Imbecilidade sem fronteiras
No blogue da senhora Edelweiss, pessoa cuja inteligência e bom senso muito aprecio (o presente post não a tem como alvo nem as críticas se destinam a ela!), li uma série de medidas avançadas por colégios estrangeiros para estimular as crianças para a leitura, para convidar os pais a participarem na vida escolar e para "ajudar os pais a ajudar os seus filhos". Todas as medidas me pareceram louváveis e dignas de serem seguidas aqui em Portugal (sempre achei que, na pedagogia, as boas ideias devem ser copiadas).
Li depois um conjunto de comentários de mamãzinhas burguesas, dondocas e mentalmente estéreis (mamãs galinhas lusas) que se horrorizavam com os esforços bem intencionados desse colégios. Perceberam de forma completamente errada as medidas do colégio porque não têm alcance mental para perceberem o que está por trás dessas medidas. Criticaram, indignaram-se, horrorizaram-se porque a instituição tentava que os seus alunos fossem melhores pessoas. Imagine-se o desaforo!
Este caso é apenas uma manifestação avulsa de um dos problemas do nosso país, cá dentro ou lá fora. Gerou-se uma classe média com algum dinheiro mas alcançadíssima de inteligência. Trata-se de uma espécie de novo-riquismo mental ou de uma imbecilidade orgulhosa de ser imbecil. É isto que faz de nós o povo mais atrasado do mundo ocindental.
12 Comments:
Alexandre, na verdade acho que a culpa foi minha: escrevi o post de uma maneira que fez com que elas achassem que eu era contra.
Sinceramente, acho que estava tudo na brincadeira. Digo eu.
Caro Alexandre, tomo a liberdade de comentar, já que sou uma dessas "mamãzinhas burguesas, dondocas e mentalmente estéreis" de que fala, portanto acho que tenho o direito a defender-me. De outro modo nem comentaria. E deixe-me que lhe diga que o problema de Portugal (de alguns portugueses, aliás) é outro: a necessidade de deitar por terra, enxovalhar, amesquinhar, enfim, reduzir a pó, tudo aquilo que sai dos seus parâmetros e do seu horizonte intelectual, ou tudo aquilo que não integram nem compreendem (porque nem se dão ao trabalho) do pensamento de outras pessoas. O problema de alguns portugueses (e tenho a certeza de que de muitas pessoas por esse mundo fora) é não conseguirem discutir um assunto que lhes diga respeito (um assunto emocionalmente significativo para eles) sem utilizarem observações e palavras ofensivas e menos felizes para aqueles que não partilham a sua opinião a 100%. São essas as pessoas que espezinham tudo o que é diferente, sem sequer tentarem argumentar racional e educadamente. É graças a elas que o mundo da argumentação e troca de ideias (que poderia gerar conhecimento, desenvolvimento, crescimento) não passa da cepa torta.
Escusado será dizer que essas pessoas se acham o máximo de inteligência, assim como o acham de todas aquelas que partilham o seu património de pérolas intelectuais. Já as outras, as que têm uma opinião diferente, ou que simplesmente discordam de algumas das suas argumentações eloquentes, não passam, segundo eles, de estéreis exemplos de imbecilidade. Realmente, são pródigas em raciocínios inteligentes e fundamentados, como se pode ver.
Tenho dito.
Papu, desculpe, mas gostava de perceber o que pensa do assunto abordado no dito post... Afinal, concorda com o TPC para pais ou não? Acha razoável ou um abuso por parte da escola? Faz sentido ou não faz? :)
Caro Alexandre, acho que te excedeste. Depois de ler os teus comentários deixados no blog da Edelweiss, senti vergonha de pertencer à mesma classe profissional que tu. Não é da forma como comentáste que vais dignificar os professores, bem pelo contrário.
Ao ler-te percebi que lamentas que nós, os portugueses, deitemos abaixo tudo o que é feito para tentar mudar o país, e que por isso não andamos para a frente. Em parte concordo contigo. Mas estiveste mal quando fizeste incidir esses comentários sobre a Papu. Primeiro, porque não correspondem àquilo que ela habitualmente transmite, basta dares-te ao trabalho de ler meia dúzia de postes do seu blog. Segundo, o que sabes tu da vida dos outros para supor que estão de férias o ano inteiro, ao contrário de ti que, ao que dizes, trabalhas Sábados e Domingos?
Já agora, acho que estás tremendamente enganado ao pensares que a Papu aprendeu a ler e escrever com a Margarida Rebelo Pinto. Mais uma vez, basta ler um pouco daquilo que escreve para concluir que não é verdade (sem ofensa para a MRP). Tomaria muita gente que se dedica à escrita neste país escrever tão bem e de forma tão clara como a Papu.
Há ainda que dar os parabéns à Edelweiss, pela forma habilidosa como lidou com tudo isto no seu blog.
Uma de cada vez.
Sr.ª Papu:
Então tudo o que tem a dizer em sua defesa é que eu a ofendi e que tenho a mania que sou inteligente. Só isso. Vejo que concorda então com tudo o resto que eu escrevi... ou ter-lhe-ão faltado a verve e os argumentos?
Olhe, eu não acho que as pessoas têm de ler Wittgenstein ou Deleuze para merecer o estatuto de ser humano. Critico, sim, aqueles que têm mente pequenina e mesquinha, os que egoisticamente não vêem além dos seus umbigos, os provincianos mentais. Isto nada tem a ver com ser intelectual (aliás, desprezo “intelectuais” na acepção que usou); tem a ver com termos a mente aberta, ser socialmente consciente; tem também a ver com trabalharmos para construir um mundo melhor. A minha mulher-a-dias, que mal foi à escola, é uma pessoa esclarecida e consciente. As pessoas que chafurdam nas revistas sociais, na telenovela e na bola não o são.
Não sou pessoa de consensos moles. O que a Sr.ª Papu chama ofensa é, no fundo, acutilância. Nesse caso, não fui eu que a ofendi mas a verdade. Por ela não respondo. E, olhe, esse conceito de boa educação de moral burguesa é outro cancrozinho da nossa sociedade. Há que criticar o que faz apodrecer a mente humana e o que prejudica o bem comum; a mesquinhez e a limitação mental de muitos portugueses estão nesse lote. Mas, se continua a achar que eu fui mal-educado por ser crítico, é mesmo melhor não ir ler as críticas que Gil Vicente, Camilo ou Eça fazem à sociedade lusa. Talvez se reveja nelas e terá de começar a dizer que o Gil, o Eça e o Camilo são uns malcriadões.
Volto a explicar o que esteve na base das minhas críticas. A senhora fez aquilo que muito portuguesinho faz: opinou disparatadamente sobre um assunto que desconhece mas sobre o qual se acha uma autoridade (quem é afinal o presunçoso?): o ensino e o processo educativo das escolas. Quando não conhecemos um assunto a fundo, devemos informar-nos sobre ele antes de o criticar. Por isso, eu não falo sobre a OTA ou sobre as decisões judiciais. E é assim que uma pessoa deve agir. É um mal muito portuguesinho aviltarmos o que não se conhece com fundamento.
Quem começou com a crítica ofensiva foi a senhora: escarrou imbecilmente no trabalho de quem leva a sério o que faz: neste caso, os professores. Nesse ponto, senti-me “ofendido” (pfff, eu lá me sinto ofendido com “amebices” dessas) e respondi-lhe. Não gostou? Eu também não gosto de ver carradas e carradas de néscios a opinar destrutivamente sobre o que não conhecem. No fundo eu é que me indigno por ver que a senhora acha que os professores são um asco em quem se pode escarrar; foi isso que fez inicialmente.
Sr.ª Kate:
Não falei apenas como professor, mas como pessoa preocupada com o estado mental do meu país e da mesquinhez dominante. Leia, se quiser, o comentário anterior para perceber as razões da minha resposta dura.
Também falei como professor que é ofendido (e vê os colegas serem ofendidos) diariamente com a imbecilidade de pais e da sociedade. Fui excessivo? Deixe-se de frouxidão. Umas verdades bem esfregadas na cara da mediocridade só fazem bem ao alvejado. Mas já percebi que a “colega” é daquelas que se deixa enxovalhar. Porque a maioria dos professores é assim é que a classe é arrastada pela lama. Acha bem que as mamãzinhas desautorizem aqueles que são os profissionais da área e que sabem o que fazem?
Não me faltam os argumentos, não. Simplesmente não vou discutir com quem não me respeita como pessoa. Não gosto de ofender nem de ser ofendida. Gosto de uma boa discussão, sim, e de uma boa polémica, mas sempre sem perder o respeito e a dignidade que a opinião alheia me merece. E isto, senhor Alexandre, não é nenhum conceito burguês. É uma questão de sensibilidade humana.
Com pessoas como o senhor, que apenas vomitam agressividade e arrogância, nem perco tempo a discutir. Já parou para ler as barbaridades que diz a meu respeito sem me conhecer de lado nenhum? Mas como sou bem educada, não podia deixar sem resposta a honra da dedicatória deste post. Assim, também lhe dedico o último post que publiquei no meu blog. Gentileza por gentileza...
E quanto ao Gil e ao Eça, conseguiam fazer uma coisa que pessoas como você nunca conseguirão: criticar com humor!!!
Caro Alexandre
Não tenho por hábito vindimar em vinha alheia, mas, por uma questão de amizade, digo-te que me pareceste um pouco excessivo em relação aos comentários, e daí a indignação, também de igual intensidade, da Papu. Com tudo isto, se calhar não me devia meter, mas agora já está. Por esse motivo, espero a retribuição da mesma franqueza se achares que fui eu a exceder-me.
Com os melhores cumprimentos a todos.
Fã nº 1, Xor Z, sou a sua fã nº 1 - quero um autógrafo!
Caro Z:
Começo por saudar com muito entusiasmo o seu regresso. Veja lá se encontra um tempinho para ir postando as suas ideias. A blogosfera nacional clama pela sua presença.
Claro que fez bem em dar-me uma arrochada verbal. Não andamos aqui para entrar em panegíricos mútuos. No entanto... não concordo consigo.
Não fui longe de mais. Como sabe, eu tenho a mania que estou numa cruzada pelo saneamento do português que se emburguesou após o 25 de Abril, que estupidificou mas que se dá ares de alguma coisa. Há que denunciar essa imbecilidade que é responsável por tantos males com que nos debatemos hoje: a discriminação dos desfavorecidos e dos párias, os desníveis sociais e económicos, a estupidez mental, a fuga ao fisco, etc., etc. Não vou andar com punhos de renda a tratar um assunto importantíssimo do Portugal actual. Se disto fiz uma das causas da minha vida, hei-de levá-la até às últimas consequências. "Lutaremos em cada rua, em cada casa".
Abraço.
Caro Alexandre
O que está em causa não são os seus princípios que são de louvar. O que está em causa é que a sua reacção não se justificava em face dos comentários (que li atentamente). Não é pela polémica, que essa até é boa, e já estou desejoso de voltar a ver o meu "velho amigo" Mariotte Júnior. Daqui lhe faço um apelo: Volta Mariotte que estás perdoado.
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