terça-feira, julho 18, 2006

Desafio à interpretação: "Menino Imperativo"


O desafio de interpretar a escultura Menino Imperativo, de Vespeira, excedeu as nossas expectativas. Os resultados, que foram excelentes e muito thought-provoiking, podem ser lidos aqui e aqui. Convidam-se os leitores a continuar a propor interpretações para a peça ou a comentar as análises já avançadas. As leituras da escultura a que os leitores do blogue chegaram foram variadas. Um vêem o Menino Imperativo como uma representação de D. Sebastião ou de Portugal; outros não vêem um menino, mas uma menia, com ou sem menino lá dentro; alguns excitaram-se com a forma vaginal do búzio; outros deitaram-se a adivinhar que o búzio estava lá para o escultor não ter de criar uma cabeça. Mas, na verdade, todas as interpretações se revelaram interessantes e válidas! Foi excelente. Para a semana contamos lançar o segundo desafio à interpretação.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Num país obcecado pela pedofilia (na inversa razão da real preocupação com a condição da infância, mormente no que aos maus tratos e deficientes condições de vida diz respeito), esta tua última síntese, Alex, diz tudo:

É de facto um menino, suficiente desenvolvido nas formas para estimular olhares gulosos, mas ainda claramente impúbere -- isto é, em perfeitas condições de traficabilidade...

A sugestão vulvar do búzio em lugar da cabeça denota, primeiro, a sua condição de não indíviduo pela ausência do seu atributo principal, o rosto, como convém a um objecto sexual, segundo, a sua disponibilidade para o disfrute libidinal, assinalada exactamente na zona onde a pornografia contemporânea coloca o fulcro da sua acção.

Dois detalhes, que hoje parecem algo anacrónicos, remetem para uma época ainda relativamente recente, mas que é caracterizada por uma sexualidade radicalmente diversa: o traje e as velas.

O menino está em trajes menores, passe a redundância, à excepção das botas, que apontam correspondências sado-masoquistas, vagamente victorianas, perfeitamente de acordo com o sentido geral da peça.

As velas, de conotações religiosas incontestáveis, assinalam o caracter sacrificial deste (não-)sujeito, cujo corpo é de facto o altar do seu próprio sacrifício.

Venha, pois, de lá, a primeira pedra...

Miguel A.

11:26 da manhã  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Excelente! Está brilhante a análise! Se seguir a tua linha de interpretação freudiana (com um cheirinho de Foucault), diria que a vela é uma representação do 'phalos'. Consequentemente, a vela acesa pode ser vista como uma representação do desejo e a cera como uma alusão ao esperma (esta ideia não é minha; via-a numa interpretação do Drácula de Stoker).
Demorou a sair, mas foi torrencial a análise. Agora vejo as conotações sexuais da figura. Tom of Finland não conseguiria fazer melhor. E tendo em conta que o Surrealismo explorava ao máximo as questões freudianas e eróticas, está a tua leitura coerente com as ideias do artista.

11:44 da manhã  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Adenda: e a ausência dos membros superiores alude à excitação provocada pela amputação do corpo desejado ou pela sua deformação nas práticas S&M.

P.S. Não confundir S&M com M&M; o prazer despertado por um e outro não se assemelha.

11:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

De facto, ocorreu-me, depois de postar, o ter deixado de fora esse aspecto que para mim era, a ausência de braços como sinal da passividade do objecto...

Há quem diga que todas as trocas verdadeiramente estimulantes se baseiam na degradação do objecto do desejo, seja ele qual for (espécie de "California Concept" para a sexualidade actual).

Miguel A.

12:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Peço desculpa por o meu comentário não ter a ver com a figura, mas gostava de enviar um mail para o tonel e não tenho conseguido. Porquê?

12:56 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Realmente não sei se há algum problema com a nossa caixa postal electrónica. Creio que não. Ainda hoje recebemos um mail e a capacidade está apenas a 10%.

Sem saber do que se trata, e esperando que não se trate de publicidade, repito aqui o endereço como forma de conformação:
toneldiogenes@hotmail.com

Se não conseguir para aqui enviar o seu mail, diga-nos que nós disponibilizaremos outro endereço electrónico.

1:28 da tarde  
Blogger Xor Z said...

A sua interpretação, caro Miguel, é muito bem vista. Como já disse uma interpretação psicanalítica da figura seria muito interessante, não haverá por aí um analista?

10:54 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

9:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Uma última achega: Menino Imperativo porquê? Quiçá mais porque é imperativo o desejo do mais forte e não tanto porque impere, de facto, o menino -- muito embora todos os meninos sejam de facto imperativos, pela soberania do egoísmo infantil. Além disso, como o demonstra à saciedade a obra de Buñuel, ao objecto do desejo corresponde também um modo particular de poder, apesar da sua passividade...

E, Alex, acho perfeitamente justificada e mesmo convergente a referência stokeriana sobre velas, cera e esperma.

Ao caro Xor Z devo confessar que a infinita regressão psicanalítica é campo onde tenho dificuldade em sustentar-me, embora naturalmente agradeça o encómio.

Fica-se por aqui, subscrevendo-se, o pornógrafo,

Miguel A.

9:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Pois...eu já disse o que penso desta imagem que no fundo me incomoda e não sei porquê.
Talvez demasiado agressiva,
limitada de movimento...o que me faz realmente confusão.

...mas venho deixar um abraço
e um até breve Alex.
Beijos meus.

10:52 da tarde  
Blogger intruso said...

...bem interessante estas discussões/interpretações na blogosfera...
arte em discussão! :)

fico à espera do próximo desafio!

abraço

1:20 da manhã  

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