“Coimbra, 20 de Maio de 1947”
« (…) Poucos devem ter tido no mundo a minha sorte: ser um homem inteiramente livre. Com todas as minhas limitações e todas as dificuldades que encontrei, consegui aguentar-me à tona da enxurrada sem descrer da humanidade e da beleza. O meu coração e a minha razão nunca se deixaram perverter, nem na cadeia nem fora dela. Permaneci na minha pureza natural, cidadão livre do mundo e português. Mas não há dúvida que para a maioria, me cerquei de arame farpado. É inegável que fechei muitas portas a quem talvez as devesse abrir, mesmo se quando tentei fazê-lo me entrou por elas um vendaval. Mas só devagar fui aprendendo que a alma não se defende com paliçadas à volta. A alma defende-se abrindo-se de par em par à vista de toda a gente.»
Miguel Torga, Diário, vol. IV.
Miguel Torga, Diário, vol. IV.
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