quarta-feira, janeiro 30, 2008

“Coimbra, 30 de Janeiro de 1951”

« Há dias em que concebo a humanidade inteira a escrever um diário como este, mais sincero ainda e secreto. Cada indivíduo, no recato da noite, a dar expressão consciente à sua vida, depois de ter passado o dia a dar expressão inconsciente à sua morte. Uma humanidade que deixasse o seu testemunho autêntico nas gavetas da secretária, já que não pode mostrar-se à luz do sol tal como é. Desabafos de menina contrariada no seu amor? Timidez de Amiel? Tudo isso, mas também a preservação duma consciência que torce mas não quebra, que persiste, que insiste, e que apesar de tudo tem esperança, porque não há palavra que se escreva sem esperança. »

Miguel Torga, Diário, vol. V.

1 Comments:

Blogger Pedro Isidoro said...

Vem a propósito dizer que o Amiel citado é o escritor suísso Henri-Frédéric Amiel, autor dum famoso Journal Intime, que escreveu ao longo de 42 anos e conta cerca de 17 000 páginas...

Dele, pôs o nosso Torga em cada um dos 16 volumes do Diário esta epígrafe: " Chaque jour nous laissons une partie de nous-mêmes en chemin."

(Deixamos em cada dia uma parte de nós próprios pelo caminho.)

11:33 da tarde  

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