domingo, outubro 08, 2006

Então Sócrates não era contra os sofistas e a "dê-ma gorgia"?

É 1h30 da manhã e ainda estou a preparar aulas. Sou professor, isto é, um membro dessa classe mais desprezível que os ladrões, os escroques e os políticos corruptos. A forma desdenhosa como a sociedade me olha prova que minha vocação se revelou uma errada opção profissional. E que papalvos somos, os meus colegas e eu, que tudo fazemos para educar os nossas alunos e para contribuir para um mundo melhor.
O Sr. Primeiro-Ministro e a Ministra da Educação muito têm feito para denegrir a imagem dos professores. Têm feito muito mesmo. Perceberam cedo que denegrir os professores cativava a opinião pública (que contra esta classe profissional tinham uma enorme má vontade), e vai de dar porrada neles para subir nos barómetros da popularidade.
A última frase demagógica, o último ataque desonesto aos Professores deu-se ontem quando Sócrates comentou as razões que levam os docentes a fazer greve nos próximos dias. Afirmou o PM que estes tinham de se convencer que não podiam chegar TODOS ao topo da carreira. Foi desonesto, foi demagógico, foi canalha. As reivindicações dos Professores não se centram nesta questão. Os docentes querem ser avaliados, mas justamente; querem ter melhores condições de trabalho para melhor formarem os seus alunos; querem que se compreenda que são necessárias horas extra-lectivas para se prepararem boas aulas; querem ter direito à formação para se tornarem melhores professores. (Ver aqui o caderno reivindicativo.) Mas, de forma demagógica e desonesta o PM resolveu ignorar a verdade dos factos e deitar areia para os olhos da opinião pública. Parece que ele e a Ministra da Educação acreditam mesmo que enxovalhar os docentes é um bom caminho para se ter um ensino de qualidade.
.
Bom, é 1h55. Tenho de continuar a preparar as minhas aulas.

6 Comments:

Blogger Woman Once a Bird said...

Bem, parti-me a rir com o título.
Tão mau uso dá o senhor ao nome, credo!

11:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Alexandrinho....tem toda a razão..infelizmente...e a tendência é para piorar...
Iceberg

6:36 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Alexandre, mas tu és mesmo professor por vocação ou és professor apenas porque o teu curso não serve para mais nada?

5:09 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Pergunta provocatória, amiga alpina. Eh eh eh!

Conhece-me a minha amiga o suficiente para saber que é por vocação. Mas agora imagine o que diria um engenheiro "por vocação" que tivesse de trabalhar debaixo da ponte que ele estava a projectar e da qual se soltavam constantemente pedras (umas grandes, outras maiores). O que diria ele? Muito simplesmente isto: assim não tenho condições para trabalhar. E dizia mais: porque tenho de fazer o projecto debaixo da ponte? O mesmo dizem os professores: porque temos nós de trabalhar nestas condições? Não é uma inevitabilidade que tenhamos que gramar a má educação e a indisciplina das criancinhas. Nós até queremos trabalhar a sério.

Mas a minha amiga já viu que, hoje, só a uma profissão se exige máxima vocação: aos professores. Um mecânico não tem de ter vocação, tem de cumprir. Um empresário não tem de ter vocação, tem de cumprir. Uma cabeleireira não tem de ter vocação, tem de cumprir. Então porque c*r**ho têm de ser os professores os únicos obrigados a ter vocação?

8:39 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Bem, a questão não é só a vocação, mas o quase espírito missionário que se pede aos professores. Porque toda a gente espera deles que cumpram essa missão. A questão pertinente é se é lícito demandar-se isso ou se deve esperar apenas que cumpram o seu trabalho do modo mais eficaz possível. Ou o meio termo será o recomendável?

1:26 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Nem missionário, nem funcionário - dizia-se há uns tempos.

10:13 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home