O arrasador argumento da direita
Num comentário a um post que escrevi sobre a queda dos impérios, profetizando indirectamente o fim da Pax Americana e aludindo à bellum iudicae, um(a) tal Sr.(ª) Iceberg veio congelar a minha argumentação contra o pernicioso domínio da América no mundo (e de Israel no Médio Oriente) com o demolidor comentário: "E pensava eu que V.Exc. iria falar do Império dos Irmãos Castro [...] O seu silencio [sic] sobre o tema é, como diria o outro, verdadeiramente insurdecedor [sic]". Miguel A. resumiu na mesma caixa de comentários a resposta a dar a um disparate destes: a ditadura castrista é tão hedionda e criminosa como qualquer ditadura de direita: "não há ditaduras de esquerda, apenas ditaduras".
Compreendo que os mentecaptos da direita (lá estou eu a incorrer em pleonasmos) necessitem de identificar toda esquerda com os regimes autocráticos (e nada de esquerda) de Stalin e de Castro. A acusação é arrasadora: no fundo, toda a esquerda é despótica e sanguinária. Para a direita é conveniente ignorar que a verdadeira esquerda (e mesmo os comunistas democratas, que ainda existirão, mas não em Portugal) se demarcou há décadas desses regimes. Prefere a direita acreditar que o pensamento progressista não evoluiu depois de Marx. Enganam-se os conservadores mais por vergonha do que por ignorância: custa-lhes aceitar que há quem se bata contra atentados à humanidade como as injustiças sociais, as desigualdades e os vários tipos de opressão.
Volto ao regime "del comandante" para alargar a acusação a outras figuras emblemáticas de uma certa esquerda que têm de ficar fora da galeria dos combatentes democráticos, tais foram os comportamentos despóticos que tiveram e os crimes que cometeram. Refiro-me ao icónico Che, mas também a uma figura lendária da minha adolescência, o anarquista Buenaventura Durruti, cujo quadragésimo aniversário da morte será em Novembro deste ano, mas que, pelas razões apontadas, não transformarei num momento de glorificação do combatente. Che e Durruti tinham ideias de esquerda. Mas quando a mão não acompanha o pensamento, o erro é imperdoável.
10 Comments:
Pois é, pois é!
Mas vocês esquerdistas quando falam da direita fazem a mesma coisa. Em 1º lugar há várias direitas (como deve haver várias esquerdas) - penso que me concede este argumento e, por consequência, nem toda a direita é igual. Nós também condenamos as ditaduras.
Por outro lado, quem disse que as causas sociais estão afastadas da direita? O problema é que não as tornamos o centro do Universo como vocês fazem.
Olhem mais para o umbigo e deixem de dizer tanto disparate.
Caro Alexandre,
eu considero-me uma pessoa de Direita (ou um liberal - num contexto não anglo-saxónico - se assim preferir) e não acho que seja apanágio exclusivo da Esquerda o combate por causas sociais. Considero que, no fim, quer Direita quer Esquerda têm essa condição - uns através de uma politica de fortalecimento do Estado na economia, outros pelo fortalecimento do tecido privado, outros por um equilibrio entre ambas as forças. Não separo a Esquerda como maléfica nem a Direita como benéfica.
Nem sequer considero as ditaduras fruto do extremismo de cada um dos lados, ou de um só - o fascismo de Mussolini (o chamado de Primeiro Fascismo) começou por ser um regime altamente Esquerdizado com leis que previam a separação e redistribuição de latifundios em minifundios (apenas quando os grandes proprietários investiram no partido para combaterem a ameaça vermelha é que se deu a viragem à Direita). Estaline, ao longo de uma ditadura históricamente considerada de Esquerda, também virou inumeras vezes a vicios de Direita.
Estará a pensar algo como: "mas como é que um liberal tem a lata de me dizer que luta por causas sociais?". Esta conversa daria pano para mangas mas digamos que me considero um pouco o utópico das Direitas. Aliás, sempre que um utópico de esquerda tenta ser fantasista comigo respondo que mais fantasista que eu não é de certeza: "sabes, é que eu ainda acredito na estupida mão invisivel que põe tudo no lugar, por isso não venhas com marxismos e engelismos para cima de mim".
Esqueci-me dos cumprimentos finais. Continue que tenho sido leitor assiduo dos seus posts e do Xor Z.
Abraço.
Caro rbf
Gostei da sua argumentação. Esqueceu-se que o regime de Salazar também teve preocupações sociais. A FNAT e o cooperativismo, por exemplo.
Caro RBF:
Obrigado pelo seu comentário. É isto que vale a pena nos blogues: termos um debate sério sobre estas questões relevantes e actuais que outros querem varrer para debaixo do tapete.
Vou começar com um esclarecimento, que espero não pareça uma lição professoral, por não se trata disso. Peço-lhe, RBF, e peço também ao Xor Z, que sabe mais sobre o assunto que eu, que me corrijam se cometer alguma incorrecção. O Liberalismo, por si só, não é um conceito de direita. Há liberalismo político, liberalismo económico, liberalismo social, liberalismo moral, etc. O liberalismo económico é associado ao capitalismo e daí a uma certa direita, por oposição à estatização da economia defendida pela esquerda. (No entanto, como se percebe nas entrelinhas do último comentário de Z, a estatização da economia é também defendida por várias direitas. Os regimes fascistas, como o Salazarismo, são apenas um exemplo.) Os restantes liberalismos são eminentemente de esquerda: o liberalismo político, que veio combater o Absolutismo; o social e indivudual, que defende a liberdade e o valor do indivíduo (a direita não gosta das diferentes acepções de Liberdade: liberdade na escolha de um modo de vida, liberdade sexual, liberdade de ser diferente, etc.), e por aí em diante. Na sua origem, o Liberalismo foi progressita e revolucionário.
Para a minha resposta ser curta, centro-me num ponto que focou no seu comentário bem argumentado e com ideias acertadas - concordo completamente com o que diz sobre as ditaduras e sobre Mussolini.
Começo por repetir que alinho na esquerda democrática, que condena o estalinimo, o PCP e outras pseudo-esquerdas despóticas. Não sou marxista e enquadro-me numa linha pós-marxista. (E não sou BE!)O que quer isto dizer resumidamente? Que ainda há problemas de discriminação, de desfavorecimento de alguns, de opressão, de depreciação a que muitos indivíduos e muitos grupos sociais são sujeitos. Quem os oprime? Primeiramente, as classes e as instituições dominantes com as estratégias usam para o fazer.
Defender esses desfavorecidos ou oprimidos sociais e TRANSFORMAR A SOCIEDADE para que esses problemas acabem é a causa da verdadeira esquerda. A direita está satisfeita com o status quo dominante. Não quer alterar as relações de poder, as hierarquias sociais, as desigualdades económicas, as formas de depreciação e de opressão. E porquê? Porque precisam dessas estratégias para sedimentar o seu poder, o seu domínio. (Ver Alhthusser, Foucault, Bourdieu, et alia.)
As supostas causas sociais da direita são pequeninas, inconsequentes e (algumas delas) hipócritas. A luta contra a legalização do aborto é levada de forma incoerente e hipócrita. A ajuda aos pobrezinhos é uma hipocrisia ainda maior. A defesa da família é, na prática, uma incongruência face à prática quotidiana assumida pelos militantes da direita; etc, etc, etc.
Mais não avanço para o comentário não ficar ainda mais pesado.
Despeço-me com um abraço de estima sincera por si, estima que se baseia nos posts que leio no seu interessante blogue, na mente aberta que lhe reconheço e na sua honestidade intelectual.
Caro adp
Não sei porquê mas parece que sofre de alguma dislexia mental ao confundir-me com o seu confrade, esse perigoso esquerdista que intenta artigos para demolir a direita.
O erro é realmente imperdoável, Sr. Mariotte. Como é que eu fui confundir uma pessoa alcansadíssima de inteligência e com as posições bafientas do Cavalheiro com o espirituoso e esclarecido Z. Tenho mesmo de pedir mil perdões ao meu confrade porque a associação lhe suja o nome. Passe bem.
Caro Alexandre Dias Pinto,
apenas para apontar que talvez não devesse "incorrer em pleonasmos" ao escrever "mentecaptos da direita": daqui se depreende que ou todos os mentecaptos são de direita (o que deixa depois a entender que não será o caso, visto considerar que a "verdadeira esquerda" ter-se-á afastado há muito de "regimes autocráticos"), ou que todos os de direita são mentecaptos (pelo que a "mente aberta" que reconhece a RBF seria apenas uma piada).
Apenas gostaria de acrescentar que considero que não necessita de argumentos tão veementes (chamemos-lhes assim) para fazer ver o seu ponto de vista, e que não podia concordar mais com aquilo que diz valer a pena nos blogues (apesar de no meu caso passar mais vezes pela mera leitura do que pela discussão em caixas de comentários).
Cumprimentos.
Caro Alexandre,
Uma adenda ao teu comentário, porque gosto da precisão dos factos:
Contráriamente ao que se pensa, no PCP as coisas não são estáticas. E já se demarcou de Stalin há anos. Hoje é um partido marxista-leninista.
E, se 1º parágrafo pode gerar polémica, os dois últimos, não.
*substituir "parágrafos" por "frases".
(esta verve já não é o que era)
:)
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