Diógenes e a 'diogenia' como atitude de vida
Resolvi desenterrar um excerpto da Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, onde podemos encontrar um antepassado do Diógenes deste blogue (o Diógenes do blogue não sou eu nem é o Alberto, embora seja um pouco de ambos). O rasgo queirosiano é memorável e vale mesmo a pena saboreá-lo. Neste excerto, o narrador da primeira parte da obra vai com um amigo, Teixeira de Azevedo (o nosso Diógenes), visitar Fradique.
"Fomos ambos ao Central, dias depois, no fundo de uma tipóia. Eu, engravatado em cetim, de gardénia ao peito. J. Teixeira de Azevedo, caracterizado de «Diógenes do século XIX», com um pavoroso cacete ponteado de ferro, chapéu braguês orlado de sebo, jaquetão encardido e remendado que lhe emprestara o criado; e grossos tamancos rurais!... Tudo isto arranjado com trabalho, com despesa, com intenso nojo, só para horrorizar Fradique – e diante desse homem de cepticismo e de luxo, altivamente afirmar, como democrata e como idealista, a grandeza moral do remendo do a filosófica austeridade da nódoa! Éramos assim em 1867!
(Eça de Queirós, A Correspondência de Fradique Mendes, ed. Helena Cidade Moura, Lisboa, Livros do Brasil, 1999[1900], p. 32.)
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