Mariotte Júnior
Tendo recebido um e-mail da parte de Mariotte Jr., na caixa de correio da Barrica, vou, embora sem autorização prévia, postá-lo neste blog para que não afirmem, acintosamente, que nós não damos voz aos nossos contraditores. Caso o caríssimo filho espiritual do Padre Amadeu de Vasconcelos tenha alguma objecção séria a esta publicação comprometo-me, apenas com a demora indispensável, a apagar esta exposição e os comentários que, entretanto, forem produzidos acerca dela.
Depois deste esclarecimento prévio vamos, então, às palavras de Mariotte Jr. que aparecerão devidamente aspadas.
“Tem você publicado uma dose dupla de comentários sobre filosofia e direita e, que eu saiba se exceptuarmos as palavras de Lamúrias Jr., ainda lhe não foi dada uma resposta cabal. Por esse motivo vou, embora de forma particular, procurar responder às questões que levanta nos seus artigos.
A sua tese principal é que a direita não tem base ideológica, filosófica chama-lhe você. Ora bem, você mesmo enumera no primeiro artigo um conjunto de denominados “contra-revolucionários” que “botaram obra”. A Nação Portuguesa que também já foi aludida tem um conjunto de artigos de António Sardinha intitulados “Os Mestres da Contra-revolução”, continuados depois, embora com menos brilho, por Fernando de Campos (se não me falha a memória). Nestes aparecem bem claros os princípios ideológicos que, duma maneira ou de outra, vão encorpar a filosofia da direita.
Em segundo lugar desenvolveu uma nova tese em que asseverava que a tradição enformava toda a base ideológica, ou como você quer filosófica, da direita. E que mal tem isso? Não fez a escola histórica do direito uma doutrina baseada nos usos e costumes dos povos e nações. Não teve esta escola ampla repercussão ao nível histórico, filosófico, sociológico, etc.
Penso que, desta forma, respondo às suas objecções maiores à falha de ideias (digo ideias porque penso que é isso que se trata) que apoquenta a direita segundo a sua perspectiva.”
Depois deste esclarecimento prévio vamos, então, às palavras de Mariotte Jr. que aparecerão devidamente aspadas.
“Tem você publicado uma dose dupla de comentários sobre filosofia e direita e, que eu saiba se exceptuarmos as palavras de Lamúrias Jr., ainda lhe não foi dada uma resposta cabal. Por esse motivo vou, embora de forma particular, procurar responder às questões que levanta nos seus artigos.
A sua tese principal é que a direita não tem base ideológica, filosófica chama-lhe você. Ora bem, você mesmo enumera no primeiro artigo um conjunto de denominados “contra-revolucionários” que “botaram obra”. A Nação Portuguesa que também já foi aludida tem um conjunto de artigos de António Sardinha intitulados “Os Mestres da Contra-revolução”, continuados depois, embora com menos brilho, por Fernando de Campos (se não me falha a memória). Nestes aparecem bem claros os princípios ideológicos que, duma maneira ou de outra, vão encorpar a filosofia da direita.
Em segundo lugar desenvolveu uma nova tese em que asseverava que a tradição enformava toda a base ideológica, ou como você quer filosófica, da direita. E que mal tem isso? Não fez a escola histórica do direito uma doutrina baseada nos usos e costumes dos povos e nações. Não teve esta escola ampla repercussão ao nível histórico, filosófico, sociológico, etc.
Penso que, desta forma, respondo às suas objecções maiores à falha de ideias (digo ideias porque penso que é isso que se trata) que apoquenta a direita segundo a sua perspectiva.”
9 Comments:
Caro Senhor Z
Estava à espera da sua resposta e fiquei bastante surpreendido por esta sua atitude. Tratava-se duma mensagem particular e, por essa razão, nunca pensei que fizesse isto. Porém, não me parece necessário apagar aquilo que fez e fico à espera da sua resposta.
"I have noticed one interesting difference between rightists and leftists when it comes to blogging and, for that matter, debate and discussions: on the right there is a lot of debate and discussion, on the left this is not so true".
Muslihoon
[http://muslihoon.wordpress.com/2006/06/22/right-vs-left-debate-and-monolithicity/]
... is "Of South Asian descent, American citizen by birth, and a college graduate, I study religions and languages as a hobby. I was born a Muslim but left Islam in 10th grade. Since then I converted to Christianity. I am unapologetically a Zionist, Jewophile, patriotic, hawkish, opinionated, and with regard to international relations a systemist" (whatever that means...).
Para mais elementos acerca do debate Esquerda versus Direita ver este artigo da Wikipedia [http://en.wikipedia.org/wiki/Left-right_politics], que avisa logo de início que pode não ser inteiramente neutro.
Mas será isso um defeito?
Miguel A.
Caso tenham dificuldades de definição face ao tema -- parece que é o zeitgeist contemporâneo -- aqui fica o World's Smallest Political Quiz [http://www.theadvocates.org/quiz.html], muito semelhante àquele Teste ideológico que aqui foi postado recentemente pelo Alexandre ( talvez um pouco mais simplista, mas cheio de links interessantes...)
Miguel A.
Caro Miguel A, que afinal eu conhecia:
O artigo que sugeres é muito interessante. Os anteriores também. Ainda não deu para ir ver o teste.
Caro Mariotte e caro Z:
Ui, ui, ui, que vamos ter sangue e discussão no Tonel. Isto promete. E o tema agrada-me.
Caro Mariotte:
Tenho de concordar consigo numa coisa. Não sendo bezerro dessa manada, aceito que a tradição e a ideia de reacção não são os dois únicos pilares da direita contemporânea. (O Xor Z estava apenas a sintetizar no curto espaço de um post.) Creio que há dois traços que caracterizam a nova direita e que foram já insinuados. O primeiro é o cinismo, a atitude indiferente e desdenhosamente conformista em relação às questões sociais e àqueles que sofrem. O segundo, o agudo sentido de pragmatismo político (Realpolitik), que se traduz na ideia de que os valores e os princípios podem de ser suspensos sempre que são um obstáculo os interesses das classes e estruturas dominantes.
Um abraço a todos
Caro Miguel
Uma vez mais obrigado pelas suas indicações. Da mesma forma agradeço ao Alexandre as suas achegas. Quanto ao cinismo não podemos falar muito (Antistines e Diógenes dixit), embora eu saiba ao que você se refere. Quanto à realpolitik ela estava, duma maneira ou doutra, englobada na classificação de pragmatismo, porém no sentido de "esperteza saloia" (não sei se me faço entender), no sentido da adequação às situações reais (e temos de confessar que, e é uma ilação que se pode extrair do que afirmo, a direita é mais realista e a esquerda mais éterea). Quanto à sua inferência acerca desse facto: é isso precisamente o que quero provar. Isto já vai longo e ainda tenho de responder ao descendente do eclesiástico. É melhor ser noutro espaço.
Caro Mariotte
Em primeiro lugar tenho que confessar que foi, de facto, pouco cortês lhe ter chamado padreco. Do facto as minhas desculpas.
Quanto ao que afirma devo dizer o seguinte: é inegável que Sardinha tentou procurar precursores ideológicos em personalidades como Antero, Oliveira Martins, Comte ou Teófilo Braga e resgatou os contra-revolucionários oitocentistas, mas isso era já uma tentativa de procurar fontes ideológicas que escasseavam e fez, porque era um homem brilhante, um trabalho ingente. Mas veja, por exemplo, as obras de Reis Torgal (Tradicionalismo e Contra-revolução e Zília O. Castro (História das Ideias Políticas) e chegará à mesma conclusão que eu. Em relação ao Campos partilho a sua opinião.
Acerca da escola histórica, obliterando o facto de Savigny e Puchta serem verdadeiros filósofos, o que eles pretendiam era filtrar (uso esta expressão à falta de melhor) o direito segundo os usos e costumes, pertendiam fornecer uma nova base de "recrutamento" (perdõem-me a expressão)à ciência jurídica: era uma nova filosofia e com ela o ressurgimento dos direitos nacionais. A razão da sua difusão deixo-a à inteligência dos leitores que não teram necessidade de ajuda, certamente, pois todos terão dois dedos de filosofia segundo a quantidade que ela é distribuída neste nosso rectângulo ocidental.
Por último, agradou-me o facto de não ter ficado chateado com a atitude que tomei de postar as suas opiniões.
Caro Senhor Z
Em primeiro lugar aceito as suas desculpas.
Seguidamente, vejo que me concede duas coisas que, no meu entender, são essenciais:
1- que é possível arrebanhar uma ideologia de direita como fez Sardinha.
2- que é possível fundar uma doutrina nos usos e costumes.
Caro Mariotte Jr.
A segunda tenho de conceder pois um dos meus argumentos baseia-se precisamente na busca de ideologia através da tradição. Quanto à primeira assim seria se Sardinha não treslesse tanto. Veja, por exemplo, o que Catroga diz da interpretação que Sardinha faz de Antero ou a que eu próprio analisei sobre Krause. Depois, antecipando um seu possível argumento, fazendo "história às arrecuas" é sempre possível encontrar antecedentes.
Krause? Quem é Krause?
Diz que Sardinha tresleu mas não mostra onde se diz isso. Ter-me concedido a segunda já é obra.
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