sábado, junho 10, 2006

O grande capital não tem pátria

Depois de a PT ter usado o hino nacional num seu anúncio televisivo, eis que são o Expresso e o Banco Espírito Santo a tirar partido ´de um símbolo nacional para fazer publicidade. Refiro-me ao facto de a bandeira portuguesa que é oferecida na edição de ontem do Expresso ter inscritos, no canto inferior esquerdo, os nomes do semanário e do BES.
O meu sentimento pátrio não fica horrorizado ao ver a bandeira "profanada" e convertida em veículo publicitário; mas isso é apenas porque, pessoalmente, os símbolos pátrios não me dizerem assim tanto. (Tenho orgulho em ser português, mas antes sou cidadão da humanidade; no conflito entre o Estado e a humanidade - em matérias de imigração, discriminação, desigualdade - defendo a segunda.) Ainda assim, não aprovo esta apropriação de um emblema tão importante para a comunidade de que faço parte.
Desagradam-me muito as contradições oportunistas das empresas e do capitalismo. Fazendo os grandes empresários parte da classe hegemónica que domina os sistemas económico e o social e que se diz defensora da tradição, dos valores "mais altos" e da ideia de Portugal, acabam por denunciar a forma como realmente vêem a pátria nestes momentos. Pátria e nação são ideias mercantilizáveis, comercializáveis como qualquer outro produto. Os valores nacionais que propalam acabam por se prostituir à lei do mercado.

5 Comments:

Blogger Ricardo António Alves said...

...mas completamente na mouche!

4:59 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

O assunto glosado neste post serve também de mote para o texto "Proxenetismo social", no blogue Abencerragem (http://abencerragem.blogspot.com/), de Ricardo António Alves

6:00 da tarde  
Blogger Xor Z said...

Será "tirar partido dum (e não um) símbolo nacional", malditas gralhas.

10:24 da tarde  
Blogger Alexandre Dias Pinto said...

Caro Frebelo3:

Claro que os Estados e as nações existem e a estes nos ligam sentimentos de pertença e de identidade. Igualmente concordo que a ideia de diversidade cultural é um dos maiores deslumbramentos que a humanidade nos oferece. Daí a grande azia que a globalização me causa.

Só não afino pela sua nota quando diz que falar em "cidadão da humanidade" é um lugar comum (repare que eu não escrevi o socrático "cidadão do mundo"!). Explicando-me brevemente, dir-lhe-ei que dentro dos Estados modernos surgem conflitos, tensões, rupturas em que a ideia de pertença a esse Estado colide com o primado de sermos seres humanos, membros da humanidade: penso sobretudo em certos tipos de discriminação (racismo, xenofobia), nas dificuldades de integração e do exercício da cidadania, na falta de oportunidades profissionais de certos cidadãos estrangeiros ou na imigração (problema muitíssimo complexo). Nesses momentos, o sentimento de orgulho pátrio leva a injustiças, ao desrespeito pelo outro a desigualdades várias. (Claro que a coisa não é ingénua: o patriotismo é uma forma de manter a hegemonia de uma classe, uma etnia e/ou de um religião dentro de um Estado.)

Como vê, a ideia de se ser cidadão da humanidade não é um lugar comum. É uma tomada de posição face ao mundo e aos seus seres: não desvalorizo a ideia de nação nem de pátria, mas afirmo que a ideia de humanidade TEM DE SER mais forte! (E a diversidade cultural não choca que esta questão, que é social e política.)

Por fim, foi bem apanhada a sua referência ao Balsemão. Pois é, alguém que foi o timoneiro do governo do Estado prostitui agora a ideia de pátria.

9:07 da manhã  
Blogger Francisco Montanha Rebello said...

Prezado Alexandre Dias Pinto:
Muito obrigado pelas suas palavras.
Estou de acordo com muito do que diz no seu comentário, mas não com "o patriotismo é uma forma de manter a hegemonia de uma classe, uma etnia e/ou de um religião dentro de um Estado", porque "tudo" serve para isso, quando "todos" deixam.Claro que aceito que "não desvalorizo a ideia de nação nem de pátria, mas afirmo que a ideia de humanidade TEM DE SER mais forte!"
Todos temos que ter uma "família", e o conjunto de famílias faz a pátria (clã?) e o conjunto de pátrias, a humanidade. Não desvalorizemos uns conceitos para realçar outros, quando se interligam e sem uns não há outros. Ninguém vive só ligado à "humanidade" sem, primeiro, pertencer a uma "família" e a uma "pátria". Fazê-lo, recorda-me a fobia que há, actualmente, em se negar a "raça". Existe a "espécie humana" e dentro desta, as "raças", diferenciadas. Tal como nos animais ( e nós somos um). Negar isto só para se ostentar a qualidade de não racista, é ser "racista". "Não racista" é o que, ciente e consciente da existência das diferentes raças, as respeita todas por igual, sem considerar umas abaixo das outras e sem querer demonstrar que e "tão bom, tão nobre e generoso" que até considera os das outras raças (inferiores?)iguais a si mesmo.E o caso deste tão grande e unânime entusiasmo por Barack Obama. Não há dúvida que o homem é especial, e veremos o que conseguirá fazer, mas, se não fosse negro, estaria tão incensado? ou tantos querem mostrar que o o consideram muito, muito, muito bom, superior a tudo, apesar de.....???
Falsinhos, falsinhos, não é?

12:07 da manhã  

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