segunda-feira, março 05, 2007

Fenomenologia do "passou bem"

Freud ao tentar penetrar a idiossincrasia do ser humano esqueceu-se dum importante indicador que, na nossa modesta opinião, é o mais significativo de todos. Não podemos, nem queremos, obliterar a importância que têm os sonhos, os actos falhados, a associação de ideias, etc., na prospecção das profundas da consciência. Porém, nada nos indica com mais acuidade a personalidade de determinado indivíduo do que a forma como ele nos aperta a mão.
Neste sentido, temos que o cumprimento vai da chamada “mão mole” até ao aperto decidido (chamo-lhe assim à falta de melhor termo), através dum variado número de graus. Convém, desde já, chamar a atenção para não confundir o “passou bem” decidido com o aperto de mão com força, pois, como mais à frente veremos, são espécies diferentes.
Antes de entrarmos na análise das diferentes índoles anunciadas, temos que ter em conta a distância a que o aperto de mão é dado. Nessa ordem de ideias, a problemática das distâncias sociais não nos parece despicienda, e, por esse motivo, dois indivíduos de sexo diferente no primeiro contacto têm tendência a um maior afastamento.
Em relação ao “passou bem” de “mão mole”, o qual, diga-se de passagem, me irrita solenemente, ele pode ter dois significados antagónicos: ou revela o desinteresse e falta de incentivo em face de outrem; ou revela a demasiada importância em que o sujeito se tem a si próprio, estendendo a mão ao outro. Neste último caso, este cumprimento é mais sinal de “beija-mão” e como só se beijava a mão às personalidades eminentes (reis, nobres, eclesiásticos, determinadas donzelas às quais os galãs, em sinal de cortesia, osculavam uma das terminações dos membros superiores, etc.), logo, QED.
Nesta nossa análise do fenómeno é imperioso explicitar que: 1 – existe um aperto de mão decidido nos dois sexos, embora com características diferentes; 2 – o aperto de mão com força parece-nos ser sinal de uma de duas coisas: ou vontade de afirmação em face do sujeito apertado; ou uma deficiência de carácter que se pretende mascarar (em nenhum dos casos deve ser usado em manobras afectivo-sexuais).
Ainda no mesmo sentido, o aperto de mão entre dois indivíduos que têm interesses comuns, sendo esse facto reconhecido mutuamente, tem uma intensidade particular. Do mesmo modo, dois sujeitos que se sentem atraídos (sendo aqui a atracção tomada no sentido mais lato possível) também apertam a mão de modo específico. Qualquer destes tipos pode entrar na categoria do “passou bem” decidido e, neste momento, se fosse um “psicólogo sério” exibiria uma quadro ilustrativo das intensidade, nos dois sexos, do “passou bem” decidido. Como não sou, cito o final da última proposição do Tratado Lógico-filosófico de Wittgenstein: “acerca daquilo de que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio”.

4 Comments:

Blogger Edelweiss said...

Xor Z, um grande "passou bem" para si, forte e decidido em doses certas. Não há dúvida, eu adoro os seus posts.

11:48 da tarde  
Blogger Woman Once a Bird said...

Faço meu o aperto de mão da Edelweiss!

2:54 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Agradeço a ambas as vossas gentis palavras e a si, cara beleza alpina, mais aquelas que me deixou no post do Alexandre. Tenho gostado muito do seu blog, embora não tenha, ainda, deixado qualquer comentário.
Os meus melhores cumprimentos para ambas

6:03 da tarde  
Blogger Edelweiss said...

Xor Z, mas que honra saber que lê o meu blog cor de rosa!

5:53 da tarde  

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