A televisão é o ópio do povo ou uma palavra vale mil imagens
Já fez mais de uma centena de anos que Marx, para caracterizar o alheamento em que as classes trabalhadoras se encontravam da realidade social, apelidou a religião de ópio do povo. Para este autor a religião tinha um efeito anestésico sobre as consciências impelindo-as ao conformismo e à resignação. Além disso, a religião funcionava como um verdadeiro instrumento do poder, no sentido em que Bourdieu e Passeron classificaram a violência simbólica e as formas de inculcação de valores sociais “politicamente correctos” (leia-se, daquilo que os políticos acham correcto).
Ora bem, como se depreende pelo título, a minha tese é que a televisão ocupa, no final do século passado e início deste, o papel que o teórico comunista assacava à religião. Senão vejamos, não sei se já vos ocorreu que a moda dos telejornais em passarem “todas as desgraças do mundo” implica, implicitamente, a ideia da nossa própria felicidade que escapamos a esse cataclismo diário de “horrores” e, neste sentido, poderíamos afirmar com Pangloss (ou com Leibniz para os mais atentos) que “vivemos no melhor dos mundos possíveis”.
Por outro lado, a noção da televisão como “puro entretenimento” não aponta, exactamente, para o mesmo sentido. Não somos “adormecidos” quotidianamente pelas telenovelas, telefilmes, circos de “celebridades” (mas eu não conheço nenhum daqueles finórios!) e pantominas e, muito raramente, podemos ver um filme do qual podemos exclamar: “benza-te Deus” (aqui a noção religiosa é um mero recurso estilístico).
Já constataram que “a caixa que mudou o mundo” cada vez mais não nos fornece programas que, pela sua excelência ou pela sua oportunidade político-social, nos levem a reflectir sobre eles e, digamo-lo de passagem, os pretensos programas culturais ou de reflexão são tão maus que só nos apetece exclamar que venha o diabo e escolha.
Ora bem, como se depreende pelo título, a minha tese é que a televisão ocupa, no final do século passado e início deste, o papel que o teórico comunista assacava à religião. Senão vejamos, não sei se já vos ocorreu que a moda dos telejornais em passarem “todas as desgraças do mundo” implica, implicitamente, a ideia da nossa própria felicidade que escapamos a esse cataclismo diário de “horrores” e, neste sentido, poderíamos afirmar com Pangloss (ou com Leibniz para os mais atentos) que “vivemos no melhor dos mundos possíveis”.
Por outro lado, a noção da televisão como “puro entretenimento” não aponta, exactamente, para o mesmo sentido. Não somos “adormecidos” quotidianamente pelas telenovelas, telefilmes, circos de “celebridades” (mas eu não conheço nenhum daqueles finórios!) e pantominas e, muito raramente, podemos ver um filme do qual podemos exclamar: “benza-te Deus” (aqui a noção religiosa é um mero recurso estilístico).
Já constataram que “a caixa que mudou o mundo” cada vez mais não nos fornece programas que, pela sua excelência ou pela sua oportunidade político-social, nos levem a reflectir sobre eles e, digamo-lo de passagem, os pretensos programas culturais ou de reflexão são tão maus que só nos apetece exclamar que venha o diabo e escolha.
E para cúmulo ainda nos querem convencer que uma imagem vale mil palavras.
4 Comments:
A imagem empobrecida que nos passam reflecte a imagem que nós (enquanto destinatários) passamos ao fazedor. Uma questão de olho castrador... de palavras e de mentes.
Cara senhora ex-passáro não tenho a certeza de conseguir atingir toda a significação das suas duas afirmações. Talvez a falha seja minha, se não se importar de "trocar por miúdos"
Peço desculpa por não ter sido mais clara.
O meu objectivo era o seguinte:
Vivemos sob a ditadura do olhar... uma ditadura que devolve o olhar castrador. Do mesmo modo que o fazedor de imagens, ou melhor o controlador de imagens (no caso televisivas) nos brinda com mediocridade, na verdade nós devolvemos o olhar - ao aceitarmos e pedirmos por mais mediocridade. Vivemos em época de ciclo vicioso, em que o imediato/fácil/pobre é sempre o mais rentável. Daí que considere que a cultura do olho (o visual é absolutamente abrangente - televisão, fotografia, cinema, etc) é castradora de tudo o resto. Quando se impõe a força da imagem (porque imediata e aparentemente fácil) em oposição à palavra.
Não sei se consegui ser esclarecedora quanto ao meu primeiro comentário.
Sim, sim e tem toda a razão. Agora vejo que devia ter percebido!
Enviar um comentário
<< Home