“Travanca, Amarante, 30 de Março de 1980”
« Traçadas para deixar passar velozmente o progresso, as estradas de hoje cortam a direito, sempre a atalhar. E é por elas que obrigatoriamente, como os demais, galopo, a maior parte das vezes cheio de remorsos de deixar de lado o Portugal que sobretudo me interessa: o de raízes e vínculos. Há séculos desejoso de o surpreender também nestas paragens, e só agora o faço. Olhava de cima o vale onde se esconde, e seguia caminho, a maldizer a pressa do meu tempo. E o que perdi durante tantos anos sem ver e admirar ao natural uma das criações mais belas do nosso românico! Esta igreja de S. Salvador, acolhida ao seu torreão ameado, simbiose emblemática da cruz e da espada que fundaram a pátria primordial. Pátria a que em quase todo o resto do território apetece chamar mátria, pelo vigor feminino da sua fisionomia espiritual, mas que aqui, singularmente, é masculina no corpo e na alma. »
Miguel Torga, Diário, vol. XIII.
Miguel Torga, Diário, vol. XIII.
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