terça-feira, junho 27, 2006

Filosofia e Direita II

Estávamos nós a emborcar uns copos no bar da boazona (chamada ***, não posso divulgar o nome ou a mulher passa-se), aquela que tem um amante horrendo e escanzelado que, ainda para mais, a engana com uma jovem de vinte e muitos anos que parece ter dezasseis e ninguém lhe dá mais de dezoito (embora, devo confessar, o álcool não sofra depreciação por essa razão), quando Honório, a quem chamamos por diversão Honório Causa, se lembrou uma vez mais da velha questão da filosofia e da direita.
Disse ele lá na sua, com aquele ar que já lhe conhecem: é verdade que tentaste responder aquela pergunta que te tinha posto, mas, parece-me e olhou para os restantes interlocutores, que não explicaste bem a razão da direita não ter ideologia, porque pode haver uma ideologia diferente, em contraste e por conseguinte…
A pergunta pareceu-me pertinente e desta vez não houve moratória nem afirmei: ainda bem que me pões essa interrogação e entabulei o seguinte aranzel:
Uma das questões que nos vem à mente a propósito das designações políticas é a sua origem. Os termos direita e esquerda provêm, como quase toda a gente sabe, das alas do parlamento após a revolução francesa. Porém, no nosso país só se pode falar de direita e esquerda, com absoluta propriedade, após a Revolução de 1820.
Foi após este período conturbado que se forma um partido de direita denominado legitimista, encastelado à volta de D. Miguel e de sua mãe, Carlota Joaquina, que para muitos era a verdadeira eminência parda do movimento e, de seguida, ganha asas (ou bebe Redbull, como hoje se diz). É este mesmo partido que concorre a eleições e chega mesmo a eleger deputados.
No entanto, o que verdadeiramente nos interessa é como se forma a ideologia deste movimento. Privilegiando o tradicionalismo como verdadeira raiz do exercício social é a volta dos usos e costumes, isto é, das tradições (aquelas que faziam discursar Calisto Elói como um alcaide do Séc. XV e lhe levaram a propor que ”se restaurassem as leis do foral dado a Miranda pelo monarca fundador”, em pleno Séc. XIX), que o ideário se vai formando até cristalizar no Integralismo Lusitano, isto já nos anos da República.
Ora bem, fundando na tradição, o seu cariz pragmático é a sua característica mais óbvia e a história o campo onde se degladia combatendo a tradição liberal. Não é por outra razão que Sardinha e seus pares querem “refazer a história”, tentando ao mesmo tempo “refazer a política”.
Esta tentativa de “refazer a política” passa, precisamente, pela recusa de toda a ideologia, manifestação que era conotada com a ala esquerdista, os “filhos de Rousseau” e de outros que não vem ao caso nomear.
Deste modo, pela recusa se forma o domínio da direita, veja-se, por exemplo, a quantidade de antis que aparecem nos números da Nação Portuguesa, o verdadeiro órgão do Integralismo Lusitano.
Isto já para não falar do termo reacção ou reaccionário.

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Refazer a política ou
....a Pedagogia da política!!

"a ingenuidade e a inconsciência
que marcam a falta da razão adulta"

(NARADOWSKI)

...isto para não parecermos absolutos nem conservadores ;)


exímio Alexandre.
beijos.

11:29 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Cara a.
Agradeço as suas palavras embora não me chame Alexandre.

11:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Cheiras mesmo a vermelho. Vê lá se dás metade do teu ordenado aos pobres? Queres a bandalheira a reinar no país, não é?

10:34 da manhã  
Blogger Xor Z said...

Ó jaquim com argumentos desses é que a direita vai longe.
Se tiver algo realmente significativo a dizer não se acanhe. Mande sempre!

4:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

... o pior não é o Integralismo nem o chão que deu uvas. O pior é o esgotamento de tudo. Tudo.

5:44 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que grande excurso para chegar onde se chegou. Afinal a direita resume-se à sua manifestação integralista?
Algum respeito por este movimento não lhe ficava nada mal. Acha que os integralistas não tinham razão em relação à bandalheira republicana? Acha que eram intelectualmente desprovidos? Acha que não sabiam o que queriam e como o queriam? Não, não queriam a direita ou a esquerda, aliás Sardinha ou outro que me não lembra, chegou a dizer-se de extrema esquerda (hoje seria quiçá o Bloco).
Deixemo-nos de direitas e esquerdas, pois um olhar atento aos tempos ficamos a saber que o que os diferenciam não são os ideais mas sim o estar do contra.
Sim, uns podem ser mais individualistas outros mais colectivistas, uns mais ... outros mais...., mas o que verdadeiramente os diferencia (direita e esquerda) é que uns sabem o que querem e outros o que não querem. O trabalho intelectual advém do facto de se descortinar o que querem uns e não querem os outros.
Aquela treta de se pensar que os intelectuais são de esquerda e que a direita não pode ter nem tem intelectuais é uma visão anquilosada do que é ser intelectual. Um matemático não necessita de ser de dta ou esq, para ser um intelectual. Os intelectuais, ditos de esquerda, destacam-se muito é no intelectualismo de "café". Aí, ninguém os bate.
Veja-se aquela treta de programa pseudo-intelectual chamado "O eixo do mal". Na verdade aquilo é uma treta de pseudo-amostra do que é a esquerda. Não, também não é aquilo a esquerda, pois com esquerda daquela os neo-integralistas, onde me incluo, bem podem com eles.
Já agora, que me diz do manel lamurias?
Mande sempre, Xor Z.
Para mim esquerda são carapauzinhos, porque são proíbidos os "jaquinzinhos" e eu sou um legalista intragável.
Para mim esquerda são "delícias do mar", uma pasta composta de muitos restos de peixe, sem se saber exactamente o que são, quem são e como são.
Nem direita nem esquerda. Em frente.
Como vê não sou anti-nada, apesar de neo-integralista.

11:45 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

6:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Lamúrias

Também não me ocorre o nome do integralista mas você tem toda a razão. Estes "vermelhos" são uma camatilha.

6:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Era camarilha e não camatilha.

Mariotte Júnior (também me esqueci de assinar)

6:29 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Era o dia de responder aos comentários da filharada mas estou falho de imaginação. Fica para amanhã.

12:07 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já percebi.!
É preciso consultar o "aparelho".

12:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

...ai que vergonha.desculpe xor z.
:/

2:12 da manhã  
Blogger Xor Z said...

Cara a. não precisa de pedir desculpa, errar é humano.
Caro anónimo se o "aparelho" falasse era a oitava maravilha do mundo.
Caro Lamúrias respondo-lhe a si, porque o padreco não diz nada a não ser concordar consigo. Se a direita se restringisse ao integralismo, pelo menos aquele primeiro integralismo, teria que refazer todas as minhas opiniões. Os integralistas, os que referi atrás, obviamente não eram desprovidos, mas, que fizeram eles? Copiavam a revista francesa, como queria Raúl Proença, ou iam buscar à tradição o seu ideário, tal como eu afirmei e como fez o Calisto Elói.
Falar da bandalheira republicana é também uma frase feita. Sim eu sei que houve muita confusão, mas, também houve coisas positivas.
Quanto à diluição das ideologias é essa a minha principal tese e a diluição é mais sensível à direita do que à esquerda. Aliás, o meu primeiro post começava com uma referência a Sócrates (não o que se cicutou mas o que nos anda a cicutar a todos) e à sua política conservadora (isto estava implícito).
O problema dos intelectuais de esquerda é o César Monteiro e as Recordações da Casa Amarela.
É evidente que há intelectuais de direita e até fascistas como o Ezra Pound que foi viver para Itália na época do Mussolini.
Isto já vai longo e devo dizer-lhe que achei graça aquela das "delícias do mar" e dos "jaquinzinhos".
Mande sempre amigo Lamúrias.

10:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Senhor Z
Chamar-me "padreco" revela a sua falta de classe. Já vi que não tem qualquer respeito pela Igreja, embora não o tenha visto como um dos redactores do Diário Ateísta, essa camarilha que infesta a blogosfera.
Não fiz comentários porque assinei por baixo das palavras de Lamúrias Júnior. Não tenho qualquer receio dos seus argumentos e se o meu confrade não os rebater eu o farei. Tal como ele sou um neo-integralista e, por conseguinte, um filho espiritual do Padre Amadeu de Vasconcelos.

11:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por acaso estava a passar e encontrei este blog...nao está nada mal...no entanto...esta serie de comentarios/discussao entre esquerda e direita não tem sentido nenhum...sejamos claros...hoje em dia a esquerda e direita quase não se distinguem...para um problema só existe uma soluçao óptima...sendo que cada problema exige sua sensibilidade própria...estamos todos de acordo?

Abraço

1:12 da manhã  

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