O Maior Monstro do Mundo
Na edição do Expresso deste sábado, João Pereira Coutinho publica um texto (intituldo "Saco cheio") na sua coluna semanal sobre a campanha iniciada pelo governo britânco para combater a obesidade e as doenças associadas a uma má alimentação. JPC é um daqueles liberais de direita (não, não se trata de um pleonasmo) que embirra solenemente com a intervenção do Estado nas várias dimensões da esfera pública. Mesmo que seja (e sobretudo se for) para melhorar a vida dos podiam viver melhor. No presente artigo, JPC acha condenável que o governo de Blair queira incentivar os britânicos a comer de forma mais saudável e a combater o excesso de peso. Para este comentador que passeia semanalmente a presunção e a arrogância na sua coluna, esta intervenção do Estado em assuntos "privados" revela-se sempre abusiva e castradora (castradora dos abusos do sistema económico devia ser...). O jovem analista chega mesmo a comparar esta atitude preventiva do governo britânico à classificação de pecado capital que a Igreja em tempos de intolerância (em que nem se sonhava com o Liberalismo) atribuira à gula.
Ora, o que o tenrinho não nos diz, mas nós sabemos, é que ele próprio é um beatozinho promovido pelo lóbi católico, quiça pela Opus Dei. Por isso quererá ignorar que a sua igrejinha sempre foi muito, muito mais intrometida e autoritária do que o Estado na imposição de preceitos, comportamentos e de formas de pensar dos cidadãos individuais. (Porque não a atacam os liberais e os neoliberais?)
Contudo, a minha principal objecção a tão tacanho argumento é outro. A direita neoliberal embirra com o Estado, odeia o Estado, queria ver o Estado retalhado e vendido aos privados (A Sonae comprava os tribunais, o Amorim a Polícia, a Al-aqaeda o Ministério da Defesa). Então mas será que não dá jeito à classe económica dominante que exista um Estado que promova a ordem pública, proteja os interesses desta classe e lhe conceda chorudas regalias (que é o que acontece)? O Estado é assim tão maroto? Ou será que os (neo)liberais cospem na sopa que os alimenta?
Para quem nasce com o cu virado para a lua e apenas se preocupa com o seu umbigo (como é o caso do petulantezinho JCP), as desigualdades, as injustiças sociais, o sofrimento dos desfavorecidos não chegam a ser problemas porque existem fora da redoma de vidro em que este grupo de pessoas vive. Nos casos em que se trata de bater o pé aos poderes hegemónicos do país, só nesses casos, o Estado torna-se o Maior Monstro do Mundo.
6 Comments:
(Ópramim brejeira...)
Então o querido JPC não vai permitir que o Estado se intro(meta) na sua vidinha quando e se tiver de fazer um exame à próstata? Será que pensa que num hospital privado o processo é mais conforme com a liberdade de cada um?
(pra já não falar do pecado que ele deve achar de tal coisa...ou não)
Adenda: juro que nem me lembrei do título do artigo dele!
Ah, ah, ah! Excelente comentário.
Antes de mais, cumpre confessar que não li o artigo, porque deixei de ler o "Espesso" na minha adolescência tardia.
Mas coitado do JPC, que não passaria dum epifenómeno perfeitamente irrelevante, não fora dar-se o caso de ser amostra estatisticamente relevante do "duplipensar" das (alegadas) elites portuguesas...
Sim, porque apesar da luta de classes, ou da sua inexistência, as nossas "elites" existem, p'ra mal dos nossos pecados (ou para nos fazer expiá-los "just-in-time").
Ficou de fora a assinatura da lauda supra, segue presentemente:
Miguel A.
Alexandrinho..o que tu querias mesmo era como ele, passear "(...) semanalmente a presunção e a arrogância (...)", numa colunazinha de um qq jornal, nao era??? A inveja é lixada, nao é??
Tu até tens tens alguma razão..o beatinho do JCP usa o Expresso para mandar recados da direita (bem) reaccionária.....mas quanto a presunção e arrogância entre ti e ele o diabo que escolha...
ICE
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