Tudo o que acontece está escrito num rolo lá em cima
Embora estivesse decidido a falar um pouco sobre a Suiça e os Suíços, dos quais, verbalize-se em trânsito, me agradou a primeira e não fui muito com a cara da maioria dos segundos, o assunto que hoje me ocupa é um romance, também ele com mais de duzentos anos como o último que aqui citei, que pela sua originalidade e bom senso, que, afinal no caso do autor, venceste Descartes!, estava muito bem distribuído, nos outros seus coevos é que não tenho tanta certeza, o que implica, por outro lado, que afinal se calhar o autor da Touraine (e se ele não é da Touraine? Não tem problema, pois o leitor paciente me elucidará) não tinha assim tanta razão. Mas quem se importa com isto, eu não! Em frente.
O que eu queria mesmo falar era do romance de Diderot, escrito ali para os meados do século dezoito e intitulado Jacques o Fatalista e seu amo, que, já agora aproveito para recomendar a sua leitura (aqueles que ainda não o fizeram), não porque tenha alguns direitos a receber, aliás, mais de duzentos anos fazem caducar qualquer prerrogativa, mas porque neste encontro uma história sensacional que poderia ser nomeada de: o meu capitão e o companheiro do meu capitão (o capitão é o de Jacques, bem visto).
A narrativa, profundamente surrealista visto que nos é contada aos bocados começando pelo fim: a morte do meu capitão, pode-se resumir do seguinte modo: dois homens, ambos oficiais do exército, encontram-se numa estalagem a jogar ao passa o dez (esclarece-nos o prefaciador, em nota, que o passa o dez é um jogo de dados, neste utilizam-se três e, como é evidente, pretende-se fazer dez ou mais). O primeiro tira repetidamente mais que dez, o segundo, pensando que os dados estavam viciados, crava, com um pequeno punhal, a mão do primeiro no balcão, depois das cerimónias da praxe reconhece o seu erro, pede imensas desculpas e dispõe-se a duelar com o cravado, duelo que, com o passar do tempo, se repete um determinado número de vezes entre cravador e cravado. Conclusão: estes tornam-se amigos intímos e cada vez que se encontram, depois de confraternizar um número de dias alegremente, exacerbam-se e duelam novamente, cuidando sempre o agressor da saúde do agredido e confessando-se mutuamente que não se perdoariam se o outro viesse a falecer.
Acerca das ilações que se podem extrair desta narrativa deixo ao leitor, que é sério e tem bom senso entre muitas outras coisas que não cabe aqui nomear, o cuidado de as auferir.
PS – isto não é uma declaração política, é só para dizer que o cravado, como é óbvio, é o meu capitão e o cravador, como se torna evidente, é o companheiro do meu capitão.
O que eu queria mesmo falar era do romance de Diderot, escrito ali para os meados do século dezoito e intitulado Jacques o Fatalista e seu amo, que, já agora aproveito para recomendar a sua leitura (aqueles que ainda não o fizeram), não porque tenha alguns direitos a receber, aliás, mais de duzentos anos fazem caducar qualquer prerrogativa, mas porque neste encontro uma história sensacional que poderia ser nomeada de: o meu capitão e o companheiro do meu capitão (o capitão é o de Jacques, bem visto).
A narrativa, profundamente surrealista visto que nos é contada aos bocados começando pelo fim: a morte do meu capitão, pode-se resumir do seguinte modo: dois homens, ambos oficiais do exército, encontram-se numa estalagem a jogar ao passa o dez (esclarece-nos o prefaciador, em nota, que o passa o dez é um jogo de dados, neste utilizam-se três e, como é evidente, pretende-se fazer dez ou mais). O primeiro tira repetidamente mais que dez, o segundo, pensando que os dados estavam viciados, crava, com um pequeno punhal, a mão do primeiro no balcão, depois das cerimónias da praxe reconhece o seu erro, pede imensas desculpas e dispõe-se a duelar com o cravado, duelo que, com o passar do tempo, se repete um determinado número de vezes entre cravador e cravado. Conclusão: estes tornam-se amigos intímos e cada vez que se encontram, depois de confraternizar um número de dias alegremente, exacerbam-se e duelam novamente, cuidando sempre o agressor da saúde do agredido e confessando-se mutuamente que não se perdoariam se o outro viesse a falecer.
Acerca das ilações que se podem extrair desta narrativa deixo ao leitor, que é sério e tem bom senso entre muitas outras coisas que não cabe aqui nomear, o cuidado de as auferir.
PS – isto não é uma declaração política, é só para dizer que o cravado, como é óbvio, é o meu capitão e o cravador, como se torna evidente, é o companheiro do meu capitão.
3 Comments:
Xor Z, o ar puro da Suíça afectou-lhe os miolos. Para o fatalista Jacques, um recado: "fia-te na Virgem e não corras". Quanto à terra do filósofo preferido dos não filósofos (na minha modesta opinião, claro), não resisto a uma piadinha infantil: será que o Tour de France começou em Tour...aine? A sua história do cravador e cravado tem sangue a mais, meta-os a cravar cigarros ou dinheiro em vez de punhais, sempre fica mais composta.
Cumprimentos da sua fã nº 1.
P.S. - já pensou em escrever guiões de telenovelas?
Cara edelweiss, perante o seu comentário acético apenas me ocorre um aforismo: o sangue é a fonte da vida. Numa coisa tem razão, voltei passadíssimo, ainda para mais os suiços têm as notas mais coloridas do planeta, e, como é claro, já pensei em escrever telenovelas, mas também já pensei em matar gente...
Cumprimentos para si
Xor Z, impagável, como sempre!
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