quarta-feira, agosto 09, 2006

O arrasador argumento da direita

Num comentário a um post que escrevi sobre a queda dos impérios, profetizando indirectamente o fim da Pax Americana e aludindo à bellum iudicae, um(a) tal Sr.(ª) Iceberg veio congelar a minha argumentação contra o pernicioso domínio da América no mundo (e de Israel no Médio Oriente) com o demolidor comentário: "E pensava eu que V.Exc. iria falar do Império dos Irmãos Castro [...] O seu silencio [sic] sobre o tema é, como diria o outro, verdadeiramente insurdecedor [sic]". Miguel A. resumiu na mesma caixa de comentários a resposta a dar a um disparate destes: a ditadura castrista é tão hedionda e criminosa como qualquer ditadura de direita: "não há ditaduras de esquerda, apenas ditaduras".
Compreendo que os mentecaptos da direita (lá estou eu a incorrer em pleonasmos) necessitem de identificar toda esquerda com os regimes autocráticos (e nada de esquerda) de Stalin e de Castro. A acusação é arrasadora: no fundo, toda a esquerda é despótica e sanguinária. Para a direita é conveniente ignorar que a verdadeira esquerda (e mesmo os comunistas democratas, que ainda existirão, mas não em Portugal) se demarcou há décadas desses regimes. Prefere a direita acreditar que o pensamento progressista não evoluiu depois de Marx. Enganam-se os conservadores mais por vergonha do que por ignorância: custa-lhes aceitar que há quem se bata contra atentados à humanidade como as injustiças sociais, as desigualdades e os vários tipos de opressão.
Volto ao regime "del comandante" para alargar a acusação a outras figuras emblemáticas de uma certa esquerda que têm de ficar fora da galeria dos combatentes democráticos, tais foram os comportamentos despóticos que tiveram e os crimes que cometeram. Refiro-me ao icónico Che, mas também a uma figura lendária da minha adolescência, o anarquista Buenaventura Durruti, cujo quadragésimo aniversário da morte será em Novembro deste ano, mas que, pelas razões apontadas, não transformarei num momento de glorificação do combatente. Che e Durruti tinham ideias de esquerda. Mas quando a mão não acompanha o pensamento, o erro é imperdoável.

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Pois é, pois é!
Mas vocês esquerdistas quando falam da direita fazem a mesma coisa. Em 1º lugar há várias direitas (como deve haver várias esquerdas) - penso que me concede este argumento e, por consequência, nem toda a direita é igual. Nós também condenamos as ditaduras.
Por outro lado, quem disse que as causas sociais estão afastadas da direita? O problema é que não as tornamos o centro do Universo como vocês fazem.
Olhem mais para o umbigo e deixem de dizer tanto disparate.

12:20 da manhã  
Blogger RBF said...

Caro Alexandre,

eu considero-me uma pessoa de Direita (ou um liberal - num contexto não anglo-saxónico - se assim preferir) e não acho que seja apanágio exclusivo da Esquerda o combate por causas sociais. Considero que, no fim, quer Direita quer Esquerda têm essa condição - uns através de uma politica de fortalecimento do Estado na economia, outros pelo fortalecimento do tecido privado, outros por um equilibrio entre ambas as forças. Não separo a Esquerda como maléfica nem a Direita como benéfica.

Nem sequer considero as ditaduras fruto do extremismo de cada um dos lados, ou de um só - o fascismo de Mussolini (o chamado de Primeiro Fascismo) começou por ser um regime altamente Esquerdizado com leis que previam a separação e redistribuição de latifundios em minifundios (apenas quando os grandes proprietários investiram no partido para combaterem a ameaça vermelha é que se deu a viragem à Direita). Estaline, ao longo de uma ditadura históricamente considerada de Esquerda, também virou inumeras vezes a vicios de Direita.

Estará a pensar algo como: "mas como é que um liberal tem a lata de me dizer que luta por causas sociais?". Esta conversa daria pano para mangas mas digamos que me considero um pouco o utópico das Direitas. Aliás, sempre que um utópico de esquerda tenta ser fantasista comigo respondo que mais fantasista que eu não é de certeza: "sabes, é que eu ainda acredito na estupida mão invisivel que põe tudo no lugar, por isso não venhas com marxismos e engelismos para cima de mim".

8:49 da tarde  
Blogger RBF said...

Esqueci-me dos cumprimentos finais. Continue que tenho sido leitor assiduo dos seus posts e do Xor Z.

Abraço.

8:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro rbf
Gostei da sua argumentação. Esqueceu-se que o regime de Salazar também teve preocupações sociais. A FNAT e o cooperativismo, por exemplo.

10:05 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Caro RBF:

Obrigado pelo seu comentário. É isto que vale a pena nos blogues: termos um debate sério sobre estas questões relevantes e actuais que outros querem varrer para debaixo do tapete.

Vou começar com um esclarecimento, que espero não pareça uma lição professoral, por não se trata disso. Peço-lhe, RBF, e peço também ao Xor Z, que sabe mais sobre o assunto que eu, que me corrijam se cometer alguma incorrecção. O Liberalismo, por si só, não é um conceito de direita. Há liberalismo político, liberalismo económico, liberalismo social, liberalismo moral, etc. O liberalismo económico é associado ao capitalismo e daí a uma certa direita, por oposição à estatização da economia defendida pela esquerda. (No entanto, como se percebe nas entrelinhas do último comentário de Z, a estatização da economia é também defendida por várias direitas. Os regimes fascistas, como o Salazarismo, são apenas um exemplo.) Os restantes liberalismos são eminentemente de esquerda: o liberalismo político, que veio combater o Absolutismo; o social e indivudual, que defende a liberdade e o valor do indivíduo (a direita não gosta das diferentes acepções de Liberdade: liberdade na escolha de um modo de vida, liberdade sexual, liberdade de ser diferente, etc.), e por aí em diante. Na sua origem, o Liberalismo foi progressita e revolucionário.

Para a minha resposta ser curta, centro-me num ponto que focou no seu comentário bem argumentado e com ideias acertadas - concordo completamente com o que diz sobre as ditaduras e sobre Mussolini.

Começo por repetir que alinho na esquerda democrática, que condena o estalinimo, o PCP e outras pseudo-esquerdas despóticas. Não sou marxista e enquadro-me numa linha pós-marxista. (E não sou BE!)O que quer isto dizer resumidamente? Que ainda há problemas de discriminação, de desfavorecimento de alguns, de opressão, de depreciação a que muitos indivíduos e muitos grupos sociais são sujeitos. Quem os oprime? Primeiramente, as classes e as instituições dominantes com as estratégias usam para o fazer.

Defender esses desfavorecidos ou oprimidos sociais e TRANSFORMAR A SOCIEDADE para que esses problemas acabem é a causa da verdadeira esquerda. A direita está satisfeita com o status quo dominante. Não quer alterar as relações de poder, as hierarquias sociais, as desigualdades económicas, as formas de depreciação e de opressão. E porquê? Porque precisam dessas estratégias para sedimentar o seu poder, o seu domínio. (Ver Alhthusser, Foucault, Bourdieu, et alia.)

As supostas causas sociais da direita são pequeninas, inconsequentes e (algumas delas) hipócritas. A luta contra a legalização do aborto é levada de forma incoerente e hipócrita. A ajuda aos pobrezinhos é uma hipocrisia ainda maior. A defesa da família é, na prática, uma incongruência face à prática quotidiana assumida pelos militantes da direita; etc, etc, etc.

Mais não avanço para o comentário não ficar ainda mais pesado.

Despeço-me com um abraço de estima sincera por si, estima que se baseia nos posts que leio no seu interessante blogue, na mente aberta que lhe reconheço e na sua honestidade intelectual.

10:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro adp
Não sei porquê mas parece que sofre de alguma dislexia mental ao confundir-me com o seu confrade, esse perigoso esquerdista que intenta artigos para demolir a direita.

4:34 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

O erro é realmente imperdoável, Sr. Mariotte. Como é que eu fui confundir uma pessoa alcansadíssima de inteligência e com as posições bafientas do Cavalheiro com o espirituoso e esclarecido Z. Tenho mesmo de pedir mil perdões ao meu confrade porque a associação lhe suja o nome. Passe bem.

10:58 da manhã  
Blogger mago said...

Caro Alexandre Dias Pinto,

apenas para apontar que talvez não devesse "incorrer em pleonasmos" ao escrever "mentecaptos da direita": daqui se depreende que ou todos os mentecaptos são de direita (o que deixa depois a entender que não será o caso, visto considerar que a "verdadeira esquerda" ter-se-á afastado há muito de "regimes autocráticos"), ou que todos os de direita são mentecaptos (pelo que a "mente aberta" que reconhece a RBF seria apenas uma piada).

Apenas gostaria de acrescentar que considero que não necessita de argumentos tão veementes (chamemos-lhes assim) para fazer ver o seu ponto de vista, e que não podia concordar mais com aquilo que diz valer a pena nos blogues (apesar de no meu caso passar mais vezes pela mera leitura do que pela discussão em caixas de comentários).

Cumprimentos.

5:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Alexandre,

Uma adenda ao teu comentário, porque gosto da precisão dos factos:
Contráriamente ao que se pensa, no PCP as coisas não são estáticas. E já se demarcou de Stalin há anos. Hoje é um partido marxista-leninista.
E, se 1º parágrafo pode gerar polémica, os dois últimos, não.

6:49 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

*substituir "parágrafos" por "frases".

(esta verve já não é o que era)
:)

6:56 da manhã  

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