sábado, janeiro 26, 2008

"Sobre a Língua Portuguesa", de Robert Southey

«Os Latinistas [que estudam a língua portuguesa] condenam os superlativos como bonissimo, malissimo, grandissimo, humildissimo e insistem em defender o uso de anomalias como optimo, pessimo, maximo, humilissimo, &c. Esta forma de encarar a língua, julgando o português pela sua analogia com o latim, acaba por resultar numa forma de corrupção do idioma. António das Neves Pereira observa: “Esta gente não se contenta com o facto de a língua portuguesa, como filha do latim, ter a carne e o esqueleto da sua progenitora, exigindo também a sua pele, a sua compleição e os demais traços.” “Sendo esta uma língua de palavras graves e sérias”, continua Neves Pereira, “seria mais digna para ser usada num convento cartuchinho do que para se misturar com os negócios e as conversas mundanas.”

Os puristas excomungam certas palavras como por capricho.

As lisonjas extravagantes que os autores portugueses esbanjam reciprocamente, desiludem o leitor e enojam e arruínam o elogiado.

[…] Enquanto língua, o português é um idioma com uma distribuição proporcionada de vogais e consoantes – ou seja, tem os ossos necessários para ter solidez, não sendo apenas ossos como o alemão.

Esta filha mais velha do latim foi a serva dos godos e a escrava dos mouros.

Reina uma moda na língua. A escolha de expressões dos melhores autores do português foi macaqueada [aped em inglês] pela, e acaba por influenciar a, oralidade. Desta forma, tais expressões tornaram-se cansativas e banais. Aqueles que não conseguiam montar Pegasus socorreram-se desta sela, sujaram-na e usaram-na até ficar gasta e em farrapos.

A moda das palavras francesas condenou alguns dos termos vernáculos ao desuso. Os fantoches da altura passaram a apelidar as palavras legítimas dos velhos autores, as “cisternas impolutas” da língua portuguesa, com epítetos como góticas, ferrugentas e obsoletas. Para os jovens compreenderem a sua língua mãe, é-lhes mais útil um dicionário de Francês do que um de Português. Tal facto é responsável por alterações na construção da frase. A estrutura da língua assenta na sintaxe invertida, que, não sendo confusa e difícil, confere a sua variedade, enquanto o francês possui uma fraseologia linear. Como resultado, as traduções têm empobrecido e aviltado o português.

A História da língua portuguesa divide-se em três épocas:
1. Desde a fundação da monarquia até Afonso V: quatro séculos.
2. Daí até Sebastião.
3. De então até ao presente.»