terça-feira, abril 08, 2008

“Lisboa, 8 de Abril de 1965”

[Visitando no Museu de Arte Antiga os Painéis atribuídos a Nuno Gonçalves]

« (…) Mas se a nacionalidade do seu autor é brumosa, que deslumbradora claridade portuguesa irradia da obra! (…) »

Miguel Torga, Diário, vol. X.

[Visitando o seu familiar miradoiro de S. Leonardo ( …proa de um navio de penedos, /A navegar num doce mar de mosto ) onde hoje gravados na pedra estes versos que o poeta lapidou no coração, dizia noutro ano: ]


S. Leonardo de Galafura, 8 de Abril de 1977

« O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da Natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta. »

Miguel Torga, Diário, vol XII.