quarta-feira, janeiro 13, 2010

ANO VELHO...


Na tradição cultural do Ocidente, ficou com o nome grego philosophia uma peculiar maneira de alguns indivíduos do homo sapiens tratarem consigo, com os outros da sua espécie, o mundo e o sagrado. De essa posição existencial ressaltou imediatamente uma nota característica e distintiva: - a singularidade pessoal. Decerto, a Filosofia, com este nome grego ou qualquer outro, é coisa universal, uma possibilidade própria do sapiens, como disse; mas com ela encontramo-nos pela primeira vez com um certo tipo de pensamento originariamente imputável a pessoas individuais, singulares, historicamente concretas e situadas, que podemos responsabilizar e nomear com identidade própria: desde Tales, nascido na cidade de Mileto pelo último quartel do século VI a. C..

Já aqui, lembrando esse primeiro «filósofo» a que a História atribui tal nome, lembrei uma história que põe em confronto Tales com uma anónima mulher velha, sábia de uma sabedoria inimputável a pessoas individuais, anónima, colectivamente assumida e oralmente transmitida, geração após geração. Muito possivelmente Pitágoras, certamente Parménides e Platão, não desdenharam usar dessa sabedoria, e mesmo Aristóteles lhe reconheceu a importância. Em vias de extinção, com a crescente urbanização e industrialização das sociedades – e a escolarização dos indivíduos num tipo diferente de cultura, alfabetizada, letrada e «científica» -, é mais uma das «ironias» da História que viessem a ser as ciências, filhas e herdeiras da Filosofia, a interessar-se por recolher e fixar em letra impressa as narrativas dessa sabedoria, oral e desconfiada (ou mesmo adversa) da escrita, salvando-a do total desaparecimento.

Expressões exemplares típicas dela são os «ditados» ou «provérbios». Faço questão de deixar aqui na ciberesfera alguns desses portugueses tirados do «espantosamente rico tesouro da sabedoria tradicional da nação», como reconhecia a distinta e doutíssima senhora Carolina Michaelis de Vasconcelos, nascida alemã. Escolhi os que respondem aos objectos gerais e fundamentais que interessam à Filosofia, e que, por isso mesmo, correspondem aos interesses mais permanentes ou mais resistentes ao tempo e à variedade dos modos sociais dos humanos, pelo menos enquanto estes ainda forem... sapiens.

Não se tema o leitor de cair, como Tales, num poço donde nos chegam lá do fundo dos tempos ecos como os repetidos a seguir. –