domingo, julho 16, 2006

Ainda o Menino Imperativo

Tinha pensado fazer isto em forma de comentário, mas, pensando melhor, achei que podia abrir aqui uma outra via de discussão tecendo estes comentários em novo post.
Nesta ordem de ideias, talvez fosse interessante uma análise daquilo que aparece. Em primeiro lugar, trata-se claramente dum corpo de formas femininas o que, de certa forma, contraria o título "menino". O autor pode ter querido, aqui, dar um passo antinómico ou paradoxal, conduzindo-nos num sentido visualmente e noutro através das palavras. É uma questão que tem de ficar em aberto.
Por outro lado, se repararmos para a forma arredondada da barriga talvez sejamos levados a pensar que existe, dentro dela, um feto (trata-se duma mera hipótese) que, sem dúvida, ajudaria a explicar o título: menino imperativo, porque imperiosamente há-de despontar e, paulatinamente, há-de demonstrar a sua imperatividade.
Em segundo lugar, a cabeça em forma de búzio num apelo evidente à potência marítima (passo a expressão porque, provavelmente ninguém sabe o que significa e eu também não). O mar é, sempre, na nossa cultura portuguesa um imperativo. Convém, ainda, notar a abertura apontando para a parte superior. Este facto dispensa qualquer comentário, ainda mais quando o associamos à posição, postadas no degrau imediatamente inferior ao búzio, e à simbologia das velas.
A posição “firme e hirta” a que o Alexandre chamou a atenção poderão simbolizar a determinação mas, também, a imperiosidade da figura.
De notar que a vestimenta do tronco, que parece um fato de ginasta, não combina com a dos membros inferiores criando a mesma duplicidade do corpo feminino e do título masculino.
PS – que me seja desculpado o desconforto de procurar a figura mais abaixo.

12 Comments:

Blogger Woman Once a Bird said...

Muito interessante. Tem piada, que não lhe havia vislumbrado qualquer traço de feminilidade.

1:31 da manhã  
Blogger Xor Z said...

Não. O tronco e as ancas parecem-me profundamente femininas.

1:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E já agora!
já repararam que as velas servirão, tão-só, para "alumiar" as palavras "Colóquio" e "Artes" apostas no canto superior direito, e que com um mero sopro se apagariam (as velas, claro!) e o quadro seria como a tela cinematográfica daquele grande realizador português que sacou umas "maçaróquitas" ao erário público e só deu "música em fundo negro".
A arte dá-nos as fabulosas asas da imaginação. Obrigado à arte e aos seus "artistas".
Como tudo seria diferente se as velas estivessem apagadas...

2:06 da manhã  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

É curioso que três pessoas tenham sugerido que a figura retratada é feminina. A leitura perece-me válida. E se nos lembrarmos que se trata de uma peça surrealista, mais legitimidade ganha a leitura. A ideia da "imperatividade" do nascimento do feto parece-me muito interessante. Do mesmo modo avalio a interpretação do búzio e da posição hirta da figura.

7:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A gravidez dá ideia de continuidade, o prolongamento... "um futuro grávido" (Li isto em qualquer parte!!)
abraço, helena

1:41 da tarde  
Blogger intruso said...

curioso, quanto mais penso/vejo a obra mais tendo a concordar com esta visão (XOR Z)... que aliás tentei exprimir no meu ultimo comentário ao "desafio" do A.D.Pinto...
uma figura feminina, grávida (daí o titulo... e a "imperatividade" do feto/menino...)
quanto ao búzio, não sei... não "concordo" completamente com o significado atribuido por XOR Z, pois não consigo deixar de imaginar o feto ou o menino ou outra coisa/ser qualquer por nascer a sair pelo búzio, que é a cabeça (unico buraco existente no volume-corpo fechado)
parir um ser que é uma ideia e um ser ao mesmo tempo.

9:39 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

E eu acho a sua interpretação bastante válida e bem concebida, Intruso.

10:35 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Confesso que só agora vi os últimos comentários da peça, inclusive o do Alexandre. Tenho um terrível defeito: acho todas as interpretações boas e, se tivesse de decidir, não sei qual escolheria. Isso leva-me a replicar ao intruso que aquilo que diz pode conciliar-se com o que digo e, ao limite, é possível compaginar todas as leituras. De facto, caro intruso, eu tentei reduzir a metafísica ao mínimo e, por essa razão, não quis entrar em grandes especulações, limitando-me a sublinhar a "aspiração" do búzio e das velas. Como sabe é o barulho do nosso próprio ouvido que ouvimos no búzio e daqui toda a legitimidade de análises psicanalíticas: o ser humano e o seu interior. Isto já vai lonfo, fico por aqui.

11:46 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Gosto da ideia do "futuro grávido", cara Helena, é uma imagem visual extremamente rica.

11:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

...ou melhor, grávido do futuro!
avraço helena

4:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

credo! digo abraço

4:03 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Neste caso a ordem dos factores parece-me arbitrária. É a imagem que é relevante.

9:36 da tarde  

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