"Coimbra, 31 de Dezembro de 1988"
« É quase meia-noite e começa a erguer-se por toda a cidade uma onda de alegria ruidosa. O ano velho está a dar os últimos suspiros. Foi bissexto, e não deixa saudades. Guerras, terrorismos, fomes, desastres, terramotos. E é o advento do novo que celebramos festivamente. Sempre assim aconteceu nesta data. Amaldiçoa-se o passado e bendiz-se o futuro. Que mais pode fazer a impotência humana? Tentamos forçar a benevolência dos fados com a força redentora da esperança. Os fados é que se devem rir da candura. E da falta de memória. O mal não está no tempo. Está na nossa condição. »
Miguel Torga, Diário, vol. XV.
Miguel Torga, Diário, vol. XV.
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