sexta-feira, junho 29, 2007

A lealdade como um princípio prático orientador da reforma do estado?



Para além de existir, hoje, na sociedade portuguesa uma “claustrofobia” política, forma-se, pouco a pouco, uma estrutura de fiéis servidores da vontade do chefe ou aquilo que essa gente pensa ser a vontade do chefe. Na verdade, alguns acontecimentos recentes demonstram claramente que existe uma acomodação nova na estrutura do estado. Esta mudança acabará por se efectivar quando for implementada a nova avaliação dos seus funcionários. Iremos assistir, muito em breve, a excessos de zelo que se converterão em promoções por mérito. Ora, foi na base deste princípio do fiel servidor que se formaram as maiores ditaduras europeias, o nazismo, o fascismo e o salazarismo. Curiosamente, tem vindo a lume, em artigos de opinião ou em discursos de certos políticos, um conceito que constitui o ponto nodal desta ideologia do fiel servidor - a lealdade (por exemplo, o caso da DREN).
A partir deste conceito positivo, pretende-se legitimar posições perversas. Em breve, iremos assistir a uma mudança de universo deste conceito, isto é, o carácter moral perder-se-á e passará a ter uma conotação formal/institucional. Assim, por exemplo, o delator agirá não por moralidade, mas porque se o não fizer, sofrerá também ele a penalização dessa omissão. Quando membros de uma junta médica do estado, numa atitude de fieis servidores ordenam, de acordo com a vontade política dos seus superiores, que uma trabalhadora cancerosa em estado terminal seja obrigada a regressar ao seu trabalho, violando o juramento médico e os direitos fundamentais do homem, colocando a lealdade política de fiel servidor acima das suas obrigações deontológicas, não estarão também eles a converter os excessos de zelo em promoções por mérito? É interessante verificar que a prática dos fiéis servidores são indicadores do sentido daquilo que, alguns, com razão, chamam a reforma do estado. Nós, no entanto, preferimos chamar “golpe de estado”.

PS: depois de ter escrito este post, a comunicação social informou-nos que a responsável pelo centro de saúde de Viera do Minho, Dr. Celeste Cardoso, foi demitida por não ter mandado arrancar um cartaz “jocoso” sobre o Ministro da Saúde. O Ministério da Saúde informou que aquela funcionária superior tinha violado o “direito de lealdade”.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É inevitável. Em Portugal a culpa é da política educativa que não preparou, nem formou CIDADÃOS. Não estamos preparados para viver numa sociedade democrata e plural. Precisamos da velha senhora. É com alguma mágoa que chego a esta conclusão. Devemos TODOS estar alerta porque me parece que há um novo herdeiro para ocupar a velha cadeira e este tem manhas que tornarão mais difícil fazê-lo cair. No outro dia via o telejornal e passava uma reportagem que falava de uma "espera" que a população de Abrantes, receosa que o seu hospital perca valências, fez ao Engenheiro. Mas o nosso engenheiro decidiu falar à população e "acalmar a fera". Só sei que no fim da reportagem as senhoras que à minutos gritavam "Não feche o nosso hospital!!", que era a mensagem que tinham nas suas t-shirts, pois no fim estavam a cantar para José Sócrates como se nada se passasse. Não nego o facto de ele ser um génio da comunicação, tal como não nego que continuamos a ser o povo humilde e ordeiro para o bem de todos os Sócrates que nos governam.

2:21 da tarde  

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