domingo, fevereiro 15, 2009

Da poesia neoclássica portuguesa (II)

Não resisto a deixar um soneto conhecido, pleno de humor, do árcade Nicolau Tolentino. Lembra-nos que a parolada das modas no vestir não é apenas fenómeno dos nossos dias.

Em curto josezinho rebuçado,
Loiro peralta a rua passeava;
Seus votos pela adufa lhe aceitava
Com brando riso um rosto delicado;

O pai da moça, que era ginja honrado,
E o caso havia dias espreitava,
De membrudo caixeiro se escoltava,
Com bengala na mão, chambre traçado:

Fugira o moço, qual ligeira pela,
Se as fivelas, de marca agigantada,
Deixassem navegar a nau à vela;

Mas viu uma entre esquinas encalhada;
E, se ninguém comprou maior fivela,
Também ninguém levou maior maçada.