domingo, março 25, 2007

50 anos depois da assinatura do Tratado de Roma, para onde vai a Europa?

"O maior perigo para a Europa é o cansaço", profetizava Husserl, em 1936, em A Crise da humanidade europeia e a filosofia. De facto, se olharmos para as figuras/referências que se sentam hoje, à mesa Europeia, em Berlim, apenas veremos personagens desgastadas e destituídas de qualquer espírito europeu, sem a mais pequena ideia do que deva ser a Europa. Veremos, por exemplo, o fracassado Blair, que bate em retirada, curvado com o peso da derrota militar e política, na sua louca aventura que se chama Iraque. Talvez mais do que essa derrota militar e política, o que torna um velho acossado e medroso é a sua derrota moral, sobretudo depois das declarações e denúncias do Sr. Blix. Poderemos ainda ver, por exemplo, o não menos derrotado Chirac, que, por de trás do de um savoir-faire francês, não consegue ocultar o facto de ser um cadáver político repudiado pelos seus próprios sequazes. Lá estará com certeza, o garboso Sr. Barroso, fotógrafo das Lages, na verdade, o melhor vendedor da ideia de Europa ou de outra coisa qualquer. No pedestal, lá estará a Senhora Ângela, chanceler alemã, democrata-cristã, que tem tanto de cristã como Mahmoud Ahmadinejad. Oriunda da ex-RDA, a Senhora Ângela, apesar de tudo, é a única Chefe de Estado que tem uma ideia de Europa, ideia que, no entanto, custou a tragédia da Bósnia e da Croácia e sabe-se lá ainda o que vai mais custar. De gente anónima, como Zapatero ou Sócrates, nem vale a pena falar. A Europa é constituída por dirigentes politicamente medíocres, sem uma única ideia de Europa capaz e séria na cabeça. A Europa está velha e cansada e é a necessidade que une esta gente. Tal como afirma Viriato Soromenho Marques: "os europeus só seriam capazes de se unir no dia em que tivessem a lucidez de reconhecer o peso da necessidade". Só que esta necessidade, está longe daquela de que falavam Monet e Schuman. Ao contrário daquilo que V.S.M. pensa, esta necessidade não tem um sentido épico, mas sim um sentido trágico, sem glória, ou seja, trata-se de uma necessidade de sobreviver perante o acantonamento a que se encontra votada. A ideia de Europa que passa naquelas ufanas cabeças é uma mescla de necessidade desesperada, inveja e medo. Medo de uma globalização cada vez mais feroz e de uma anti-globalização crescente, também não menos feroz, e cujo remédio adoptado parece ser o neoliberalismo, com efeitos secundários mortais para o doente. Inveja do império norte-americano, do seu modo de vida, da sua força militar (como transparece, sem querer, o ex-primeiro-ministro francês, o neoliberal, J. Rifkin, no seu livro que tem, por acaso, um sugestivo título: O sonho Europeu. Como a visão europeia do futuro vem eclipsando o Sonho Americano). De uma União Europeia assente na necessidade deseperada de sobrevivência, no medo e na inveja, não pode resultar nada de bom.

Em suma: 50 anos depois do Tratado de Roma, a Europa precisa de desembaraçar-se deste espírito mesquinho e tacanho e encontrar uma política alternativa ao neoliberalismo e imperialismo.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A Europa está velha, anafada e, como é próprio dum burguês de meia idade, tem medo dos outros (mesmo daqueles que lhe prestam os serviços sem os quais não conseguiria viver).

É preciso um largo movimento de recentramento da ideia de Europa na cidadania, na verdadeira participação política, na renúncia aos atavismos do Ocidente desenvolvido. Nada disso é simples, nada disso é fácil, mas é tudo o que tem que ser feito...

Miguel A.

12:17 da tarde  

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