O exemplo socrático
Iluminados pelo preclaro exemplo do “nosso primeiro” que, num momento de honestidade, se recusou a comentar, de modo ostensivo, a manifestação de hoje, que contava (segundo as fontes que escutámos) entre 80 a 100 mil pessoas, contra a política do governo, decretamos o que se segue: os médicos devem escapulir-se, contumazmente, a dar explicações a familiares de pacientes com doenças terminais; os empregados de mesa, usando todos os recursos que a imaginação puser à sua disposição, devem enjeitar, terminantemente, a possibilidade de explicar, ao cliente, a conta; os professores, com a determinação que a vocação lhes proporciona, devem esquivar-se, pertinazmente, a responder às dúvidas de alunos e encarregados de educação; os condutores de autocarro devem, com as armas que Deus lhes deu, banir as paragens em locais onde os passageiros os esperem; os advogados devem sair encapuçados e pela porta do cavalo, como o raptor-assaltante do banco de Setúbal, sempre que os seus clientes forem condenados e maiores preocupações de índole escapulidora devem ser tomadas se o pobre do cliente, ainda para mais, estiver inocente; e os condutores de táxi estão proibidos, peremptoriamente, de nos deixar nos locais para os quais fazemos tenção de nos dirigir.
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