Touros e identidade ribatejana
Sexta-feira passada foi a grande noite da Feira de Maio de Azambuja. Nunca tinha participado nesta tradicional festa ribatejana. (Reconheço que até há cerca de dois anos atrás o Ribatejo dizia-me muito pouco.) Este ano, a minha ligação profissional à Azambuja, a minha próximidade a vários colegas azambujenses e a promessas de álcool e de opíparas iguarias convenceram-me a juntar-me à "mais castiça [festa] do Ribatejo".
Não me enganou quem me prometeu bebida, boa comidinha e animação. Mas a minha animação não foi feita a expensas dos touros que foram largados nas ruas da vila ribatejana. Pelo contrário, o suplício a que os animais são expostos quase me levaram a arrepender-me de ter ido à Feira de Maio. Ouvira antes justificações que defendiam falaciosamente as largadas de touros como um espectáculo diferente das touradas: sem violência, sem sofrimento para o gado. Não fiquei convencido. Vi um animal desorientado, muito desorientado, certamente com elevadíssimos índices de tensão. Fisicamente o touro correu riscos imensos de se ferir nos vários obstáculos existentes na vila: vedações, árvores, pelourinho, buracos, etc. Um touro não é um animal urbano, apesar do que as verdadeiras bestas urbanas nos quererem fazer crer. Cada vez me parecem mais bárbaros os espectáculos de utilização de animais para diversão do Homem que envolvem risco ou sofrimento para a criatura. Sobre isso já escreveram Herculano, Rebelo da Silva ou Torga, entre outros.
(A música do vídeo intitula-se "Matador" e é dos Xmal Deutschland. Transcrevo uma excerto da letra da canção:
"Oh was fur ein fest
Take the red carnation
Carina
Place it in your hair
run to the arena
Give it to your matador
Matador....
Oh was fur ein fest
Spectacular - and in the avenidas
They celebrate the game
loud about devotion or death
Matador
Matador....
Your grace and your pose
Knows only one target
Legend and masquerade
For ever more
Gets wilder and wilder
Excited
Banderillas
Coloured knives are flashing
For the fight!")
2 Comments:
Boa, só me faltava esta: não me digas que passaste a ser sensível e a ter sentimentos. Qualquer dia começas a dar leitinho aos gatos abandonados.
Estas barbaridades irão sempre realizar-se enquanto houver público sedento de sangue e de violência para se deleitar com elas. Já era assim quando os romanos atiravam cristãos aos leões. Aposto que se se repetisse esse espectáculo nos dias de hoje esgotava a lotação. No fundo não evoluímos nada: há sempre público para assistir aos apedrejamentos, lutas de galos e de cães, electrocução, tortura, guerras em directo, acidentes na estrada, enforcamentos, imolações, um cão aprisionado a morrer de fome como peça de arte...
Concordando ou não com o sofrimento desnecessário dos bichos, a verdade é que cada pessoa que vai à feira é um cúmplice desse sofrimento. Os autarcas da Azambuja nunca se dariam ao trabalho se as ruas estivessem vazias. O sofrimento do animal vale menos do que os comes e bebes. Para bom entendedor...
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