sábado, março 08, 2008

Decálogo do naufrágio do ensino em Portugal

Vou estar hoje na manifestação de professores. Protestarei contra o estado calamitoso a que este Ministério da Educação está a votar o ensino público em Portugal. Acompanho convictamente com os meus colegas nesta luta; mas sinto que os professores não estão a saber explicar a gravidade da situação em que a Escola pública se encontra por responsabilidade deste governo. Na televisão ouvem-se protestos contra “este modelo de avaliação dos professores” ou contra “este modelo de gestão das escolas”. Desta forma, a opinião pública nacional fica com a ideia de que os docentes se batem por meras razões de interesse próprio – o que em muitos casos é infelizmente verdade.

No entanto, o problema é muito mais fundo e corrói todo o sistema de ensino público. Em detrimento de uma argumentação longa e impraticável num blogue, opto por apresentar os dez pontos da falência do ensino público, sem os desenvolver. Aqui vai o Decálogo do naufrágio do ensino público em Portugal:

1. As medidas e as intervenções públicas da Ministra da Educação estão a denegrir e a desvirtuar o importantíssimo papel do ensino e da educação em Portugal. (E não esqueçamos que as medidas são propostas por uma socióloga, que devia compreender o dano social dos seus actos.)

2. As medidas e as intervenções públicas da Ministra da Educação estão a minar a necessária credibilidade e a autoridade dos professores.

3. A recente legislação do Ministério da Educação promove uma ideia de irresponsabilidade e de laxismo na mente dos futuros cidadãos - a assiduidade não é importante, o esforço dos alunos não é um factor necessário nem valorizado, etc.

4. O Ministério não promove nem encoraja uma cultura de exigência e seriedade entre os alunos – procura antes pressionar fortemente os docentes a implementar um clima de facilitismo na avaliação dos discentes.

5. As reformas que estão a ser feitas são orientadas por mesquinhos objectivos economicistas e estatísticos. I.e., a economia e a estatística sobrepõem-se à formação dos cidadãos de amanhã. (LINDO!!!)

6. As pseudo-reformas promovidas pelo Ministério são remendos, intervenções de maquilhagem na necessária melhoria do sistema de educação em Portugal: nada vão alterar para melhor, muito vai piorar.

7. A política de educação é dirigida para os media e não para os alunos: tornou-se uma preocupação polítiquice imediata (e mediática) e não um investimento social e humano de fundo.

8. O modelo de gestão das escolas desvirtua a autonomia das escolas e, mais grave, a autonomia pedagógica do ensino nelas ministrado.

9. O presente modelo de avaliação de docentes não é justo para os professores e, indirectamente, condiciona de forma negativa as aprendizagens dos discentes.

10. Os professores mais novos não têm lugar no sistema (por razões economicistas) e ainda são sujeitos a provas humilhantes e descabidas, que podem assassinar injustamente a carreira de docentes promissores e zelosos.

1 Comments:

Blogger Xor Z said...

Pois, penso que pôs o dedo na ferida: a destruição do ensino público em nome da modernidade (do psicologês e do eduquês) e do pretexto europeu.
Quanto pior for a média (em termos qualitativos e não quantificativos)do aluno do ensino público mais eles atingem os seus objectivos de valorizar o ensino privado. Com o continuar dos tempos, esse ensino tornará-se-á tão elitista como era dantes.

12:45 da manhã  

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