domingo, janeiro 14, 2007

Areia para os olhos: os médicos e os proprietários das farmácias

No final da semana passada e já nesta, ouvimos representantes da classe médica e dos proprietários de famácias defenderem demagógica e mediocremente o seu repúdio por dois projectos legislativos governamentais, que, a serem implementados, prejudicariam, de facto, os privilégios feudais dos membros destes grupos profissionais.
No primeiro caso, a medida resume-se a exigir que os médicos piquem o ponto; ou seja, que prestem contas a quem lhes paga (o Estado, i.e., todos nós). Arguentaram os médicos que tal seria indigno para profissionais de tão distinto ofício. (Como, enquanto professor, tenho de picar o ponto hora a hora, já percebi a razão por que a dignidade da profissão docente anda pela lama.) Acrescentaram depois outro motivo para o sem-sentido da medida: no caso da actividades médica, e pelos seus contornos específicos, "picar o ponto não fazia sentido". Assim, ipsis uerbis e sem mais. Brilhante peça de argumentação! Na realidade, só pode haver um motivo para os médicos não quererem que as suas entradas ao serviço e as suas saídas sejam controladas; e este tem de ser os médicos não cumprirem os horários. Ora, em muitos casos tal acontece porque desempenham no sector privado funções profissionais cujos horários colidem com o horário de serviço no Estado. Que chatice!
Há uns dois ou três dias vieram os proprietários das farmácias contestar o projecto de medida do governo no sentido de liberalizar o negócio das farmácias. Se a legislação vai avante, qualquer cidadão poderá abrir um loja para vender medicamentos, direito que hoje apenas é usufruído pelos farmacêuticos. Advogam estes que é necessário que o dono de uma famácia seja um famacêutico, para poder aconselhar o cliente, dizem. Não basta que haja um responsável técnico permamente; o famacêutico tem de ser o dono. Se esta lógica pegasse, a dona de uma casa de alterne tinha de ser uma alternadeira e à frente de um restaurante tinham de estar um enólogo e um gastrónomo. O único aspecto positivo desta ideia é que nunca teríamos um engenheiro a liderar um governo.

1 Comments:

Blogger Edelweiss said...

E à frente de um lar de idosos, tinha de estar um velhote, de preferência com mais de 90 anos, para ter muita experiência.

10:41 da manhã  

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