Por uma "Estória" de Portugal monga e medíocre
O jornal Expresso começou este semana a publicar uma série de livros com CDs nos quais se apresentam às crianças alguns dos reis de Portugal. Comprei o primeiro livro, sobre Afonso Henriques, e pasmei. Os desenhos de André Letria parecem interessantes a vários níveis; a narração de Bárbara Guimarães, nem por isso - mas não é esta que está aqui em causa. A minha análise e a minha avaliação incidem, sobretudo, sobre o texto.
O conteúdo é francamente mau. O texto procura mostrar Afonso Henriques na sua infância e na juventude como um menino e, mais tarde, um jovem igual a tantos outros, mas que se destaca pelo sonho, pela vontade e pelo empenho. Mas a mensagem é pobre e é-nos apresentada de forma medíocre e patética... sem arte. Outro problema é que, se este pretende ser um livro instrutivo, que ensine às crianças (tem de ser às crianças até aos 9 porque é demasiado infantil para se destinar a um público mais velho) alguma coisa sobre a História de Portugal, falha redondamente! Dá-se uma ideia redutora e pateta do que foi o crescimento de Afonso, do papel de Egas Moniz e da sua confrontação com a mãe. O que é mais surpreendente é que o livro termina no momento em que Afonso chega ao trono. Ora, a "obra" do nosso primeiro rei só aí começa. E a dimensão político-militar relevante é completamente ignorada. Conclusão: o livro não funciona como obra didáctica. Surpreende-me muitíssimo que tanta mediocridade seja apadrinhada pela Associação de Professores de História. Finalmente, há as cantigas lorpas, estilo festival da canção, que devem agradar aos seus compositores, mas não às crianças a quem se destinam.
Esta obra increve-se naquela ideia de que os conhecimentos se podem adquirir sempre de forma lúdica e sem esforço. Os mais básicos, talvez; mas só esses. Os mais complexos exigem o nosso empenho e a nossa luta corpo a corpo com os livros que no-los dão.
3 Comments:
Não vi a obra com muita atenção mas fiquei com a mesma ideia.
O pior é que o gajo se farta de matar mouros maus com uma espada incrivelmente desmesurada e fálica. Isto já pra não falar no monte sobranceiro onde se apeia.
LOL! Realmente! Passam estas mensagens subliminares às crianças e depois admiram-se que elas crescem "obsexed".
A do "monte sobranceiro onde se apeia" está "xelente".
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