O relatório da Comissão do Livro Branco para a revisão do Código de Trabalho
Li as notícias que hoje saíram sobre o relatório da Comissão do Livro Branco para a revisão do Código de Trabalho e fiquei muito preocupado. Pretende-se facilitar o processo de despedimento, prevê-se a versatilidade das funções do trabalhador, propõe-se uma louca manipulação do horário laboral. Preocupa-me muito a ideia ambígua de versatilidade no trabalho, que se encontra no espírito das recomendações da Comissão. Versatilidade significa aqui que o trabalhador pode ser tratado como um objecto e não como um sujeito: é o sonho capitalista de que uma empresa pode colocar qualquer dos seus empregados a trabalhar em qualquer lugar do mundo, a trabalhar as horas que a empresa exigir e a desempenhar as funções que a empresa determinar (independentemente da função para que foi contratado). Ah, e todas estas propostas são encimadas pela inevitável constatação de que os salários têm de diminuir, pois claro!
Para além de ser líquido que estas recomendações vão ser altamente desfavoráveis para aqueles que trabalham por contra de outrem, sobretudo no sector privado, elas levam mais além uma tendência asquerosa deste capitalismo desumano: a profunda desvalorização do trabalho humano. Se o Homem encontra sentidos e se realiza através daquilo que cria, a dignificação do seu trabalho é fundamental no cumprimento da sua condição humana. Ora, não me restam dúvidas de que o capitalismo, a economia e a empresa (e posso também acrescentar os governos) conspiram para combater a dignificação do trabalho. Mas até as razões desta conspiração são nojentas. Valorizar o trabalho significaria pagar mais por ele, dar melhores condições para a sua realização, dignificar o trabalhador que o realiza. E isso enfraqueceria, segundo eles, o espírito e as leis de mercado.
Solução: procura-se reduzir a civilização ocidental à dimensão económica e subalternizar (se não mesmo esvaziar) as mais importantes dimensões da actividade humana: a vida social, a cultura, as tradições, a relação do homem com a natureza, etc.
(O vídeo dos Green Day intitula-se "Working-class hero" e segue a música original de John Lennon. Aqui ela associa-se à causa dos acossados e dos refugiados de Darfur. A associação é estranha, mas a causa é boa.)
3 Comments:
Conclusão: estamos a voltar à escravatura.
Esta Europa cada vez mais se assemelha à China Fascista.
O mais vergonhoso de tudo é que é um Partido Socialista a liderar esta louca corrida pela eliminação dos direitos dos trabalhadores.
Infelizmente esta é apenas mais uma etapa, a corrida tem sido longa e quem sabe onde vai parar.
Enviar um comentário
<< Home