Roberto Nobre e a sua amizade com Ferreira de Castro
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Transcrevo (com autorização da autora) um excerto de um texto de Filipa Palma (que em 2003 era aluna do 11º ano da E. S. de São Brás de Alportel) sobre o tema em epígrafe. O texto completo encontra-se no livrinho Roberto Nobre: Fragmentos de um Legado.
“Roberto Nobre e Ferreira de Castro eram dois tecelões de sonhos literários e artísticos, sonhos que se ligavam aos seus anseios de fraternidade e justiça. Segundo Ferreira de Castro, foram companheiros nas alegrias e nas dores e só no fim das suas vidas os elos que os uniam se quebraram. Afirmou o autor de A Selva que, com o desaparecimento de Nobre, alguma coisa morrera dentro nele para sempre.
Ferreira de Castro vivia então da escrita que produzia para diversas publicações. Quando Nobre chegou a Lisboa, Castro solidarizou-se com ele e pediu aos directores dos jornais para encarregarem o jovem sambrasense das ilustrações dos seus trabalhos. Mas a ligação entre os dois prolongava-se para lá do trabalho. Todas as noites Ferreira de Castro e Roberto Nobre se reuniam com Assis Esperança numa pastelaria da Avenida da Liberdade, quando esta estava deserta. No verão sentavam-se ao ar livre, à mesa de uma esplanada de raros clientes onde pouco dinheiro despendiam. Em conjunto sonhavam não apenas com o seu futuro artístico, mas também com uma sociedade justa para todos os homens. Além disso, noite após noite, com uma persistência elevada, Nobre decorou o pequeno gabinete de trabalho que Ferreira de Castro tinha na Rua do Diário de Notícias, no número 44. […]
Roberto Nobre teve então um casamento precoce que dificultou ainda mais a sua vida. Assim empenhou-se arduamente, redobrou os seus esforços quotidianos, trabalhando desesperadamente em várias revistas que a Bertrand publicava na altura. […]
Algum tempo depois, o lar de Nobre desmoronou-se e ele voltou ao convívio antigo com Ferreira de Castro. Ilustrou, então, um livro de Ferreira de Castro intitulado Pequenos Mundos e Velhas Civilizações, como já dez anos antes havia ilustrado a Epopeia do Trabalho. Mas com o passar do tempo a actividade de ilustrador foi dando lugar à de ensaísta, que se tornou dominante. À crítica de cinema juntou a de artes plásticas, onde, segundo Ferreira de Castro, triunfou também. […]”
Ricardo António Alves editou e publicou o livro: Ferreira de Castro e Roberto Nobre: Correspondência, 1922-1969, Lisboa, C. M. de Sintra, 1994. Na fotografia estão, claro está!, os dois artistas. Desconheço quem foi o autor da foto.
1 Comments:
Que interessante ver a fotografia aqui! Retirei-a da revista «Eva», de 1953, mas reporta-se a duas décadas antes, na esplanada da «Veneza», onde se situava a tertúlia deles. «A tertúlia dos anarquistas», como alguns a denominavam...
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