terça-feira, agosto 29, 2006

A filosofia é uma doença da alma

A filosofia como actividade reflexiva tem como função complicar aquilo que parece simples. Vejam, por exemplo, uma pessoa que entra numa galeria e começa a olhar para um quadro porque o dia está quente e o espaço tem ar condicionado. Certamente, uma situação simples, corriqueira, do dia a dia, mas, para o filósofo não, aquilo que ali está não é simplesmente um indivíduo a olhar para uma pintura, antes de mais estamos na presença dum sujeito e dum objecto e, o que é mais grave, duma relação estabelecida entre os dois.
Quanto à pintura, a casa não é só uma casa, um telhado, mesmo que chova, é o ventre materno, o porto de abrigo, a segurança e a estabilidade. E o rebanho de ovelhas não é só um aglomerado de produtores de leite e queijo, é o espírito de grupo, a representação simbólica dum tipo de sociedade, a cooperação e, esperem lá, porque está aquela ovelha isolada? Depois de tudo isto, ainda são capazes de implicar, com o ar mais natural do mundo, com a merda das pedras e a floresta que rareia.
Ora bem, se tivermos em atenção que os simples são os bem aventurados, como queria JC, a simplicidade é a condição da felicidade. Deste modo, sendo a felicidade a saúde da alma, proposição com a qual estaremos todos de acordo, a complicação é a sua maleita e os máximos complicadores, isto é, os filósofos, os mais enfermos da alma e, digo-o com profunda pena, impossíveis de vir a tornarem-se sãos.

2 Comments:

Blogger Woman Once a Bird said...

Excelente post. ;)

11:34 da manhã  
Blogger Xor Z said...

Obrigado. Tudo isto veio a propósito do provérbio russo que TR lembrou: quando menos souberes, melhor dormes.

12:54 da manhã  

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