Ich bin ein Libanese: contra a inevitabilidade dos danos colaterais
Dois pontos iniciais a esclarecer: sou absolutamente contra o terrorismo (feito por particulares ou por Estados) e sou absolutamente contra qualquer agressão a Israel (ou contra qualquer Estado) venha ela em que termos venha. No entanto, vejo como atroz e condenável a destruição do Líbano e a morte de centenas de libaneses que Israel está a empreender.
O Hezzbolah é um movimento criminoso e terrorista. Mas o Líbano não pode ser identificado com o Hezzbolah; e nem todos os libaneses são membros do movimento. Só um ingénuo acredita que os ataques israelitas, que arrasam o país e matam cidadãos a eito, são cirúrgicos e selectivos. Os chamados danos colaterais são imensamente superiores aos alvos abatidos. Deste modo, tanto são actos terroristas os mísseis disparados pelo Hezzbolah sobre Israel, como a ofensiva indiscriminada e em massa que o Estado israelita desencadeou em território libanês.
É inevitável recordarmos nesta ocasião aquele episódio do Antigo Testamento, livro Sagrado dos Judeus, em que Abraão pergunta a Deus se Este pouparia a cidade de Sodoma se dez justos aí encontrasse. Beirute não é Sodoma; os justos são muitos mais que dez e o direito à vida (noção que não está no Antigo Testamento nem na política externa israelita) pertence a todos os seres humanos. O que vale, pois, para Israel a vida de um libanês?
A destruição massiva do Líbano assenta no conceito de Realpolitik, isto é, a ideia de que a política tem de ser conduzida com base no pragmatismo e numa abordagem maquiavélica dos problemas (os fins justificam o uso de todos os meios). Os princípios éticos, os valores humanistas e os direitos humanos são liminarmente ignorados pela maioria dos Estados ocidentais (ditos Estados de direito) e pelos seus aliados sempre que outros “valores mais altos se alevantam”.
(Pintura de John Martin, Sodoma e Gomorra (1852?).
10 Comments:
"Ich bin ein Libanese"!
há - infelizmente - cada vez mais momentos em que sinto vergonha de pertencer à espécie humana.
obrigada pelo teu post.
[]
Alexandre Dias Pinto,
...é a verdade nua e crua de facto.
E José Rodrigues Santos dizia ontem que já existe a ideia que isto é uma guerra entre o Irão e a Síria (onde o Líbano só está a levar por tabela) e, entre Israel e os EUA...dá que pensar...
sobre este assunto a ler tambem aqui:
http://o-microbioii.blogspot.com/
Entre a tenaz do Hezbollah, Síria e Israel: Líbano, no meio de uma guerra indesejada...
(Quarta-feira, Julho 26, 2006)
ps- obrigada lá pela visita e comentário :-)
Tambem gostei de aqui vir e por acaso, já conhecia doutro qq blog, o seu logotipo...
Já tardava esta tomada de posição.
Um tablóide inglês -- de que perdi a referência, infelizmente -- publicava recentemente na capa a manchete: "Who supports this war?" Debaixo colocava as bandeiras dos países a favor e contra, segundo as primeiras declarações dos seus líderes. A favor, 3 bandeiras, incluindo obviamente a de Israel e dos EUA. Contra, todos os restantes.
Esta é a tempestade que colhemos, por não resistirmos aos ventos do belicismo chauvinista que os media americanos despejam continuamente sobre o resto do mundo (matéria que já foi debatida aqui no blogue; v. 24 horas de ideologia americana [http://toneldiogenes.blogspot.com/2006/07/24-horas-de-ideologia-americana.html]).
Não contesto por um momento o direito à autodefesa de Israel. Mas não incluo nesse direito a legitimidade da agressão às nações vizinhas. A análise geo-estratégica da presente situação ultrapassa uma verdade básica e essencial, reconhecida pelas Nações Unidas, que Israel só reconhece quando lhe dá jeito, e que é o direito de todos os povos à auto-determinação. Quantas nações valem um, dois ou mil soldados israelitas?
Miguel A.
PS: sugiro que a reflexão sobre esta questão seja acompanhada pelas imagens da última guerra que houve no Líbano, país dos fenícios, um dos berços da civilização (podem ver-se, entre outras, as existentes em www.cedarland.org).
Talvez devesse acrescentar que uma nação, não são os seus líderes ou organizações, mas essa realidade comezinha da vida das suas gentes, o seu povo, em suma.
Só para não perder de vista algumas verdades essenciais, que as neblinas retóricas tendem a obscurecer...
Se fizermos as contas, veremos quantos dos mortos do Líbano, muitos deles crianças, são de facto guerrilheiros do Hezbollah. Enquanto discutirmos o assunto nesses termos, estaremos, voluntária ou involutariamente, ao lado dos agressores. Esta não é uma guerra entre Israel e o Hezbollah, mas sim uma agressão unilateral perpretada por uma potência militar contra um povo indefeso...
Miguel A.
A propósito, uma tentativa (necessária?) de (re-)formulação dos princípios duma esquerda moderada:
The Euston Manifesto
1) Democracy.
2) No apology for tyranny.
3) Human rights for all.
4) Equality.
5) Development for freedom.
6) Opposing anti-Americanism.
7) For a two-state solution.
8) Against racism.
9) United against terror.
10) A new internationalism.
11) A critical openness.
12) Historical truth.
13) Freedom of ideas.
14) Open source.
15) A precious heritage.
NB: Embora esteja de acordo com quase todas as ideias, acho que a formulação do 6.º princípio desculpa excessivamente os malefícios da ideologia imperial americana, acusando uma relação evidente entre o documento e algum Labour inglês.
Miguel A.
Não conhecia este Euston Manifesto. Eu concordo com todos os pontos (até com o 6º! - ser-se sistematicamente anti-americano é sinal de miopia). Claro que alguns são demasiado idealistas ou ingénuos: "Historical truth"?
Muito interessantes as fotos do Cedar Land. Muito mesmo. A história reprete-se sob outra configuração.
Quanto à questão que levantas do número de baixas do Hezbollah (escrevi o nome do movimento como o vi em duas enciclopédias online, mas a forma de transcrição que adoptas parece-me mais fiel), parece que se reduz a 28 face a 400 libaneses non-Hezbollah.
O problema é mesmo este "outros valores se alevantam" e de que maneira!! Esta História parece não ter fim... uma verdadeira muralha de lamentações na História humana!!!
H.
Concordo com o teu post. Mas não sei bem se o Hezbollah é um "movimento" e até que ponto pode ser juridicamente considerado "terrorista". É radical, condensa parte do ódio dos fundamentalistas entre os xiitas (mas que msão eles?), e como tal deve usar meios merecedores de sanção por uma organização internacional independente (digamos, a ONU). No entanto, segundo li, o Hezbollah está "verticalmente integrado no poder" libanês´; não sei bem o que isso significa. Todavia, a minha fonte, de um livro ainda não editado que talvez não deva revelar, diz-me que, enquanto tal, e dependendo do ponto de vista e dos interesses das partes, tanto pode ser considerado um parceiro político/negocial (mais ou menos) legítimo como grupo terrorista. Mas não se pode meter,por exemplo, diz-me a tal fonte, no mesmo saco da Al-Qaeda.
O povo libanês também tem a minha solidariedade, mas neste momento só posso dar graças a Alá por não ser uma, e mais graças a Deus por não ser israelita, embora talvez até me agradasse ser uma judia errante.
Merece a pena, julgo, ver o que diz a Wikipedia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Hezzbolah, apesar do alerta mais que justo: "este artigo está mal traduzido, ou abaixo da qualidade média aceitável"
Afinal o tablóide que referi no início não é bem isso: trata-se do Independent.
A bem da noção...
Miguel A.
a propósito não só deste conflito:
- não sei o que é uma organização terrorista
- não sei o que é a democracia
- não sei o que é a ONU
- não sei o que fazem
- não sei o que não fazem
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