quinta-feira, março 01, 2007

Camões em "O Melhor Português de Sempre"


O conceito e o princípio estruturador do programa "O Melhor Português de Sempre" desagradam-me muito. Nem vale a pena explicar largamente porquê. Dou apenas um cheirinho: como se pode comparar dois poetas com um ditador e com o pai ideológico (fratricida) do Partido Comunista Português? Que disparate! E que idiotice é essa de existir o "Melhor Português de Sempre"? O conceito recorda-nos aquela ideia brilhantíssima que o Ministério da Educação propôs de eleger o melhor professor do país. Portugal parece aquelas criancinhas que passam a vida em comparações pueris do tipo: "o meu pai é melhor que o teu! A minha bicicleta é melhor que a tua!..."
Mas o programa desta série que ontem foi transmitido revelou-se muito bom. Centrou-se em Camões. O "advogado" do Príncipe dos poetas portugueses foi Helder Macedo. Prometia! E o ex-catedrático do Kings College foi interessantíssimo. Criticou o aproveitamento ideológico que se tem feito de Camões, denunciou o "Camões das cerimónias oficiais" e o antigo ensino de Os Lusíadas fundado na dissecação sintáctica. A abordagem que fez da obra do poeta quinhentista foi fascinante. Deu-nos um Camões apaixonado pela vida, pela literatura, pelo Amor e... pelas mulheres. Demonstrou que a veia sensualista e apaixonada de Camões - amando a Pátria mas também o Outro e o Distante - contribuiu para o tornar num poeta universal e num cantor da fraternidade entre os povos. Uma lição que Camões nos deixou, segundo Helder Macedo, foi que amar a vida e amar o Amor (as várias formas de amor) são um primeiro passo para esquecermos noções como preconceito, racismo, discriminação; são um passo para amarmos a Humanidade e para construirmos um mundo melhor.

2 Comments:

Blogger Edelweiss said...

Excelente análise! Espero sinceramente que não deixes o Tonel naufragar...

9:55 da manhã  
Blogger Ricardo António Alves said...

Foi um dos melhores programas da série, ou mesmo o melhor.

11:04 da tarde  

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