OS LATIDOS DE DIÓGENES ( 1º )
Neste simposial blogue chegou a minha vez de libar ao Patrono, com vénia ao Xor Z que já aqui lhe fez as devidas honras no dia 21 de Junho do ano passado.
O cão era filho de banqueiro, e seguia lampeiro no rasto do pai. Falsificou moeda e foi condenado ao exílio da cidade natal. Veio para Atenas e o nosso já conhecido Antístenes queria afugentá-lo com o pau seleccionador de discípulos; o outro, descobrindo a cabeça: - “Bate à vontade, mas não deixes de falar!” Reconhecia o bom quilate do metal duma voz magistral e ganhou em alterar-se a si mais do que às moedas. Por sua vez, diria depois de si próprio, Diógenes:
“Apátrida, sem cidade nem casa,
Mendigo e vagamundo, vivendo do dia a dia…”
Portanto, herdou o ceptro de ouro do mestre e o esburacado manto; e o filho do banqueiro veio a dizer que a cobiça do dinheiro era o quartel de todos os males. Apontando o pórtico de Zeus e o Pompeion dizia que os atenienses o tinham construído para ele, Diógenes, uma vez que podia comer, beber e dormir à sombra deles. Preferia assim o pórtico, quem dizia viver como Héracles e pôr a liberdade acima de tudo. Mais tarde, preferiu abrigar-se num tonel, à beira do templo de Cibele-Reia, a “Mãe dos Deuses”, onde o macedónio Alexandre o visitou. Este queria beber do fino e encontrou um molosso espojado ao sol…
- Eu sou Alexandre, o rei!
- Eu sou Diógenes, o cão…
- Julgava que eras um filósofo…
- Então somos dois reis.
- Mas de que te serve a filosofia se vives pobre, à sombra dum tonel?
- Serve-me para viver muito bem com muito pouco.
- Eu não sou feito para a filosofia…
- Então por que vives, se não procuras viver bem?
- Gosto de sair vitorioso dos exércitos.
- E eu de sair vencedor do homem.
Alexandre, o Magno, ainda estava de pé, projectando a magna sombra em Diógenes semi-deitado. E o rei saiu-se com a velha pergunta: - Pede-me o que quiseres, que eu to darei já.
A tradição fixou a célebre resposta: - Não me tires a luz!
À frente da lanterna de Diógenes, Alexandre não perdeu de todo o lúzio e saiu-se com razão: - Não sou eu que te faço sombra!
Saiu o macedónio para ir até às margens do Indo e descer o Ganges com uns “gimnosofistas” que, segundo alguns eruditos, viriam a popularizar na Hélade o giróvago modo de vida duma gente que séculos mais tarde incomodava um césar chamado Juliano… Saiamos nós também, até ao próximo postal, pensando se o “sair vencedor do homem” nos levará até às margens do lago Sils a ouvir nas altas montanhas da Engadine o contemptor eco do “humano, demasiado humano”…
Talvez lá vamos qualquer dia.
O cão era filho de banqueiro, e seguia lampeiro no rasto do pai. Falsificou moeda e foi condenado ao exílio da cidade natal. Veio para Atenas e o nosso já conhecido Antístenes queria afugentá-lo com o pau seleccionador de discípulos; o outro, descobrindo a cabeça: - “Bate à vontade, mas não deixes de falar!” Reconhecia o bom quilate do metal duma voz magistral e ganhou em alterar-se a si mais do que às moedas. Por sua vez, diria depois de si próprio, Diógenes:
“Apátrida, sem cidade nem casa,
Mendigo e vagamundo, vivendo do dia a dia…”
Portanto, herdou o ceptro de ouro do mestre e o esburacado manto; e o filho do banqueiro veio a dizer que a cobiça do dinheiro era o quartel de todos os males. Apontando o pórtico de Zeus e o Pompeion dizia que os atenienses o tinham construído para ele, Diógenes, uma vez que podia comer, beber e dormir à sombra deles. Preferia assim o pórtico, quem dizia viver como Héracles e pôr a liberdade acima de tudo. Mais tarde, preferiu abrigar-se num tonel, à beira do templo de Cibele-Reia, a “Mãe dos Deuses”, onde o macedónio Alexandre o visitou. Este queria beber do fino e encontrou um molosso espojado ao sol…
- Eu sou Alexandre, o rei!
- Eu sou Diógenes, o cão…
- Julgava que eras um filósofo…
- Então somos dois reis.
- Mas de que te serve a filosofia se vives pobre, à sombra dum tonel?
- Serve-me para viver muito bem com muito pouco.
- Eu não sou feito para a filosofia…
- Então por que vives, se não procuras viver bem?
- Gosto de sair vitorioso dos exércitos.
- E eu de sair vencedor do homem.
Alexandre, o Magno, ainda estava de pé, projectando a magna sombra em Diógenes semi-deitado. E o rei saiu-se com a velha pergunta: - Pede-me o que quiseres, que eu to darei já.
A tradição fixou a célebre resposta: - Não me tires a luz!
À frente da lanterna de Diógenes, Alexandre não perdeu de todo o lúzio e saiu-se com razão: - Não sou eu que te faço sombra!
Saiu o macedónio para ir até às margens do Indo e descer o Ganges com uns “gimnosofistas” que, segundo alguns eruditos, viriam a popularizar na Hélade o giróvago modo de vida duma gente que séculos mais tarde incomodava um césar chamado Juliano… Saiamos nós também, até ao próximo postal, pensando se o “sair vencedor do homem” nos levará até às margens do lago Sils a ouvir nas altas montanhas da Engadine o contemptor eco do “humano, demasiado humano”…
Talvez lá vamos qualquer dia.
3 Comments:
Gostei muito desta sua apresentação do nosso patrono, o da Barrica. Já não me lembro bem do que disse em Junho e estou com preguiça de ir lá ver. O que posso assegurar, se é que não terá, ainda por cima, algum lapso, é que nem de longe se compara ao seu. E o último parágrafo...
Não quero com isto inaugurar aqui o jogo do elogio mútuo entre barriquenhos, todos sabem que sou mais avesso a criticar que a elogiar, mas o que é verdade...
Este comentário foi removido pelo autor.
Meu caro Xor Z:
Espero continue a apreciar os que vêm a seguir.
Sem eu o querer ou procurar, talvez lá mais para diante venham uns destemperados e muito a contra-sabor do palato dos convivas habituais deste blogue. Mas, então, se for o caso e o vinho vier a ferver neste Tonel, não me poupe a capitosas e contundentes críticas
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