Neocolonialismo inconsciente e provinciano (perdoem-me o pleonasmo!)
Ouço hoje na TSF que "milhares de timorenses" receberam em festa a chegada dos GNR. A notícia é dada por um jornalista ensopado em orgulho pátrio. Ontem, na RTP, um oficial da instituição antecipava que os militares da GNR iriam ter uma recepção efusiva na sua chegada a Timor.
Espero, genuinamente, que os operacionais portugueses venham a desempenhar um papel útil e que contribuam para trazer a paz e a ordem ao território. No entanto, tenho de denunciar a atitude neocolonialista primária que ainda faz escola nos media nacionais e que continua a reproduzir-se na sociedade portuguesa. Gostamos de ver as nossas ex-colónias a precisar de nós e a agradecer-nos encarecidamente pela nossa ajuda. É uma forma de acharmos que o colonialismo fez sentido e de sonharmos que ainda (?) somos queridos nessas paragens. Nesta linha de raciocínio, lá nos enchemos de orgulho quando a língua portuguesa foi consagrada como uma das línguas oficiais de Timor; lá nos ufanamos quando ouvimos que os timorenses se mantiveram fiéis ao Catolicismo. Que alarvidade é não perceber que os novos Estados, que emergiram da descolonização, estão vocacionados para seguir o seu caminho autónomo. E o que mais custa é constatar que este neocolonialismo é produto da miopia mental e advém da falta de consciência (auto)crítica da maioria. Será que a herança do salazarismo se está mesmo a entranhar no código genético nacional?
Neste sentimento patriótico dominante, sonhamos que ainda podemos ter uma função messiânica no mundo, mas em miniatura, claro. Sonhamos também que somos a nação que sabe fazer a ponte entre povos e culturas. (É significativo que a queiramos fazer lá fora, mas não cá dentro!) Assim nos iludimos e nos enganamos.
(Quadro: Rubens, Entrada triunfal de Henry IV em Paris.)
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