quinta-feira, junho 28, 2007

Afinal, o "engenheiro" Sócrates evacua com muita dificuldade

Continuando a minha demanda de tentar decifrar a idiossincrasia humana através de pequenas coisas corriqueiras, encontrei um texto com mais de 200 anos que vou transcrever sem me preocupar em citar o autor, pois os seus direitos caducaram. Se algum dos meus 8 leitores, mais curioso, quiser saber a proveniência dos textos, encontro-me ao seu dispor.
A questão era qual a pulsão primordial que rege o comportamento humano? Os respondentes eram três filósofos que estando “mais alegres no fim do repasto, o que sempre acontece nos jantares de filósofos” ensaiaram a réplica à aludida questão. Não vamos citar as respostas dos três pensadores, pois, ao contrário do que pensava Descartes, o bom senso não é a coisa mais bem distribuída do mundo, apenas a do mais sensato que apôs que a motivação de todas as condutas humanas se devem à latrina.
Depois de fazer a relação entre o quilo, a corrente sanguínea e o cérebro atesta: “que acontece pois com o homem que sofre de prisão de ventre? Os elementos mais ténues e delicados dos seus excrementos se misturam ao quilo nas veias de Azellius, passam à veia porta e ao reservatório de Pecquet. Vão para a subclávia, entram no coração do homem mais cortês e da mulher mais fina. É uma poeira de excremento ressacado que percorre todo o corpo. Se esta matéria inunda os parênquimas, os vasos e as glândulas dum atrabiliário, o seu mau humor transforma-se em ferocidade; o branco dos olhos fica de um sombrio ardente; os lábios cerram-se; o rosto apresenta-se manchado; o seu aspecto é ameaçador. Se se trata de um ministro de Estado, é preciso evitar apresentar-lhe então qualquer requerimento; qualquer folha de papel, em tais momentos, ele a considera apenas como objecto de que gostaria de servir-se em certas circunstâncias”. Mais à frente lança: “isto é mais importante do que se pensa. A prisão de ventre produziu por vezes as cenas mais sangrentas. Meu avô, que morreu com cem anos, era boticário de Cromwell; e contou-me que Cromwell não evacuava havia oito dias, na ocasião em que deu ordem de cortar a cabeça do rei. Todos os que conhecem um pouco a política continental sabem que o duque de Guise, o Cara Marcada, era frequentemente aconselhado a não irritar Henrique III no Inverno, quando soprava o vento nordeste. É que esse monarca só evacuava com extrema dificuldade nessas ocasiões. As matérias subiam-lhe à cabeça e ele era então capaz de todas as violências. O duque de Guise não atendeu a tão salutar conselho e o resultado foi que seu irmão, e ele próprio, foram assassinados. Carlos IX, seu predecessor, era o homem mais ressacado do reino. Os condutos do seu cólon e do seu recto andavam de tal modo obstruídos que o sangue chegava a porejar-lhe na pele. Sabe-se de sobra que esse temperamento adusto foi uma das causas principais da matança de São Bartolomeu. Ao contrário, as pessoas que têm boa disposição, as entranhas macias, o colédoco desembaraçado, o movimento peristáltico fácil e regular, e que de manhã cedo, logo após a primeira refeição, expelem o supérfluo intestinal com a mesma facilidade com que cospem, essas pessoas, verdadeiros favoritos da natureza, são tranquilas, afáveis, graciosas, corteses, compadecidas e obsequiosas. Um não da parte deles é mais agradável do que um sim dito por um sujeito que sofre de prisão de ventre”.

4 Comments:

Blogger Raimundo_Lulio said...

Caro XOR Z,

Se passarmos em revista todo o executivo, desde a Sr- Ministra da Educação ao Sr. Ministro da Saúde, verificamos que todos sofrem da mesma maleita.

12:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Esperemos que o ingenheiro não leia isto ressacado dos eflúvios do gusano cloacal, se não o Xor Z arrisca-se a cair na latrina judicial.

(O contoleiro de serviço Vital Moreira já excrementou aviso de que os blogueiros não estão acoutados das justiças.)

10:14 da tarde  
Blogger Pedro Isidoro said...

O texto voltaireano é muito engraçado e "ridendo castigat mores", dizia-se da comédia. Mas neste assunto os comediantes estão no palco político, e até os mais panglossianos espectadores se sentem já aziados. Pode figurar-se uma farsada, mas os efeitos são de tragédia: a começar pelo exponencial aumento do consumo de anti-depressivos.

Há dois comparsas protagonistas na peça.

Um, que faz de primeiro-ministro é um a que o povo chama Socras, e muito bem, para não deitar sombra sobre o nome insigne dum... futebolista brasileiro. O outro, mais discreto mas não menos cheio de si,abre de vez em quando a boca para eructar vacuidades e faz de presidente da república. Quando fazia o papel de primeiro, abriu a boca uma vez para anunciar aos povos que "tinha um sonho para Portugal". E qual era? Pois "aumentar em 15 por cento o PIB nos cinco anos seguintes"!...

A dois figurões deste peso interno bruto as graças aladas dum Voltaire ou dum Diógenes não afectam, que as não entendem. O que merecem é toda a colecção dos bengalões ferrados do nosso Camilo.

O Xor Z, o amigo Lúlio e Alexandre forte não desistam de lutar pelo que resta de livre expressão e dignidade cívica nesta miseranda subregião europeia a que os farsantes bem gostariam que se chamasse toda e só "Allgarve".

10:12 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Caro Pedro, desculpe o tardio da resposta que vai no sentido de constatar que conhece o texto que cito, já o conhecia e identificou-o? Do outro figurão que dizer se ele se tornou no homem da cana verde, no pior sentido da palavra, como o seu conterrâneo Teixeira Gomes, embora o 1º não intervém porque não quer e este último não intervinha porque não podia.
As bengaladas parecem-me uma boa solução.
Caro anónimo, cair na latrina judicial é sempre um problema, mas talvez aumentassem, como no caso do outro, as nossas audiências. Por outro lado, é sempre possível alegar que o texto é de Jean Marie Aruet.

12:03 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home