“Coimbra, 7 de Março de 1952”
« Não se modifica o fácies dum povo. (…) É ver como calha sempre bem, como se aguenta entre nós o tipo de governante autoritário sem o parecer, beato mas com uma vara laica na outra mão, paternal mas distante do povo. A lição liberal e republicana não nos valeu de nada. Aquele esforço de convívio cívico, de liberdade pressuposta, de diálogo colectivo, de religiosidade temperada, em vez de aliciar as consciências parece que as ressabiou. À autodisciplina da democracia opôs-se imediatamente a licença da anarquia. (…) O temperamento é uma grande lei. O nosso é de carneiros tosquiados, um tudo nada recalcitrantes ao assobio do pastor, que é sempre um tipo bifronte: dum lado, a cara rubicunda do cura de freguesia; do outro, a fria máscara do meirinho da vila.»
Miguel Torga, Diário, vol.VI.
Miguel Torga, Diário, vol.VI.
2 Comments:
Pedro, hoje publicou aqui uma palavra que acho graça desde os tempos das minhas aulas de História do Direito: meirinho! Apesar de ter origem no termo majorinus, ou seja, grande, imagino sempre os meirinhos como homens minúsculos e cómicos.
Estimada Edel:
Os meirinhos, quando cresciam à altura dos pelourinhos, não tinham muita graça.
Continue aqui com a sua refrigerante porque eu prá semana vejo-me obrigado a continuar com um bestiário de espécies difíceis de classificar: algures entre o teratológico e o grotesco.
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