário a factos políticos, económicos ou sociais aumenta, por assim dizer, a alegria de viver e produz o jogo de espelho e sedução, que não tem necessariamente de ser erótica mas a maior parte das vezes o é, entre emissor e receptor e vice-versa.
Nesta ordem de ideias, tenha-se em conta a fenomenologia sociológica do condutor, enraizado na ideia de que “o meu carro é o meu castelo”. O blog é também a fortaleza onde o castelão se sente seguro da sua força e energia e na qual os efeitos penalizadores são sempre de carácter minimalista e as recompensas, ou reforços na linguagem skinneriana, podem ser múltiplas e variadas.
Depois, existem os blogues com funções específicas, dos quais destaco apenas, porque o meu conhecimento é muito limitado nesta matéria, os de engate que Porcelana Azul, segundo a tradução do Alexandre que é especialista na língua de Edmund Burke (curvo-me perante a sua ciência), no blog Sociedade Anónima, com a sua acutilância natural, espero que não seja artificial e se mantenha por muitos e bons anos, tão bem caracterizou.