As ideias erradas dos portugueses sobre o ensino e os professores
O tema em epígrafe dá pano para mangas (para mangas, para casacos, para calças e para vestir toda a população nacional); vou apenas deixar uma nota.
Numa escola de Helsínquia, o Primeiro-Ministro perguntou como funcionavam as aulas de substituição, que são, para este governo, a panaceia universal para o problema da falta de sucesso do sistema de ensino português (ver este post relacionado com o assunto). A resposta que o PM recebeu e que uma jornalista da TSF reproduziu com um tom ironicozinho e com uma farpazinha para os professores nacionais (talvez mesmo deturpando a informação ouvida), foi, grosso modo, a seguinte: naquela escola filandesa não havia aulas de substituição porque os docentes explicam bem a matéria logo à primeira (i.e., quando ela é leccionada pela primeira vez). Nesta resposta, o cu não bate com as calças: as aulas de substituição não são aulas de apoio, mas aulas em que um docente substitui o professor da turma que está a faltar. Adiante.
Comento apenas a farpazinha da senhora jornalista. Os resultados pouco satisfatórios do ensino português não se devem ao facto de os professores "explicarem mal". A ideia de que o bom professor é o que explica bem é uma ideia do passado. O paradigma hoje é outro! Hoje, os saberes contam muito, mas as competências contam tanto ou mais que aqueles. (Competências são a capacidade de um aluno compreender um texto que lê, escrever uma carta formal ou uma exposição, raciocinar matematicamente, resolver problemas de física, etc., etc. É isto que hoje é muito valorizado... e ainda bem!) Além disso, os professores de hoje têm uma preparação didáctica e materiais de ensino como nunca outros professores tiveram. (Ainda me recordo a ausência quase completa de didactismo nas minhas aulas de Português e de Filosofia do Secundário.) O problema é que não se podem fazer omeletes sem ovos. E os ovos que faltam não são apenas o desinteresse e a falta de seriedade e de trabalho da grande massa dos alunos (atenção, há muitos que são bons ou muito bons!) mas também a demissão dos pais do acompanhamento do percurso escolar e do incentivo cultural a dar aos seus filhos. (Muito mais havia para dizer sobre estas questões.)
(O quadro intitula-se "A Philosopher Lecturing with a Mechanical Planetary", e quem o pintou foi Joseph Wright of Derby - 1766, óleo sobre tela, 147,3 x 203,2 cm, Derby Museum and Art Gallery, Derby)
4 Comments:
Clap, clap, clap.
Não vou comentar o artigo, post dizem vocês, porque todos os comentários são inúteis perante determinadas alarvidades que essas flores de cheiro, os jornalistas e os da televisão em particular, produzem.
O meu intuito é comentar o luxo e a riqueza dum blog intitulado a barrica de Diógenes, o cão. Presumo que é a esse Diógenes que se referem. O tal que ao despojar-se de todas as mundanidades se revestiu duma barrica, ou tonel (que me parece muito fino também). Por essas razões estava à espera dum blog austero, não digo outra coisa para não exagerar, q.b. e sai-me isto. Devo confessar que estou desiludido.
Do seu amigo Z
Caro Z:
O nosso Diógenes é esse mesmo, e tenho de concordar com o seu reparo. Realmente há um constraste entre a filosofia de vida deste e a aparente sumptuosidade do blogue. Mas é só aparente. Em termos de atitude perante a vida (não me atrevo a dizer "filosofia de vida") somos que nem o filósofo "cínico" (o cão, como o Z disse e bem). Depois há o apontamento da lanterna em busca do "homem honesto".
Sempre a estimar a sua colaboração, convido-o a vir cá mais amiúde.
A(lexandre)
Tem razão A esqueci-me da lanterna que é também um dado precioso, embora não essencial na argumentação que desenvolvi. Fico à espera de mais posts, já me adaptei à linguagem.
Z
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