"Açor, serra da Lousã, 25 de Outubro de 1942"
«Aqui estou, no alto desta serra ondulada, sentado, a contemplar um largo horizonte, enquanto a cão abana o rabo, um tanto perplexo dum descanso com perdizes à vista. (…) Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. (…) falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno.»
Miguel Torga, Diário, vol. II.
Miguel Torga, Diário, vol. II.
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