quarta-feira, agosto 23, 2006

Se é possível que Kant conte, é também provável que Comte cante

Pensei eu que ao longo do carro de anos que já levo não haveria coisa alguma que me surpreendesse, ingenuidade minha dirão vocês, e me levasse a escrever meia dúzia de linhas sobre o assunto.
Pois aqui me encontro porque li numa obra recentemente editada que Kant era positivista, apud Maria Clara Calheiros, A Filosofia Jurídico-política do krausismo português, Lisboa, INCM, 2006, nota 125 da p. 185.
Neste pedaço de arte ficamos também a saber que das obras de Sanz del Rio “resultam claras as ideias teístas e deístas e um certo misticismo”, p. 85. Deísmo e teísmo ao mesmo tempo e no mesmo lugar é violação da lei da não contradição do estagirita (lá vai o Alexandre dar-me nas orelhas, outra vez, por causa do filósofo grego. E eu a dar-lhe e a burra a andar).
Por outro lado, considera que a seidade é uma das categorias fundamentais compreendidas na análise do eu, vd. p. 52. Seidade? Que raio será a seidade? Será que algum leitor caridoso (não lhe chamo pio porque segundo Frei Lucas de Santa Catarina - Prólogo do Serão Político, Lisboa, 1723 - pode ser testemunho), me poderá ajudar enviando-me, via comentário ou mail, o significado deste termo que não aparece nos principais dicionários de filosofia ou de língua portuguesa.
Vamos ficar por aqui, porque para um só dia já é estupefacção (lá me ia escapar o vocábulo espanto que, segundo o que não se pode nomear, está na origem da filosofia) suficiente.

30 Comments:

Blogger Woman Once a Bird said...

Erro de impressão?

10:53 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Não me parece.
A autora está é a confundir a doutrina positivista com a concepção positiva do direito. Foi Hegel, se a memória não me falha, que atestou que todo o direito é positivo, isto é, depende da vontade dos legisladores. Esta teoria pretende obliterar da lei o papel que o direito natural e a legislação não escrita (usos e costumes) até aí tinha tido.
Como compreende esta confusão é grave num livro que se pretende de filosofia.

11:46 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Caro Z:

Depois de esta tarde na BN lhe ter confessado que não fazia a mínima ideia ("no tenia ni p*ta idea", como dizem os espanhóis) sobre o conceito da palavra "seidade", eis que a vejo definida como "a qualidade do ser" na página 7, linha 2, deste texto: http://216.239.59.104/search?q=cache:2NwzVLvdIB0J:www.shiningthroughthemind.net/pages/Gilbert_Schultz_The_First_Instant_Portuguese.pdf+seidade&hl=pt-PT&gl=pt&ct=clnk&cd=8

Acredite no que lá é dito se quiser.

1:19 da manhã  
Blogger Woman Once a Bird said...

Ao erro de impressão referia-me ao termo "seidade". Na verdade, só me ocorre que a autora referia-se efectivamente ao conceito de ipseidade, o sujeito como pessoa, em relação com os outros.

9:16 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

... Ou melhor, que tenham, respectivamente, contado e cantado. :oD

Saudações cordiais -- e, porque não, sudações pontuais...

Miguel A.

11:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Xor Z, no google encontra 236 resultados para a pesquisa da palavra "seidade", pode ser que algum o esclareça.

12:55 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Sim, sim cara sra. ex- pássaro. Em relação ao termo seidade também achei que podia ser ipseidade e tratar-se de erro de impressão ou mesmo esseidade do latim esse, mas como já deve ter visto tenho algumas coisas para consultar e quero, desde já, agradecer aos caridosos leitores as sugestões que me mandam.

1:40 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Caro Alexandre
Na sua sugestão o termo está tomado no sentido de esseidade (não sei se é um neologismo) do latim esse (ser), aliás de acordo com o vocábulo inglês beingness. De qualquer forma, referindo-se ao eu é estranho este carácter de esseidade (entidade seria o correcto). Mais plausível é a sugestão da WOB de que se trata do termo ipseidade como tínhamos ontem posto a hipótese. Ainda me falta seguir a pista da sra. edelweiss (espero não ter estropiado o nome).
Obrigado de qualquer forma.

1:48 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Cara beleza alpina
Tendo consultado cerca de 100 das entradas que me indicou constato, como foi o caso da referência do Alexandre, que todas são uma corruptela do termo esseidade, do latim esse, e se referem ao ser, grande parte de sítios brasileiros, teosóficos e místicos (não foi o Pessoa que traduziu textos da Blavatsky?).
No caso presente, pois se trata da análise do eu, o termo mais correcto seria ente, isto é, o ser do ente e, por consequência, o vocábulo mais ajustado seria entidade. Mesmo na filosofia de Krause, que postula que tudo está em Deus (pan en teos, daí a denominação panenteísmo, concepção que se adequa ao célebre aforismo de S. Paulo: em Deus nos movemos, vivemos e somos - cito de memória), tem que haver uma distinção entre o ser propriamente e o ser do ente (ou como muitos dizem o ser doente que, no fundo, é o filósofo que sofre de grandes afecções da alma. Chega, estou já a divagar).
De qualquer forma agradeço as suas sugestões.

2:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Xor Z, fiquei com a cabeça à roda para acompanhar as suas divagações, e não resisto a um pequeno trocadilho, a puxar para o básico, mas irresistível: ser doente ou ser do ente? Acrescento ainda que por considerar a flor dos alpes uma beleza, acaba de ganhar uma serva derretida com o seu bom gosto para flores.

3:28 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Cara beleza dos alpes
Peço desculpa por lhe pôr a cabeça à roda com as minhas divagações que, mesmo assim, foram censuradas pelo lado bom do meu cérebro. Que os filósofos têm uma doença de alma foi o que eu quiz dizer. Aliás, a filosofia é uma doença da alma, porque, como dizia Cristo, só os simples são bem aventurados, isto é, felizes, como a filosofia só complica, logo não é passível de conter felicidade. Se considerarmos a felicidade como a saúde da alma, ergo, a filosofia é uma doença da alma.
Vendo bem, este tema: a filosofia é uma doença da alma deve dar um post engraçado.
Vá comentando que o seu comentar tem graça.

2:54 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Já me não divertia há muito tempo.
Afinal ainda há teses e teses. Abençoado Kraus.... quê??????
A INCM está a publicar tais merdas?
Quem dá a autorização????
Qual a equipa redatorial???
Estas são questões que gostaria de ver debatidas, independentemente das "e-seidades".
Vamos cascar e enviar notas de repúdio pela falta de critérios de qualidade nas publicações da IN co dinheirinho dos contribuintes.

TR

11:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Relativamente ao autor e aos comentadores ... gostaria de saber as obras que já publicaram, para além das que fazem neste pasquim informático.

5:10 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Digo-lhe as minhas quando você me disser as suas, se é que tem alguma.
De qualquer forma, já vi meios mais inteligentes de comentar aquilo que se escreve. Os seus argumentos resumem-se a chamar a este blog pasquim, nome que a meu ver se adequa bem à nossa barrica. Se pretende contestar o que eu digo conteste à vontade, mas com argumentos. Se tiver dificuldade de saber o que é um argumento existem várias obras à disposição.
Se precisar de mais algum esclarecimento mende sempre.

7:16 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Mande sempre, desculpe a gralha.

7:16 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Respondo aqui também ao comentador(!) que assina como Paulo:
O seu argumento é o argumento dos déspotas. Todos podemos e devemos ser criticados por todos. É o fundamento da crítica que distingue a crítica justa da crítica acintosa.
A crítica que Z fez ao referido livro vai na linha das recensões críticas que se encontram nas publicações científicas (embora aqui apareça em forma fragmentária). É uma forma de discutir a obra e não um acto vilipendioso, como o cavalheiro pretende sugerir.
Mas, já agora, pela sua ordem de ideias, só aqueles que exerceram as funções de Primeiro-Ministro podiam criticar outro chefe de governo. Devia ser lindo...

9:37 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A verdadeira questão é a da forma. Criticar de forma global uma autora e uma obra, citando parágrafos e ideias de 2 das suas 355 páginas, deduzindo, assim, do menos o mais, parece-me, isso sim, uma evidente violação das leis da lógica. Mas nem por isso me atrevo a deduzir, em relação ao comentador, o mais do menos que o comentário dele representou.

7:45 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A verdadeira questão é a da forma. Criticar de forma global uma autora e uma obra, citando parágrafos e ideias de 2 das suas 355 páginas, deduzindo, assim, do menos o mais, parece-me, isso sim, uma evidente violação das leis da lógica. Mas nem por isso me atrevo a deduzir, em relação ao comentador, o mais do menos que o comentário dele representou.

7:46 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Caro Paulo
Já vi que conhece a obra, pois até sabe quantas páginas tem. Bem, confesso que ainda só vou na p. 168, embora tenha lido para a frente uma coisa ou outra. Mas para uma crítica sistemática o melhor é contactar-me através do mail do Tonel. Você contacta-me e eu digo-lhe tudo o que acho da obra e aquilo que já fiz até hoje, isto é, as obras que você reclama para se poder criticar.
Deixe-me que lhe diga que você, em vez de duplicar as mensagens que manda (será que é uma para mim e outra para o Alexandre?), podia referir algumas das virtudes da obra, que, diga-se de passagem, também tem algumas. Mas argumentos seus - ZERO.

8:16 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Bem, bem, caro Paulo, já que me desafiou aqui vai.
Comecemos pelo título: de política diz-nos a autora que alguns krausistas foram políticos, nada mais adiantando. Pois é, pois é, um deles (Vicente Ferrer) tem um índice de todos os seus discursos publicados na colecção parlamento e um artigo dedicado às suas principais temáticas. Outro (Dias Ferreira) tem sido trabalhado por Luís Dória. De Rodrigues de Brito é "sumarenta" toda a análise política que faz na Filosofia do Direito. Na obra de política é como os seus argumentos: ZERO.
Da introdução podemos dizer que a análise do Portugal de Oitocentos usa apenas uma obra histórica, ainda que geral, a história de João Medina.Da parte que trata das élites é melhor não dizer nada.
Da análise da filosofia de Krause, que cita toda a obra no original alemão, só temos acesso através dos comentadores espanhóis e depois ainda tem a lata de dizer que Ferrer não conheceu a obra dos autores alemães em 1ª mão porque não sabia alemão.
Já agora porque é que a autora utiliza repetidamente, o que prova que não deve ser gralha, o hífen na palavra panenteísmo, separando pan de enteísmo, quando a palvra é constituída por 3 palavras pan en theos?
Por outro lado, porque é que admite que o krausismo em Espanha e Portugal entrou através dos discípulos de Krause que escreviam em francês (Ahrens e Tiberghien) e dedica uma página ao primeiro e outro tanto ao segundo?
Como é possível que das obras de Sanz del Río resultem claras (e estou a citar) as ideias teístas, deístas e um certo misticismo? E diz isto com uma leveza de quem não percebe que se lhe juntar o panteísmo tem todas as teorias clássicas e contraditórias (escrevo contraditórias porque já vi que tem queda para a lógica) sobre a religião. Isto tudo sem reparar que na p. 110 atesta que os krausistas procuravam uma religião racional. em que é que ficamos?
Da colecção de krausistas portugueses, dos quais repete apenas aquilo que B. Teixeira e C. Moncada já disseram, nada de novo diz e não cita texto nenhum escrito por estes autores. A propósito de Antero de Quental cita um livro para o décimo segundo ano, de Costa Lobo afirma que foi professor do CSL quando, na verdade, o prof. foi Sousa Lobo. A propósito de L.M. Jordão cita apenas T. Beleza que resume aquilo que E. Correia diz mais e melhor. Não percebo onde reside o krausismo de Sampaio Bruno ou de Leonardo Coimbra, no caso do último por causa do problema do mal e da existência de Deus? Então, todos os filósofos são krausistas inclusive os que viveram antes de Krause.
Já agora onde está o krausismo da escola do Recife?
Na parte que trata da polémica entre Ferrer e Brito nada acrescenta ao que já se tinha escrito.
Também não percebo como escreve um livro sobre o krausismo português quando nas conclusões põe em causa que o krausismo nacional exista.
Isto já vai longo e só vou, como lhe disse, na p. 186, mas não resisto a epilogar com esta pérola: "quando o manual de V. Ferrer é adoptado na Fac. de Dto. de S. Paulo vive-se ainda o ecletismo, genericamente aceite e bem visto [o ecletismo vive-se? uma doutrina vive-se e o dito romano: primeiro viver e depois filosofar. aceite e bem visto? onde? nos bailes de sociedade?] mesmo entre a elite política governamental partidária do liberalismo assente na monarquia constitucional e do espiritualismo" Como? pode trocar por miúdos, espiritualismo, monarquia constitucional e liberalismo a esmo, o que é isto? Semanticamente esta frase é um verdadeiro caos.

10:34 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Não sei que dizer,mas como aos ignorantes já é dada a palavra, também digo:
As obras científicas não podem ser avaliadas pela quantidade, como pretende o dignissímo "Paulus".
Infelizmente às obras académicas e científicas aplica-se aquela máxima das cadeias de aparelhos de alta-fidelidade:
Uma tese é tão boa quanto o pior que ela tem".
Está tudo dito. Portanto até poderia ter um milhão de páginas. Asneira é asneira. T'á.
Xor Z penso que está a dar importância demais ao trabalhito agora publicado. Leia a história do Calvin and Hobbes sobre um trabalho de casa sobre insectos, relata o seguinte:
Calvin tinha que fazer um trabalho sobre insectos. Lembrou-se de fazer então um trabalho sobre Morcegos. O pachorrento do Hobbes disse-lhe que Morcegos não eram insectos. Claro que são retorqui Calvin, aliás vou fazer uma belíssima capa de plástico para o meu trabalho que ninguém vai querer saber o que é que eu escrevi sobre insectos. E assim foi. Fez o trabalho, ecadernou-o exemplarmente e foi para a escola. Dizia orgulhosamente a todos para repararem na capa do seu trabalho sobre insectos (que falava, como sabemos, de Morcegos). Claro que por fim ninguém se interessou pela capa e toda a gente se riu por ter falado de morcegos pensando que eram insectos.
Eis o que se me oferece dizer sobre a publicação da INCM.
O "Paulus" quer insistir na capa de plástico e o XorZ quis ler o trabalho, e em vez das moscas encontrou a m... (Morcega, seus malandrecos!!!!).

TR

1:04 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Como suspeitava ...
Quem tanto clama que a crítica é salutar é quem mais se ofende com as críticas de que á alvo. Sempre ouvi dizer, sem acreditar confesso, que os mais ferozes adeptos, teóricos, da filsofia dialéctica são os que se escondem na dogmática. Foi só uma crítica à forma, caros senhores. Calma com tanta indignação. Esta não é a minha área e, como tal, não teco quaisquer comentários. A minha crítica, reitero, foi só quanto à forma. Já sei que sabem muito e que mmostram mais ainda. Desta última, não tenho dúvidas.

2:24 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Caro Paulo
Você vai mudando de conversa (porque argumentos como já disse ZERO) conforme as circunstâncias. Ó homem você é político?
Primeiro era a forma, mas a forma tomada pelo facto de só citar duas páginas. Para lhe mostrar que não era uma questão de 2 páginas fiz um testamento e você vem agora dizer que não é a sua área. Se isto é verdade porquê aquela indignação? É um Robin dos Bosques, um defensor dos fracos e oprimidos, ou é parente da senhora?
Depois disto tudo ainda tem a lata de vir dizer: calma com tanta indignação, com qual a sua, a minha, a do Alexandre, a do TR?
Não foi você que começou a "cagar de alto" perguntando qual o nosso currículo"?
Respeitosamente até nunca mais.

10:54 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uma crítica(zinha) fez estalar o verniz. Então?

9:57 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Que verniz???????
TR

10:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O que é um facto é que estes senhores julgam-se com o direito de criticar toda a gente e, num gesto prepotente, negam-se a que alguém os critique. Julgam-se donos da verdade, como ela se sujeitasse às suas visões e opiniões.

10:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele -- pensei eu cá com os meus botões -- há que ter cuidado, senão acabamos a falar com as paredes.

Miguel A.

12:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

n percebo nada de filsofia... tou só de passagem...

8:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

alguém me pode ajudar e dizer qual é a pior doença da alma?

8:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

hecceidade
[Do lat. med. haecceitate, hecceitate (lat. clás. haecceitas, atis < lat. haec, haecce, ‘esta’, f. de hic, + -(i)tas, atis [v. -(i)dade]).]
Substantivo feminino.
1.Filos. Segundo Duns Scot (v. scotismo), o princípio de individuação; ipseidade. [Var.: ecceidade.]

8:40 da tarde  

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