"Castro Laboreiro, 17 de Julho de 1976"
[Referindo-se à degradação da vida comunitária nesta terra minhota.]
« (…) Teimo, portanto, nestas visitas, mesmo que de progressivo desencanto. Tenho como verdade de fé que o homem há-de acabar por reagir contra a massificação planetária em que vai embarcado. A razão e o instinto hão-de acabar por dizer-lhe que todas as flores artificiais do nosso mundo plástico não valem um lírio dos campos, que todas as químicas laboratoriais não valem a fermentação dum carro de estrume, que todos os apitos imperativos do progresso não valem o som cordial dum chocalho. Nessa hora redentora, que não deve tardar – e, quanto mais tardar, pior -, estes santuários serão redescobertos, reconstruídos e dignificados. De aí que eu sofra mas não desanime a vê-los desmoronar. A minha esperança está nos alicerces. »
Miguel Torga, Diário, vol. XII.
Coimbra, 17 de Julho de 1979
« Perante o amorfismo da sua fé, doí-me como se a sua causa fosse minha.
- A Igreja deixou-se adormecer à sombra sedativa de um catecismo ético, esquecida de que a transgressão é que funda as religiões. Nem mesmo nestes tempos de ruptura se atreve a quebrar os selos do Apocalipse. Continua a debitar sermões moralizantes e piedosos, quando a alma humana lhe pede arrebatamentos onde se jogue por inteiro. E, à falta de um excesso de transcendência, eis-nos entregues a um excesso de imanência. O que agora apetece a todos é pecar, cada qual mais aflito por não atingir no pecado a beatitude.»
Miguel Torga, Diário, vol. XIII.
« (…) Teimo, portanto, nestas visitas, mesmo que de progressivo desencanto. Tenho como verdade de fé que o homem há-de acabar por reagir contra a massificação planetária em que vai embarcado. A razão e o instinto hão-de acabar por dizer-lhe que todas as flores artificiais do nosso mundo plástico não valem um lírio dos campos, que todas as químicas laboratoriais não valem a fermentação dum carro de estrume, que todos os apitos imperativos do progresso não valem o som cordial dum chocalho. Nessa hora redentora, que não deve tardar – e, quanto mais tardar, pior -, estes santuários serão redescobertos, reconstruídos e dignificados. De aí que eu sofra mas não desanime a vê-los desmoronar. A minha esperança está nos alicerces. »
Miguel Torga, Diário, vol. XII.
Coimbra, 17 de Julho de 1979
« Perante o amorfismo da sua fé, doí-me como se a sua causa fosse minha.
- A Igreja deixou-se adormecer à sombra sedativa de um catecismo ético, esquecida de que a transgressão é que funda as religiões. Nem mesmo nestes tempos de ruptura se atreve a quebrar os selos do Apocalipse. Continua a debitar sermões moralizantes e piedosos, quando a alma humana lhe pede arrebatamentos onde se jogue por inteiro. E, à falta de um excesso de transcendência, eis-nos entregues a um excesso de imanência. O que agora apetece a todos é pecar, cada qual mais aflito por não atingir no pecado a beatitude.»
Miguel Torga, Diário, vol. XIII.
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