AMOR, VERDADE, LIBERDADE
“Coimbra, 9 de Dezembro de 1993”
« E chega ao fim, com este volume, um livro que comecei a escrever um pouco estouvadamente há sessenta anos, e acabo agora com mais assento. Como é sabido, ninguém conhece o dia de amanhã, e, pelo que me diz respeito, fui um mártir dessa incerteza. E iniciei o presente tomo quase seguro de que o não terminaria. O resultado está à vista: um estendal de dúvidas e gemidos. Mesmo assim, talvez valha a pena que se junte aos outros, como seu natural remate. Mais do que páginas de meditação, são gritos de alma irreprimíveis dum mortal que torceu mas não quebrou, que, sem poder, pôde até à exaustão. E se despede dos seus semelhantes sem azedume e sem ressentimentos, em paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exacta medida. E que confia no juízo da posteridade, que certamente lhe vai relevar os muitos defeitos e ter em conta as poucas mas sofridas virtudes. De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo. »
Miguel Torga, Diário, vol XVI.
« E chega ao fim, com este volume, um livro que comecei a escrever um pouco estouvadamente há sessenta anos, e acabo agora com mais assento. Como é sabido, ninguém conhece o dia de amanhã, e, pelo que me diz respeito, fui um mártir dessa incerteza. E iniciei o presente tomo quase seguro de que o não terminaria. O resultado está à vista: um estendal de dúvidas e gemidos. Mesmo assim, talvez valha a pena que se junte aos outros, como seu natural remate. Mais do que páginas de meditação, são gritos de alma irreprimíveis dum mortal que torceu mas não quebrou, que, sem poder, pôde até à exaustão. E se despede dos seus semelhantes sem azedume e sem ressentimentos, em paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exacta medida. E que confia no juízo da posteridade, que certamente lhe vai relevar os muitos defeitos e ter em conta as poucas mas sofridas virtudes. De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo. »
Miguel Torga, Diário, vol XVI.
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