"Coimbra, 4 de Junho de 1992"
« Conferência internacional do Rio de Janeiro para defesa do ambiente físico. Do metafísico, já ninguém cuida. E, do outro, mais valia que os delegados, em vez de discursos sujos, lavassem a hipocrisia, nas águas ainda lustrais de Guanabara. O mundo está irremediavelmente perdido, porque é incorrigível a voracidade capitalista e a nossa obstinação consumista. Queremos, queremos, queremos. E os abnegados senhores do progresso, fabricam, fabricam. (…) Contemporâneos passivos de uma civilização técnica e industrial, que nos serve o necessário poluído e o supérfluo esterilizado, já nem sequer nos indignamos de a ver acabar assim, pletórica e podre. Sornamente, vamos vegetando intoxicados, na esperança secreta de que o dilúvio não acontecerá na nossa vida, e, se acontecer, haverá sempre na Arca de salvação lugar para mais um. »
Miguel Torga, Diário, vol. XVI.
[ Exactamente um ano depois, não desistia, ele, de cuidar “do metafísico”, aliás não sem ressonâncias “do outro”…]
"Coimbra, 4 de Junho de 1993"
« O que me vai valendo e dando coragem para continuar, é ter a certeza de que os impulsos que levam a cada gesto que faço são ainda puros como na primeira hora. Se não fico contente com os actos que pratico, consola-me a convicção de que os motivou uma pulcritude original. Do mal, o menos. Ao fim e ao cabo, a dignidade da vida reduz-se a um propósito limpo cumprido como Deus é servido. Não há existência quimicamente pura. Nem a dos santos. É da própria natureza que o tempo e as circunstâncias corrompam e degradem o que nela vem à luz imaculado em todas as natividades.»
Miguel Torga, Diário, vol. XVI.
Miguel Torga, Diário, vol. XVI.
[ Exactamente um ano depois, não desistia, ele, de cuidar “do metafísico”, aliás não sem ressonâncias “do outro”…]
"Coimbra, 4 de Junho de 1993"
« O que me vai valendo e dando coragem para continuar, é ter a certeza de que os impulsos que levam a cada gesto que faço são ainda puros como na primeira hora. Se não fico contente com os actos que pratico, consola-me a convicção de que os motivou uma pulcritude original. Do mal, o menos. Ao fim e ao cabo, a dignidade da vida reduz-se a um propósito limpo cumprido como Deus é servido. Não há existência quimicamente pura. Nem a dos santos. É da própria natureza que o tempo e as circunstâncias corrompam e degradem o que nela vem à luz imaculado em todas as natividades.»
Miguel Torga, Diário, vol. XVI.
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